PRÊMIO BOTEQUIM CULTURAL DE TEATRO: VENCEDORES 2017



Mais uma edição do Prêmio Botequim Cultural de Teatro que se encerra, enquanto outra já se inicia. O júri técnico composto por Daniel Belmonte, Gilberto Bartholo, Wagner Correa de Araújo, Zé Helou e Renato Mello selecionou 6 indicados de cada categoria entre mais de 300 espetáculos avaliados em 2017 para que o júri popular pudesse atuar para decidir os vencedores.

Os vencedores receberão a estatueta em bronze criada pelo escultor Edgar Duvivier, representando a figura de Dom Quixote. 
Parabenizamos os vencedores, assim como os demais indicados e agradecemos a forma como mais uma vez nosso prêmio foi acolhido.

DRAMA/COMÉDIA

Melhor Espetáculo
Tom na Fazenda


Melhor Diretor
Rodrigo Portella
Tom na Fazenda

Melhor Autor
Márcia Zanellatto  
Ela

Melhor Ator
Armando Babaioff 
Tom na Fazenda

Melhor Atriz
Maria Luísa Mendonça - 
Um Bonde Chamado Desejo

TEATRO MUSICAL

Melhor Espetáculo
Suassuna – O Auto do Reino do Sol


Melhor Diretor
Luiz Carlos Vasconcellos
Suassuna – O Auto do Reino do Sol

Melhor Autor
Bráulio Tavares
Suassuna – O Auto do Reino do Sol

Melhor Ator
Adrén Alvez
Suassuna – O Auto do Reino do Sol

Melhor Atriz
Juliane Bodini
Dançando no Escuro

TEATRO INFANTO JUVENIL

Melhor Espetáculo
Bituca – Milton Nascimento Para Crianças


Melhor Diretor
Diego Morais - 
Bituca – Milton Nascimento Para Crianças

Melhor Autor
Pedro Henrique Lopes - 
Bituca – Milton Nascimento Para Crianças

Melhor Ator
Marcio Nascimento - 
Casa Caramujo

Melhor Atriz
Aline Carrocino - 
Bituca – Milton Nascimento Para Crianças

ATOR/ATRIZ EM PAPEL COADJUVANTE

Ator em Papel Coadjuvante
Gustavo Vaz - 
Tom na Fazenda

Atriz em Papel Coadjuvante
Kelzy Ecard - 
Tom na Fazenda

CATEGORIAS TÉCNICAS


Melhor Direção Musical
Alfredo Del-Penho, Beto Lemos e Chico César:
Suassuna – O Auto do Reino do Sol

Melhor Figurino
Heloísa Stockler e Kika Lopes :
Suassuna – O Auto do Reino do Sol

Melhor Cenografia
Aurora dos Campos
Tom na Fazenda

Melhor Iluminação
Tomás Ribas - 
Alair e Tom na Fazenda

PRÊMIO ESPECIAL

Amir Haddad

Em comemoração aos 80 anos de vida, pela trajetória artística, criação do grupo de teatro Tá na Rua e pelo seu teatro de resistência.

PRÊMIO DE TEATRO 2017 APTR : INDICADOS


SUASSUNA - O AUTO DO REINO DO SOL: 9 INDICAÇÕES ( FOTO /MARCELO RODOLFO)

Divulgada a lista  dos indicados do ano 2017 ao  PRÊMIO APTR 
(Associação de Produtores de Teatro do Rio de Janeiro).

A comissão julgadora do Prêmio APTR é formada por Bia Radunsky, Daniel Schenker, Lionel Fischer, Luiz Felipe Reis, Macksen Luiz, Maria Siman, Rafael Teixeira, Rodrigo Fonseca, Tânia Brandão e Wagner Correa de Araújo.

PRODUÇÃO
AGOSTO
SUASSUNA – O AUTO DO REINO DO SOL
TOM NA FAZENDA
UBU REI
UM BONDE CHAMADO DESEJO
VAMP, O MUSICAL

ESPETÁCULO
ADEUS, PALHAÇOS MORTOS
HAMLET
LOVE, LOVE, LOVE
SUASSUNA – O AUTO DO REINO DO SOL
TOM NA FAZENDA

ATOR EM PAPEL PROTAGONISTA
ADRÉN ALVES – Suassuna – O Auto do Reino do Sol
ARMANDO BABAIOFF – Tom na Fazenda
ARY FONTOURA – Num Lago Dourado
GUSTAVO VAZ – Tom na Fazenda
RICARDO KOSOVSKI – Tripas

