“Entre o seu livre
funcionamento criador e as exigentes pulsões de fisicalidade e de emoção, para
uma montagem de necessária especificidade na gramática cênica: visualizando o
apelo reflexivo ao fazer dançar a escuta sonoro/musical da palavra poética.
Ao permitir esta
vertente,como obra aberta, o comando diretorial (Renato Vieira) e artístico(na
dúplice realização, com Bruno Cezario) desafia os possíveis riscos com senso
crítico e energia artesanal em BLUE.
Neste seu outro investimento artístico no conceitual
literário/coreográfico, contraponto estético sempre relevado com a Renato
Vieira Cia de Dança, pelo descortino de novas linguagens para a dança
contemporânea brasileira .”
(Em crítica autoral no blog www.escriturascenicas.com.br ,de 20/05/2017).
(Em crítica autoral no blog www.escriturascenicas.com.br ,de 20/05/2017).
Desde que estreou, em sua primeira temporada no Teatro Sesc/Ginástico, Blue-Bonjour
Tristesse , da Renato Vieira
Cia de Dança, representou mais
uma corajosa iniciativa artística para tempos
de pesadelo e caos que vilipendiam nossas crenças democráticas de Nação e
Cidadania.
E que, sequencialmente, contaminaram o universo da criação
brasileira, não só pelo discriminatório corte de patrocínios, fomentos e
editais mas, ainda, com a eclosão de uma medieva e fundamentalista onda de avassalador conservadorismo contra as
manifestações plástico/visuais.
Especialmente aquelas ligadas à livre expressão da corporeidade , das exposições às performances em galerias e museus . Com o risco, cada vez mais iminente, de alcançar nossos palcos teatrais e coreográficos.
Especialmente aquelas ligadas à livre expressão da corporeidade , das exposições às performances em galerias e museus . Com o risco, cada vez mais iminente, de alcançar nossos palcos teatrais e coreográficos.
Assim, sem
deixar que qualquer “brecha”, como "aquela" vergonha de caráter oficialesco, o faça, outra vez, em causa espúria, recorramos
à autenticidade titular brechtiana, na
sua lição poético/política para o
enfrentamento de eras de regressão, dúvida e sombras :
“O homem, meu general, é muito útil/Sabe voar e sabe matar/Mas tem um defeito/Sabe pensar”.
“O homem, meu general, é muito útil/Sabe voar e sabe matar/Mas tem um defeito/Sabe pensar”.
Na certeza de que BLUE
tornou-se um espetáculo obrigatório esteticamente, na entrega ao desempenho por um enérgico
elenco masculino de 8 bailarinos (Bruno Cezario/Dinis Zanotto/ Elton
Sacramento/Felipe Padilha/Flávio Arco-Verde/João da Matta/João Mandarino/Marlon
Ailton)sintonizando,com sangue, suor e alma, sua performance, sob os acordes
incisivos da trilha de Felipe Storino e das luzes pontuais de Binho Schaefer.
Ou quando traz de volta ao proscênio, depois de trinta anos, um dos lídimos guardiões da dança
contemporânea brasileira – Renato Vieira -
que, no epílogo desta performance, foi responsável por uma das mais
viscerais posturas cenográficas contra a censura às artes, num instante feroz e
exemplar em nome do coletivo coreográfico.
Que ele, Renato Vieira, reflexiona, aqui, em tom confessional , na sinceridade de sua mágoa mas com o olhar armado no desafio de vencer:
“BLUE foi gerado
no impacto desse novo mundo que aí está, tão conservador, tão violento, tão
insensível às necessidades humanas. Acho que esse é o denominador comum para
todos os artistas e equipe desse espetáculo. Estamos em cena dançando nossa indignação, porque nos sentimos brutalizados, discriminados e cerceados em
nossa liberdade de expressão.
Criar esse espetáculo foi o que me permitiu sobreviver emocionalmente esse ano. Podem não me pagar o fomento que ganhei. Podem não
abrir novos editais. Podem não dar condições de trabalho. Mas não podem tirar
minha liberdade de criar”, completa Renato Vieira.
Wagner Corrêa de Araújo
RENATO VIEIRA CIA DE DANÇA - BLUE/BONJOUR TRISTESSE - está em cartaz no Teatro Gláucio Gil, de sexta a segunda, às 20 h. 60 minutos. Até 03 de dezembro.
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