OS MELHORES E OS PIORES NOS PALCOS CARIOCAS DE 2024 PELO BLOG PAULISTA ÓPERA E BALLET

 

Rusalka/A. Dvorak. André Heller-Lopes/Concepção Direcional. Ludmilla Bauerfeldt/Protagonista Tïtular. Novembro/2024. Daniel Ebendinger/Foto.


1 - O melhor espetáculo na temporada lírica do Theatro Municipal foi, sem dúvida alguma, Rusalka, de A. Dvorak, não só por ser sua primeira e inédita apresentação no mais tradicional palco de ópera do Rio de Janeiro. Mas, especialmente, pela originalidade na concepção cênico/direcional dada por André Heller-Lopes, fazendo uso da tradição sob um sotaque de contemporaneidade. 

2 - A soprano Ludmilla Bauerfeldt tornou-se uma unanimidade, no sentido contrário ao apregoado por Nelson Rodrigues, tanto no aplauso do público como nos elogios críticos, em performances titulares que a qualificaram como uma autêntica e absoluta prima-donna, tanto em Suor Angelica, de Giacomo Puccini como em Rusalka, na sua convicta entrega dramática e vocal a estes personagens.

3 - No naipe masculino não há como deixar de ressaltar as atuações seguras de dois destaques da nova geração, como as belas tessituras do baritono Vinicius Antique, este no Sargento Belcore do Elixir de Amor, de Gaetano Donizetti, e do tenor Giovanni Tristacci, superlativo no exigente papel do Príncipe em Rusalka.

4 - Destaques cenográficos na ópera ficam com a simplicidade funcional dos cenários e figurinos de Desirée Bastos para o Elixir de Amor e a potencialidade imersiva da concepção de Renato Theobaldo, um dos craques brasileiros neste oficio, para Rusalka.


O Elixir do Amor/G. Donizetti. Desirée Bastos/Concepção Cenográfica. Abril/2024. Daniel Ebendinger/Foto.

5 - A Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal teve uma intensa atuação na temporada 2024, mas ainda precisa atingir um maior perfeccionismo no tratamento de alguns de seus naipes como os sopros que, volta e meia, apresentam instabilidade principalmente nos balés e óperas. Sendo que, nestas ultimas, o alcance do  volume sonoro da OSTM muitas vezes abafa a expressão e a extensão de determinados timbres vocais.

6 - No que concerne à dança clássica, o Balé do Theatro Municipal / RJ apresentou sua melhor releitura através de La Fille Mal Gardée, na versão do coreógrafo uruguaio convidado Ricardo Alfonso, destacando-se pelo sotaque de envolvente teatralidade imprimida, desde a performance romantizada dos personagens a uma bem humorada pantomima.

7 - Enquanto o BTM, no seu empenho ascendente pela retomada de outros momentos de seu repertório clássico na temporada - tais como O Lago dos Cisnes e O Quebra Nozes, mesmo assim, não conseguiu alcançar uma mais completa equivalência qualitativa nestes balés, exigível por sua especial posição de única cia clássica oficial do país.


La Fille Mal Gardée/BTM/RJ. Ricardo Alfonso / Concepção Coregráfica. Agosto/2024. Daniel Ebendinger/Foto.


8 - Quanto aos piores espetáculos coreográficos do ano são vários, impossível citar cada um deles, frutos de uma imatura e apressada elaboração de propostas em busca de pequenos patrocínios. E que, na maioria das vezes, sob raríssimas exceções, falham na sua seleção e se apoiam em equivocados critérios, resultando em espetáculos sempre muito amadores.

9 - Na dança contemporânea as concepções avançadas de dois dos mais importantes nomes da coreografia brasileira atual (Alex Neoral e Renato Vieira) tiveram, outra vez, um caráter de autenticidade em seu  dimensionamento personalista. Respectivamente, no Entre a Pele e a Alma, pela Focus Cia de Dança, inspirada no tríptico de H. Bosch e no Gaveston & Eduardo, pela Renato Vieira Cia de Dança, esta última em bem vindo retorno com obra inédita. Ambos, ultrapassando as expectativas estéticas e coreográficas com ousados experimentos temático-sensoriais.


                                       Wagner Corrêa de Araújo

Entre a Pele e a Alma/ Focus Cia de Dança. Alex Neoral/Concepção Coreográica/Direcional. Junho/2024. Léo Aversa/Foto.

MARTINHO - CORAÇÃO DE REI : APOTEÓTICO TRIBUTO DO TEATRO MUSICAL A UM ÍCONE DO SAMBA

 


Martinho - Coração de Rei - O Musical. Miguel Falabella/Direção Concepcional. Helena Theodoro/Dramaturgia. Janeiro/2025. Erik Almeida/Fotos.


Abrindo a temporada carioca de teatro musical, depois do êxito nos palcos paulistas, chega ao Rio uma exemplar montagem entre os musicais brasileiros de 2024 : Martinho da Vila - Coração de Rei, priorizando um grande elenco negro, de jovens atores a conhecidos nomes e destacando quatro protagonistas titulares.

Em compasso de apoteose carnavalesca pela magia direcional de Miguel Falabella, com assistência e parceria de Iléa Ferraz, a partir de um dúplice ideário no entorno da valoração do legado cultural da afro-brasilidade, sob o artesanal roteiro dramatúrgico de Helena Theodoro e pela exponencial produção de Jô Santana.

Sem seguir à risca a tendência do musical biográfico brasileiro de se ater a uma sequencial cronologia, a textualidade de Helena Theodoro sabe como  se equilibrar bem na conexão de passagens existenciais, do despontar daquela irrestrita vocação musical ou do seu estágio no ofício de sargento do exército, ao definitivo reconhecimento como um dos maiores sambistas do país.