ATRIZ EM PAPEL PROTAGONISTA
ALINE DELUNA – Josephine Baker, A Vênus Negra
DÉBORA FALABELLA – Love, Love, Love
GUIDA VIANNA – Agosto
MONICA MARTELLI – Minha Vida em Marte
PATRÍCIA SELONK – Hamlet
YARA DE NOVAES – Love, Love, Love

ATOR EM PAPEL COADJUVANTE
CLAUDIO MENDES – Agosto
FÁBIO ENRIQUEZ – Suassuna – O Auto do Reino do Sol
MÁRIO BORGES – Doce Pássaro da Juventude
RENATO LUCIANO – Suassuna – O Auto do Reino do Sol
RODRIGO POCIDÔNIO – Adeus, Palhaços Mortos

ATRIZ EM PAPEL COADJUVANTE
CLAUDIA VENTURA – Agosto
HELOÍSA JORGE – O Jornal
KELZY ECARD – Tom na Fazenda
LETÍCIA ISNARD – Agosto
LISA EIRAS – Hamlet

AUTOR
BRÁULIO TAVARES – Suassuna – O Auto do Reino do Sol
GUSTAVO GASPARANI – Zeca Pagodinho – Uma História de Amor ao Samba
LUÍS ALBERTO DE ABREU – Pagliacci
MONICA MARTELLI – Minha Vida em Marte
PEDRO KOSOVSKI – Tripas

TOM NA FAZENDA : 8 INDICAÇÕES/(FOTO/ JOSÉ LIMONGE)

DIREÇÃO
ERIC LENATE – Love, Love, Love
JOSÉ ROBERTO JARDIM – Adeus, Palhaços Mortos
LUIZ CARLOS VASCONCELOS – Suassuna – O Auto do Reino do Sol
PAULO DE MORAES – Hamlet
RODRIGO PORTELLA – Tom na Fazenda

CENOGRAFIA
AURORA DOS CAMPOS – Tom na Fazenda
BIJARI – Adeus, Palhaços Mortos
CARLA BERRI E PAULO DE MORAES – Hamlet
MARCOS ANDRÉ NUNES E MARCELO MARQUES – Guanabara Canibal
SÉRGIO MARIMBA – Monólogo Público

FIGURINO
ANTÔNIO GUEDES – Ubu Rei
JOÃO MARCELINO E CAROL LOBATO – Hamlet
KIKA LOPES E HELOISA STOCKLER – Suassuna – O Auto do Reino do Sol
MARCELO OLINTO – Zeca Pagodinho – Uma História de Amor ao Samba

ILUMINAÇÃO
ADRIANA ORTIZ – Monólogo Público
MANECO QUINDERÉ – Hamlet
PAULO CÉSAR MEDEIROS – O Jornal
RENATO MACHADO – Guanabara Canibal
TOMÁS RIBAS – Tom na Fazenda

MÚSICA
ALFREDO DEL PENHO, BETO LEMOS E CHICO CÉSAR – Suassuna – O Auto do Reino do Sol
FELIPE STORINO – Guanabara Canibal
JOÃO CALLADO – Zeca Pagodinho – Uma História de Amor ao Samba
MARCELO ALONSO NEVES – Dançando no Escuro

CATEGORIA ESPECIAL
ANIELA JORDAN – pela gestão e programação do Centro Cultural João Nogueira – Imperator
IVAN SUGAHARA – pela curadoria da Sede das Cias
RENATO VIEIRA – direção de movimento e coreografias de “Zeca Pagodinho – Uma História de Amor ao Samba”
SERGIO SABOYA – pelo Festival Cena Brasil Internacional
VERÍSSIMO JÚNIOR – pelo trabalho no Teatro da Laje

HOMENAGEM
Amir Haddad

HAMLET: 7 INDICAÇÕES ( FOTO/GABRIEL MONTEIRO)

O HOMEM NO ESPELHO: SOB MUSICALIDADE ESPECULAR


FOTOS/MARCELO CASTELLO BRANCO

Há quase uma década de sua morte, a midiática mitificação de um pop/star continua intacta, não só na lembrança popular como nas retomadas discográficas/cinéticas, como  na permanência no universo dos shows . E sua vida e arte são, ainda, capazes de inspirar incursões coreográficas, performático e musicais como é o caso, na cena carioca, de O Homem no Espelho.

