FOTOS /JOÃO CALDAS |
Ainda que a razão comande nossos passos há que se conceder sempre espaço à emoção pois é esta que, entre o prazer ou a dor, vai nos conduzir à catarse pelo sonho e pela descoberta da beleza.
São estes os trâmites morais/jurisdicionais que impulsionam a contextualização dramatúrgica de Os Guardas do Taj, do americano de
ascendência indiana Rajiv Joseph do
qual nossos palcos viram, em tempo recente, outra peça sua - Playground.
Se ambas revelam coincidência de formatação cênica na
prevalente dialetação entre dois personagens, mas com maior acionamento
psicofísico na segunda (sob o comando de Marco Antônio Pamio), a outra
destaca-se por seu primado verbal/filosófico, com dúplice direcionamento – João
Fonseca e Rafael Primot, acumulando o último a sua tradução e adaptação.
Unidos profissionalmente por seu oficio de guardiões do Taj Mahal, um palácio em construção com
finalidade tumular para a esposa de um imperador indiano do século XVII, Humayun(Reynaldo Gianecchini) e Babur(Ricardo Tozzi) confrontam-se, apesar de uma
amizade que vem da infância, em postulações comportamentais conflitando razão e
emoção.
Proibidos de contemplar, frente a frente, o monumento que
policiam e que, além de servir de abrigo ao harém de Shah Jahan, traz implícito
o sacrifício capital de seus 20 mil operários silenciando-os, assim, sobre os segredos de uma construção destinada
a ser um dos pilares de deslumbre do planeta Terra.
Onde, de um lado persiste o estar submisso à ordem para levar a
efeito sua missão, através do obediente e pragmático personagem de R.
Gianecchini (Humayun), enquanto o
outro, no papel de R. Tozzi (Babur), não permite inibir seu direito de questionamento emotivo ainda que por contestativos mecanismos de delírio e de sonho.
A concepção cenográfica (Marco Lima), acrescida de belos
figurinos de época (Fábio Namatame), confere uma rara plasticidade ao
espetáculo, sob estéticos efeitos luminares (Daniela Sanchez) e cativante trilha incidental (Marcelo
Pellegrini).
Apesar da coloquialidade imprimida aos embates
verbais dos personagens, não se consegue, no entanto, evitar o risco de uma reiterativa ida
e volta na progressão dramática, aumentada, sobremaneira, pela extensiva
textura linguística/narrativa.
Mas é o cuidadoso afinco da dúplice direção (Rafael
Primot/Joao Fonseca) que busca preencher
a encenação, a partir deste insistente jogo de verbalização entre os dois
personagens, pelo incisivo confronto psicofísico das performances, sabendo, com autoridade cênica, ligar a palavra excessiva ao gesto e à intencionalidade da
representação.
Se a Ricardo Tozzi, pelas próprias circunstâncias de maior envolvência
de sua personificação, torna-se mais fácil atingir pelo enérgico presencial dramático/gestual
a cumplicidade da platéia, a exigência é grande para o mais discricionário personagem de Reinaldo
Gianecchini.
No hierático postural que força a uma menor espontaneidade de sua representação, ele com unidade
interpretativa e grau de coesão consegue, enfim, explorar com perceptível intensidade, os difíceis
contornos de seu papel.
Wagner Corrêa de Araújo
OS GUARDAS DE TAJ está em cartaz no Teatro XP Investimentos/Jóquei Clube/Gávea, sexta e sábado, às 21h30m;domingo, às 18h. 75 minutos. Até 3 de Junho.