FOTO BY JANDERSON PIRES |
Opereta foi um diminutivo utilizado, especialmente a partir
do século XIX ,para diferenciar um gênero que apostava na leveza de um divertimento musical sem o requinte e a
solenidade da grande ópera.
Com a predominância de diálogos falados, intercalados entre
as cenas propriamente musicais, valia-se da ingenuidade e do sotaque bem
humorado de suas tramas , com a constância de seus “e foram felizes para sempre”.
A Noiva do Condutor é uma opereta composta, em 1935, por Noel Rosa , para
dar continuidade ao seu projeto radiofônico, com o maestro Arnold Glückmann, de
brincadeiras musicais operísticas , iniciado com “O Barbeiro de Niterói”. E
está de volta, na comemorações dos seus oitenta anos, num mágico tributo artístico/ afetivo ,sob o
comando de Djalma Thürler.
No seu clima de desenganos amorosos, em meio às convenções
sociais e ao moralismo patriarcal dos
anos trinta, narra a paixão , queda e renascimento do namoro de Helena(Izabella
Bicalho) por Joaquim( Marcelo Nogueira) , sob a interferência policialesca e
conservadora do pai da jovem( Rodrigo
Fagundes),em pleno subúrbio carioca.
Na proximidade do alter ego do compositor, o libreto revela , em seu
sotaque confessional, suas costumeiras aventuras sentimentais, entre as mágoas das descobertas do amor, ao lado da caracterização, de irônica crítica, do tempo e
costumes de um Rio nostálgico.
O dinamismo dos ritmos populares da partitura tem seu
equivalente nas divertidas aliterações
verbais das canções,enunciada na surpreendente direção e arranjos musicais de Glória
Calvente. E ressaltada na competência dos instrumentistas Roberto Bahal(
piano),Andrey Cruz(sopros) e Nilton Vilela(percussão).
Outros méritos da montagem estão na adequada sobriedade do
quadro cenográfico(José Dias),na coerência dos figurinos (Carol Lobato) e na discrição
das luzes( Aurélio De Simoni), a serviço de uma maior concentração no gestual( Duda Maia) e na vocalização da trama dramatúrgica.
Sempre na intensificação da performance vocal/cênica de um afinado elenco, capaz de expressar, com vibração emocional e inquietante humor, o repertório musical e o cotidiano existencial de Noel.
Neste momento, em que o
musical brasileiro é vitima da redundância temática de biografias sem saídas inventivas,
vale,assim, ressaltar esta singular
busca por novos códigos estéticos em A Noiva do Condutor.
Pela simplicidade de um espetáculo, em que vozes, intenções , gestos
e música
ressoam num acertado dimensionamento emotivo, sem os equívocos da grande
pretensão, e onde está reflexionada , enfim, a própria
filosofia musical do Poeta da
Vila:
“Ninguém aprende samba no colégio/Sambar é chorar de alegria/é sorrir de nostalgia/dentro da melodia...”