Partindo do mesmo formato que possibilitou , através de “Beatles Num Céu de Diamante”, da dupla Moeller/Botelho, a mais resistente carreira de um musical brasileiro. Claro que, no caso deste “thriller”a la Michael Jackson, com menor pretensão e menor aporte de produção e patrocínio, como um reflexo natural de tempos de crise.

Sem o perfeccionismo da  força temática e musical que estruturou a trilha cenográfica em torno dos Beatles, este Homem no Espelho, com a mesma titularidade de uma das faixas do álbum Bad, teve roteirização e direção musical de Jules Vandystadt, sob o comando diretorial de Kika Freire.


Contando com um pequeno mas apurado naipe de cantores/atores que atuam, em clima de absoluta entrega, inclusive em incidências instrumentais,  na sua formação quase banda  pop/rock, no quinteto integrado por Jules Vandystadt, Evelyn Castro, Gottsha, Ester Freitas e Raphael Rossatto.

A minimalista concepção cenográfica(Teca Fichinski)possibilita uma dúplice funcionalidade, ora no uso da frontalidade de painéis metálicos, de remissão especular/imagética à nominação do espetáculo, ora em ocasionais manipulações percussivas pelos performers. Incluído aí o afinado grupo meramente instrumental (Heberth Souza, Matias Corrêa, Naife Simões, Thais Ferreira).

A identificação uniforme, tanto  na tessitura mais acinzentada da indumentária (outra vez, Teca Fichinski) como no sombreamento da ambientação cênica, é acentuada pelo rigorismo do desenho de luz(Paulo Cesar Medeiros). Ajudando na materialização do imaginário videográfico de M. Jackson em momentos clássicos como Thriller e, também, através do meio branqueamento da  mascaração(Uirandê de Holanda). 

Mas, por vezes, clamando por uma plasticidade mais clarificada em determinadas citações composicionais de apelo luminoso/humanístico como Real The World. E por um arrojo maior no gestual coreográfico referencial a um precursor/mistificador de uma estilização hip hop/pop no inventário das danças urbanas.

A performance de um elenco de qualificação atende às exigências de um teatro musical quanto ao domínio da representação emotiva unificada , entre a vocalização e a fisicalidade. Onde a conhecida competência de Gottsha, encontra interpretes à altura nos solos de Evelyn Castro e Esther Freitas. Sem deixar de mencionar um consistente cantor, ator e instrumentista Raphael Rossatto, muito à vontade em Billy Jean.

E um convicto artesão musical -Jules Vanystadt - assumindo, com a mesma intensidade de cantante teatral, seu inventivo aporte nos arranjos(culminante nas inserções de acordes e citações nativistas  em Don’t Stop Til You Get Enough) e na criteriosa seleção antológica para concisos setenta minutos de tributo ao extenso legado artístico de um encantador mor de gente dos oito aos oitenta.

                                        Wagner Corrêa de Araújo


O HOMEM NO ESPELHO está em cartaz no Teatro das Artes/Shopping da Gávea, segunda a quarta, às 21h. 70 minutos. Até 31 de janeiro.

“(nome do espetáculo)”: O ACERTO DE UM METAMUSICAL

           
FOTOS/MANOELA HASHIMOTO

Com seu referencial entre o teatro de bastidores e o metateatro de Pirandello,  “(nome do espetáculo)”, na dupla autoria dos americanos Jeff Bowen(música) e Hunter Bell(libreto), surpreendeu o público e a critica com a originalidade, a despretensão funcional e a pulsão inventiva que, enfim, eles imprimiram a este metamusical, ironizado desde sua inteligente ausência de titulação.

Pensado, tematicamente,  como um “espetáculo” que está sendo concebido, em cena  e em tempo real, para ser um “espetáculo”, sua primeira temporada  aconteceu   no circuito off Broadway. Afinal ele tinha, ironicamente,  todos os anti/ingredientes de uma grande produção musical.

Quatro personagens, quatro cadeiras com formatos e cores diversas, luzes vazadas e meramente ambientais, a cenografia minimalista de um gabinete/escritório, figurinos cotidianos e um tecladista solo, responsabilizando-se pela execução, ao vivo, do score sonoro.

E a textualidade original, singularizada pelo construtivismo criador de uma ideia,  a ser desenvolvida como uma concepção dramatúrgica destinada a concorrer a um festival de teatro/musical.

