FOTOS / LEE KYUNG KIM |
A Tragédia de Julio Caesar, no original de Shakespeare, vem inspirando não
só o teatro, mas a música (a ópera de Haendel ) e o cinema, desde a clássica
adaptação de Mankiewicz(1953) a uma incisiva visão contemporânea dos Irmãos
Taviani(2012), César Deve Morrer.
Caesar - Como Construir um Império, a transposição dramatúrgica
de Roberto Alvim, condensa em uma hora e em dois atores( Caco Ciocler e Carmo Dalla
Vechia) os personagens/chaves (Caesar, Brutus, Cassius, Marco Antonio) da peça inicial
da trilogia romana shakespeariana.
Esta concentração
narrativa aumenta o foco sobre o dimensionamento do processo político revelado, exponencialmente, através do discurso verbal.
Com todos os meandros ,posturas e argumentações
que marcam a permanência e a alternância governamental.
Num espetáculo marcado pela proposital aridez, entre a poesia
e o ódio, entre os laços afetivos e a maldade deliberada . Mais pelo
interesse político próprio que pelo bem coletivo,
numa perceptível atemporalidade temática.
Quando a peça foi
escrita (1599) pretendia conscientizar o
público sobre a ameaça de uma temerária guerra civil, no instável final da era elisabetana. Fácil,
assim, estender a sua pesada e mal
resolvida sensação de culpa e de crise
de liderança às atuais circunstâncias brasileiras.
Os códigos de cena retomam uma linha estética, com inventivas
variações, que Roberto Alvim privilegia em seus espetáculos, desde o seu último
Beckett a este seu primeiro Shakespeare .
Luzes de néon entre muitas
sombras delineando perfis, de
plasticidade geométrica, das performances.
Refletidos na solene uniformidade de figurinos negros (João Pimenta) e na emblemática arquitetura cênica em formato de
arena .
Através, ainda, da simbologia de impérios e tiranias, em seu exercício do domínio, nos elementos cênicos - moeda, sangue e morte.
E, especialmente, na singularidade expressiva do score
musical de Vladimir Safatle, numa leitura pianística ao vivo( Mariana Carvalho).
Integrando vozes , acordes e dissonâncias,no lastro de Schoenberg (Pierrot
Lunaire), John Cage, Philip Glass e John Adams, numa quase ópera minimalista.
A irrepreensível interpretação dos atores revela rara
desenvoltura, nos seus inesperados meios
tons e contrastantes nuances. Ora entre sussurros e tomadas de fúria ( Carmo
Dalla Vechia) ,ora na eloquência de altissonante
vocalização ( Caco Ciocler), em filigranada gestualidade e hierático cerimonial.
Um teatro, enfim, de dimensão épica, no seu transcendente teor
reflexivo sobre o maquiavélico jogo político de poder e submissão, além do
tempo, entre governantes e governados, Estados e almas humanas.
CAESAR - COMO CONSTRUIR UM IMPÉRIO ESTÁ EM CARTAZ NO ESPAÇO/SESC/ARENA,COPACABANA, SEXTA,ÀS 20 H 30 M;SÁBADO, ÀS 18 H E ÁS 20 H 30 M; DOMINGO, ÁS 17 H E ÁS 19 H. 60 MINUTOS. ATÉ 06 DE MARÇO.