Onde tudo tem uma base verista na reunião de uma equipe de sete integrantes(quatro atores, a dupla autoral e um músico) que se apresentaram, enfim, estreando em 2004, no New York Musical Theater Festival.

Possibilitando, no seu processo de elaboração dialética, o desafio teórico e a discussão cotidiana, como um tríptico autoral/atoral/vocal, de prevalente tom humorado , no contraponto crítico/performático/musical entre seus quatro intérpretes/mentores.

A esmerada versão alcançada pelo esforço coletivo da tradução de Luísa Viana, da contribuição de seu quarteto idealizador, fez-se com a mesma nominação dos personagens originais - Jeff(Caio Scott),Hunter(Junio Duarte) e Susan(Carol Berres).Tendo ainda, nesta arquitetura estetizante, o precioso  olhar armado diretorial de Tauã Delmiro.

Sem esquecer da participação da quarta personagem Heidi(Ingrid Klug) e do pianista e diretor musical Gustavo Tibi, dando um show de competência instrumental e de artesania, tanto nos arranjos do repertorio composicional como no acompanhamento solista do quator  vocal.

Concorrendo ainda para o aprimoramento  da empreitada , a previsibilidade funcional da solução cenográfica (Cris de Lamare), a praticidade da indumentária dia-a-dia  (Tauã Delmiro) e a singularidade intervencionista do desenho de luz(Paulo Cesar Medeiros).

O desempenho dos atores tem seu destaque na sintonização deles no embate proposital, em clima de espontaneidade , improvisação e ensaio, nas falas e nas letras das canções sobre a exploração dos bastidores  de um musical.

Com boas caracterizações da dupla masculina nas  dialetações sobre as exigências(Junio Duarte) ou as concessões( Caio Scot) do gênero.As inquietações corriqueiras na envolvente verve cômica de Ingrid Klug ou o revelador alcance de voz e gestualidade de Carol Berres.

E materializado na ágil marcação das situações temporais da trama substituindo as referencias originais por observações locais, risíveis e certeiras, sobre a problemática da contemporaneidade artística carioca.

O que possibilita , assim, brincar reflexivamente , com as afetações e os recalques que estão por trás  da produção, da crítica e da cumplicidade do público neste nome do espetáculo” metaforizado como teatro musical.

                                         Wagner Corrêa de Araújo



"(nome do espetáculo)" está em cartaz no Centro Cultural Justiça Federal, Cinelândia, sexta a domingo, às 19h.90 minutos. Até 4 de fevereiro.

BIBI, UMA VIDA EM MUSICAL: TRAJETÓRIA ESTELAR SEM CREPÚSCULO


FOTOS/GUGA MELGAR

A estrela é mais que um ator encarnando personagens: ela se encarna nelas e elas se encarnam nela”. Conceitual do sociólogo e comunicador Edgar Morin que pode ser um referencial para a trajetória artística e existencial da atriz Bibi Ferreira.

Em suas nove décadas de palco onde apareceu, pela primeira vez, ainda como um bebê, ela é um símbolo da própria história do teatro brasileiro entre dois séculos, incursionando , sempre com brilho invulgar, na diversidade de gêneros e ofícios da representação cênica.

Capaz de ser  tragicômica, melodramática, romântica e brejeira, mas também de assumir papeis de ativismo político e pulsão social, trilhando, assim, alterativas mas sempre singulares passagens pelo universo historicista de nossa dramaturgia.

Entre o ser praticamente a pioneira/intérprete  de alguns ícones do  musical americano nos palcos nacionais, com suas inolvidáveis performances, exorbitando sua potencialidade de dotes múltiplos não só como atriz  mas de cantora e de bailarina, em My Fair Lady, Homem de La Mancha, Alô Dolly!

Além, é claro do marco representativo no protagonismo dramatúrgico insuperável como Piaf , ou com a visceral personificação em Gota D’Água ou Brasileiro, Profissão Esperança.

Enfim, isto e muito mais compõe o auto-retrato desta “Bibi, Uma Vida em Musical”, com roteiro original a quatro mãos  (Artur Xexéu/ Luanna Guimarães), sob o artesanal comando diretorial de Tadeu Aguiar. Embora se possam fazer restrições não só  à reincidência cronológica do musical biográfico à brasileira mas, ainda,  a um certo fastio e resistência ao desafio por uma trama dramatúrgica mais inventiva .

E mais provocante do que a mera simplificação do contínuo recontar destas vidas, tendo como pano de fundo um gênero artístico especifico, ora uma escola de samba , ora um picadeiro circense. Sempre  sob o risco do superficialismo no dimensionamento psicológico  e no aporte reflexivo.

Felizmente,  aqui , o carisma desta partitura biográfica sobre uma grande dama da cultura brasileira , com reflexos além fronteiras, alcança uma montagem cênica sem restrições, no ideário estético do bravo descortino de Tadeu Aguiar e no retorno cúmplice palco/plateia.

Presencial no mix criativo e de identidade  da concepção cênica (Natalia Lana) com o bom gosto indumentário (Ney Madeira /Dani Vidal). Realçado nas variações luminares (Rogério Wiltgen) e enaltecido pela enérgica funcionalidade da envolvência musical(Tony Lucchesi) inspirando um rico gestual coreográfico (Sueli Guerra).

Ecoando, enfim, qual rapsódia e  quase orquestralmente com seu competente ensemble camerista, nas suas incidências entre o autoral (Thereza Tinoco) e a retomada de um acervo composicional antológico.

Se no arcabouço estilístico há o incomodo da insistente temporalidade sequencial, por outro lado há que se ressaltar o perceptível cuidado no registro enunciativo de modos de fala à antiga, tão caros como o teatralismo  comportamental  de época, especialmente no primeiro ato.

Desde o assumir tipificações familiais, entre o pai Procópio Ferreira (Chris Pena),a mãe(Simone Centurione) e a avó(Rosana Pena), caracterizando, simultaneamente,  os liames do teatro popular e do circo na formação da atriz Bibi Ferreira(Amanda Acosta). E, justificando a opção narrativa por um espetáculo de lona e picadeiro, na contação de casos e causos  por um iluminado mistificador mor, na divertida “cerimonialística” de Léo Bahia.

Neste animado desfile de personagens, há os de suporte verista tais como os consortes amorosos da protagonista  (por Leandro de Melo, Carlos Darze e Guilherme Logullo) e os do imaginário personalístico, embora perdendo ponto na previsibilidade de uma cartomante/cigana (Flávia Santana) e da desnecessária reaparição de uma segunda apresentadora em dúplice atuação (Rosana Pena).

Mas é no encontro mágico da Bibi, razão primeira e última, que Amanda Acosta  faz a prevalência de um musical exemplar. Ela, aqui e agora, esta intérprete absolutamente pronta, com garra, máscara, vocalismo, de extensão lírica ao canto popular, no de(a)mais da técnica, esbanjando  emoção, com força titânica para se expandir em cena e arrastar os espectadores  nas surpresas de seus recursos dramáticos de  atriz e cantora.

Que assumindo o arquétipo de uma mítica teatralidade quase centenária (Bibi Ferreira) e sem perspectiva crepuscular, refletindo, outra vez com Morin, “entre as duas personagens fazendo nascer um híbrido participante de uma e de outra, que as envolve na unicidade estelar!"...
                                        
                                             Wagner Corrêa de Araújo



BIBI, UMA VIDA EM MUSICAL está em cartaz no Oi Casa Grande,quinta e sexta, às 20h30m;sábado, às 17 e às 21h; domingo, às 19h. 140 minutos, com intervalo. Até 01 de Abril.

SE MEU APARTAMENTO FALASSE: UM MUSICAL MAL ADOÇADO



FOTOS/LEO AVERSA

Quando Billy Wilder lançou , em 1960, seu filme (The Apartment) sua intenção foi desmascarar, pelo riso burlesco de uma tragicomédia romântica, o sexismo machista da sociedade capitalista americana.

Que em tempos, então promissores, de enfrentamento do conservadorismo moral e do domínio patriarcal, provocou o desnudamento  da ascensão libertária  do papel feminino ao mostrar o inverso , em irônico contraponto crítico, com mulheres livres apenas para serem usadas como objeto sexual. 
 
Disfarçado na postura, entre uma falsa ingenuidade e o lado interesseiro , de um executivo inferior que empresta o próprio apartamento às suas chefias para encontros, meramente eróticos,  com funcionárias subalternas, tais como secretárias , recepcionistas e garçonetes.

No início dos anos 60, que traziam ares de renovação,   a trama fílmica, na sua aparência de  bem humorada abordagem social dos embates entre o masculino e o feminino, na verdade denunciava, neste risível retrato de  bastidores, os podres poderes da pequena burguesia empresarial .

O sucesso de público, o aplauso da crítica e as grandes premiações do filme, estrelado por Jack Lemon e Shirley MacLaine , acabaram conduzindo a uma versão musical, oito anos depois, pela dupla Burt Bacharach/Hal David, ali então com o título de Promises, Promises, lançando pelo menos três hits nas paradas, com roteiro original de Neil Simon.

Tendo já chegado aos palcos brasileiros com a mesma nominação do musical e na adoção de Se Meu Apartamento Falasse na versão,  agora de volta,  a quatro mãos por Charles Moeller e Claudio Botelho. Protagonizado por Marcelo Médici como Chuck Baxter, o contador da empresa e o dono das chaves para os encontros sexuais das funcionárias de pequeno escalão com o poderoso chefão (Marcos Pasquim).

Incluída a garçonete Fran (Malu Rodrigues), para frustração de Baxter(Médici) que por ela é, enfim, apaixonado. Intervindo,ainda, outras personagens envolventes como a bêbada ou a descompensada enfermeira Marge(Maria Clara Gueiros). Com presencial destacado ainda para o papel do médico Dr. Dreyfuss (André Dias),além das episódicas mas qualitativas aparições  de Patrick Amstalden , Karen Junqueira e Jullie.

Aí começam os irregulares temperos de um primeiro elenco que só tem real e enérgica  força musical/vocal na personificação de Malu Rodrigues, em ótimos solos como – I Say a Little Prayer For You, ao lado do naipe feminino, e I’ll Never Fall in Love Again. Mas, visivelmente prejudicada na desproporção de contracenas dela , como cantora/atriz, com a ausência deste atributo vocal em Marcelo Medici e , mais ainda, com Marcos Pasquim.

Salvando-se o primeiro pela adequação absoluta ao tempo de comicidade e convencimento carismático em sua performance. O que é também nitidamente perceptível em Maria Clara Gueiros que , em seu episódico momento de representação, conquista, de imediato, a cumplicidade da plateia.

O recato clean da  concepção cenográfica (Rogério Falcão) não compromete mas não entusiasma, mesmo com a participação de uma indumentária(Marcelo Marques) de época, de fidelidade bem  aproximativa, na ambiência do cuidadoso  desenho de luz (Paulo Cesar Medeiros), de alcance  uniforme mas quase apenas vazado (Paulo Cesar Medeiros).

O aporte coreográfico(Alonso de Barros) é breve mas não indo além do correto. Existindo brilho e competência nos arranjos e conduta musical de um octeto instrumental por Marcelo Castro.

Mas no contexto cênico só tem maior envolvência os temas clássicos de Bacharach tanto nas "récitas" vocais de Malu Rodrigues, como nos conjuntos femininos ou no quarteto masculino(Antonio Fragoso, Fernando Caruso,Renato Rabello e Ruben Gabira).

Tanto em retomadas como a de Londres(1996), as da Broadway em 2010 e , mais recentemente, no início de 2017, o retorno opinativo não repetiu mais a unanimidade elogiosa de  sua estreia, há quase meio século.

Diante de avaliações lá de cima, como “a temperatura da noite não passou do morno”(Ben Brantley/New York Times/2010),"claptrap sexista” e “releitura descartável” (Paul Taylor/GMT/London/2017),enquanto,  no hemisfério sul, nestas bandas de cá, a presente remontagem também reflete tais ecos, inclusive na maioria da avaliação crítica, até agora enunciada.

E, aí, para esquecer do não se identificar de verdade, dá uma vontade de fechar os olhos, viajar pelos espaços siderais da mente para pousar na órbita do ano  2002,  revivendo, afinal,  o sonho poético/musical do que foi a versão Moeller / Botelho em formato de concerto cênico.

Numa muito bem adoçada fórmula pocket que fez , na simplicidade funcional daquele Cristal Bacharach, aí sim, com muito açúcar e afeto, um memorável espetáculo musical/tributo .

                                            Wagner Corrêa de Araújo


SE MEU APARTAMENTO FALASSE está em cartaz no Teatro Bradesco/Barra da Tijuca, sexta e sábado, às 21h; domingo às 18h. 150 minutos. Até 14 de Janeiro.


6º PRÊMIO BOTEQUIM CULTURAL - SEGUNDO SEMESTRE 2017






O corpo de jurados do 6º Prêmio Botequim Cultural, formado por Gilberto Bartholo, Renato Mello, Wagner Corrêa de Araujo e Zé Helou,  se reuniu na noite do dia 08 de janeiro para escolher os espetáculos, artistas, criadores e técnicos indicados no 2º semestre de 2017 ao Prêmio Botequim Cultural de Teatro.

No dia 15 de janeiro terá início a 2ª e decisiva fase em que os vencedores de cada uma das 22 categorias serão escolhidos através de votação popular.

Os vencedores de cada categoria receberão a estatueta em bronze criada por Edgar Duvivier.

DRAMA/COMÉDIA

Melhor Espetáculo
– Um Bonde Chamado Desejo
– Luis Antonio – Gabriela
– Pagliacci

Melhor Direção
– Kiko Mascarenhas(O Jornal)
– Nelson Baskerville(Luis Antonio – Gabriela)
– Rafael Gomes(Um Bonde Chamado Desejo)

Melhor Autor(Original/Adaptado)
– Julia Spadaccini(Euforia)
– Luís Alberto de Abreu(Pagliacci)
– Otavio Martins(Pressa)

Melhor Ator
– Fernando Sampaio(Pagliacci)
– Michel Blois(Euforia)
– Ricardo Kosovski(Tripas)

Melhor Atriz
– Guida Vianna(Agosto)
– Helena Varvaki(O Princípio de Arquimedes)
– Maria Luiza Mendonça(Um Bonde Chamado Desejo)
.
TEATRO MUSICAL

Melhor Espetáculo
– Dançando do Escuro
– [nome do espetáculo]
– Suassuna – O Auto do Reino do Sol

Melhor Direção
– Dani Barros(Dançando no Escuro)
– Luiz Carlos Vasconcellos(Suassuna – O Auto do Reino do Sol)
– Tauã Delmiro([nome do espetáculo])

Melhor Autor(Original/Adaptado)
– Ana Velloso/Andreia Fernandes(Kid Morengueira)
– Braulio Tavares(Suassuna – O Auto do Reino do Sol)
– Gustavo Gasparani(Zeca Pagodinho)

Melhor Ator
– Adrén Alves(Suassuna – O Auto do Reino do Sol)
– Édio Nunes(Kid Morengueira)
– Junio Duarte([nome do espetáculo])

Melhor Atriz
– Ingrid Klug([nome do espetáculo])
– Juliane Bodini(Dançando no Escuro)
– Rebeca Jamir(Suassuna – O Auto do Reino do Sol)
.
TEATRO INFANTOJUVENIL

Melhor Espetáculo
– Bituca – Milton Nascimento Para Crianças
– João, o Alfaiate
– Makuru – um Musical de Ninar

Melhor Direção
– Álvaro Assad(João, o Alfaiate)
– Diego Morais(Bituca – Milton Nascimento Para Crianças)
– José Mauro Brant(Makuru – Um Musical de Ninar)

Melhor Autor(Original/Adaptado)
– Gabriel Naegele(Sakurá)
– José Mauro Brant(Makuru – Um Musical de Ninar)
– Pedro Henrique Lopes(Bituca – Milton Nascimento Para Crianças)

Melhor Ator
– Alvaro Assad(João, o Alfaiate)
– Márcio Moura(João, o Alfaiate)
– Caio Passos(A História das Histórias)

Melhor Atriz
– Aline Carrocino(Bituca – Milton Nascimento Para Crianças)
– Bebel Ribeiro(Cinderela lá lá lá)
– Ester Elias(Makuru – Um musical de Ninar)
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ATOR/ATRIZ EM PAPEL COADJUVANTE(sem distinção de segmento)

Ator em Papel Coadjuvante
– Erom Cordeiro(Fauna)
– Fernando Paz(Pagliacci)
– Lucas Gouvêa(Dançando no Escuro)

Atriz em Papel Coadjuvante
– Carla Candiotto(Pagliacci)
– Stella Freitas(Esses Fantasmas)
– Suzana Nascimento(Dançando no Escuro)
.
CATEGORIAS TÉCNICAS(sem distinção de segmento)

Direção Musical
– Chico César, Beto Lemos e Alfredo Del Penho(Suassuna – O Auto do Reino do Sol)
– Marcelo Alonso Neves(Dançando no Escuro)
– Tim Rescala(Makuru – Um Musical de Ninar)

Cenografia
– André Cortez(Um Bonde Chamado Desejo)
– Carla Berri e Paulo de Moraes(Hamlet)
– Marcos Felipe e Nelson Baskerville(Luis Antonio – Gabriela)

Figurino
– Camila Murano(Luis Antonio – Gabriela)
– Heloísa Stocker e Kika Lopes(Suassuna – O Auto do Reino do Sol)
– Inês Sakay(Pagliacci)

Iluminação
– Marcos Felipe e Nelson Baskerville(Luis Antonio – Gabriela)
– Paulo Cesar Medeiros(O Jornal)
– Renato Machado(Guanabara Canibal)


PRÊMIO ESPECIAL(Artista ou manifestação relevante ao cenário teatral carioca)

– Andrea Alves e Maria Siman, pela resistência/coragem em tempos atuais em produzir um espetáculo com 11 grandes atores em “Agosto”
-.Camila Amado, pela sua trajetória de décadas como atriz e preparadora de atores
– Companhia Atores de Laura, pelos 25 anos de trajetória




TUBARÕES: INVENTÁRIO MEMORIAL EM PAISAGEM MARÍTIMA


FOTOS/RODRIGO TURAZZI/CAMILA KOSCHDOSKI

Parte significativa da obra ficcional de Marguerite Duras, que ela titulou  de Ciclo Atlântico, fala da memória geracional de um “mesmo lugar se impondo com ligeiras variações : uma casa, uma paisagem de areia e de mar; lugar às vezes aberto sobre a presença obsessiva do oceano e fechado sobre um espaço coletivo(...) como se apresenta esta residência...”

Tal referencial literário e paisagístico vem a propósito de uma criação dramatúrgica coletiva – Tubarões - guiada por Daniela Pereira, nos relatos existencialistas de seis atores (Alexandre Varella, Alonso Zerbinato, Beatriz Bertu, Bianca Joy Porte, Christian Landi, Cirillo Luna) e no comando diretorial de Michel Blois.

No reencontro de três amigos, aqui acompanhados de seus pares afetivos, numa ambiência doméstica em região praiana vivenciada  vinte anos atrás , numa espécie de acerto de contas com o tempo passado a partir do tempo presente.

O que, mais uma vez, neste protagonismo cênico do tempo, remete ao conceitual da escritura “duraneana” , ora pelo presencial dos flashbacks, ora pelo atemporal retorno existencial, tornando ilimitada a demarcação cronológica , entre o que foi e o que está sendo.

Com uma atualidade absorvente”(ainda, Duras), em que o mar, na simbologia do risco dos tubarões, metaforiza o duelo de sobrevivência pelo resgate de sonhos e paixões, diante da passagem temporal predadora ,  entre o ontem e o hoje.

A partir de Stella, o personagem catalizador deste processo memorialístico/geracional na convicta atuação de  Bianca Joy Porte, há um acompanhamento de enérgica consistência no papel de Alonso Zerbinato como Bernardo, ex jogador de futebol e seu atual consorte .

Seguindo-se numa mesma e luminosa coesão, ora os amigos gays e casados, o biólogo soropositivo Daniel( Cirillo Luna) e o cinéfilo/professor Cícero(Christian Landi) , ora o terceiro casal que junta a ex e antiga paixão de Stella, o empresário  Murilo (Alexandre Varella) à jovem Clarisse ( Beatriz Bertu).

Na correspondência, ainda,  da funcional instalação cenográfica de Sandro Vieira e Antônio Guedes(este, também, como dublê na indumentária) na plasticidade visual/simbólica resultante do minimalista uso de tubos de PVC.

Sugestionando o delineamento de um   muralismo vazio como a saudade do que se tornou lembrança , preenchido apenas por objetos portados pelos atores. E ampliado nas incidências luminares (Tomás Ribas) ou pela sonoridade nostálgica de temas melódicos com prevalência dos anos 80.

Nesta textualidade de potencial  pulsão interativa palco/plateia,  cada espectador  , por uma razão ou por um flash qualquer, há que, certamente, se identificar como cúmplice deste memorialismo coletivo.

Num inventário cenográfico / sensorial, artesanalmente assumido pela organicidade de sua performance e pela cativante provocação direcional de Michel Blois  que ,  assim, fizeram de Tubarões uma das mais gratificantes surpresas autorais e inéditas da última temporada teatral .

                                          Wagner Corrêa de Araújo


TUBARÕES está , de volta ao cartaz, no Teatro Serrador/Cinelândia/RJ, de quinta a sábado, às 19h30m. 80 minutos. Até 27 de Janeiro.


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