Ora alternando-se entre as canções apresentadas e uma meta narrativa que adiciona personagens espectrais, como o irônico anjo Noel Rosa evadido das plagas celestes, numa personificação diferencial por Dante Paccola. Encarnando aquele precursor musical que morreu extamente no ano anterior, 1937, ao do nascimento de Martinho, estabelecendo, assim, um liame simbólico entre o legado de dois baluartes históricos deste gênero, no bairro de Vila Isabel.


Martinho, Coração de Rei - O Musical. Miguel Falabella/Direção Concepcional. Jô Santana/Produção. Janeiro/2025. Erik Almeida/Fotos. 

Este metafórico dimensionamento dramatúrgico estende-se ao trio atoral (Renée Natan, Celso Luz e Fernando Leite) revezando como intérpretes simultâneos do protagonista mor Alan Rocha, unidos por uma só voz não apenas em registros cantados, mas também no entremeio de uma dialetação verbal abrangendo diferentes momentos da trajetória artística/existencial de Martinho da Vila.

E, indo mais longe nesse dimensionamento estético/musical, a própria dramaturga Helena Theodoro aparece em cena no segundo ato sugestionando um elo afetivo, cênico e performático, com sua oportuna presença física, vocal e musical, entre os integrantes do espetáculo e os espectadores. Incluídas, aqui, algumas citações orais no percurso do musical fazendo alusão nominal ao seu diretor Miguel Falabella. 

Além do convicto elenco de vinte atores-cantores atuando, em funcional  coesão tanto nas partes cantadas e faladas, nada deixa a desejar quanto a sua adequação energizada à envolvente direção de movimentos por Rafael Machado, sempre na cadência ritmada do samba.

E onde os efeitos luminares de Felipe Miranda ressaltam uma cenografia simples mas expressiva (Zezinho e Turibio Santos) que usa, de modo propício, um espaço frontal emoldurando um alegórico conjunto de atores com sua exuberante indumentária, pela maestria de Claudio Tovar. Que, aliada a um detalhado visagismo remete, não só a um design pictórico de elementos plásticos afro-brasileiros, sem deixar de evocar o imaginário brilho de um carro alegórico na passarela do samba.

Tudo ampliando-se no apurado grupo instrumental de sete músicos, sob o comando e arranjos de Josimar Carneiro, em repertório que inclui desde temas antológicos de Martinho, a algumas composições para referenciar personagens, entre outras, a da genitora de Martinho - Pra Mãe Teresa. Ou numa divertida transmutação do Martinho  da Vila sargento, em Jamelão, onde Alan Rocha, desta vez corporifica, ainda no compasso do samba, o celebrado mangueirense.   

Com um magnetismo performático absoluto Alan Rocha demonstra, em todas as suas facetas atorais, uma irreprimível similaridade identitária da voz ao gestual, surpreendendo e impressionando pela autencidade imersiva de sua representação. Do prólogo ritualístico, como um dos míticos Griôs da ancestralidade africana, à típica malemolência vocal no papel do apoteótico ídolo do samba.  

Embora no epílogo haja uma subliminar quebra da fluência dramatúrgica quando tudo se transforma, “devagar, devagarinho”, numa roda de samba, o musical mantém seu apelo carismático palco/plateia ao fazer todos cantarem e dançarem juntos numa eufórica e contagiante celebração. Afinal, como já dizia Dorival Caymmi, “quem não gosta do samba, bom sujeito não é / É ruim da cabeça ou doente do pé”...  

 

                                                   Wagner Corrêa de Araújo

 

Martinho, Coração de Rei - O Musical está em curta temporada no Teatro Riachuelo/Cinelândia, de quinta a sábado, 20h; domingo, às 17h,  até  o dia 23 de fevereiro.

ALDO BALDIN / UMA VIDA PELA MÚSICA : DIFERENCIAL TRIBUTO FÍLMICO A UM DOS MAIORES TENORES BRASILEIROS DE TODOS OS TEMPOS


Aldo Baldin - Uma Vida Pela Música. Um filme documentário de Yves Goulart. Dezembro/2024. Fotogramas/Divulgação.


Aldo Baldin, pela ascendência de imigrantes rurais italianos nasceu em Urussanga, cidade do interior catarinense, tendo uma instantânea carreira que o levou, da provinciana vida na roça, aos maiores palcos mundiais operísticos, com vitoriosa trajetória artística e existencial sob seus breves 49 anos.  

Considerado um dos mais solicitados tenores líricos para o repertório da ópera às grandes obras corais, especialmente barrocas, atuou sob a regência de nomes que incluiam de Karl Richter e Neville Merrimer a Herbert von Karajan, entre muitos outros, deixando um precioso legado, registrado em cerca de cem gravações.

E foi graças a um destes raros e felizes acasos do destino que um conterrâneo seu o cineasta Yves Goulart, radicado em Nova York, ao se deparar com foto da capa de um de seus discos, este com obras de Villa-Lobos, percebeu que era a igreja matriz de Urussanga estampada, em traços gráficos, ao lado de Aldo Baldin.

Incitado pela curiosidade, pois nunca imaginara que um tenor de sua terra natal tinha sido dos maiores do Brasil em termos universais, decidiu realizar uma alentada pesquisa no entorno do cantor lírico.  Sendo este o fator que acabou levando ao tema daquele seu próximo filme titulado, bem a propósito, como  Aldo Baldin - Uma Vida Pela Música. 


Aldo Baldin - Uma Vida Pela Música. Yves Goulart/Direção Concepcional. Aldo Baldin entre a soprano suiça Edith Mathis e o barítono alemão Dietrich Fischer-Dieskau, icônicos intérpretes de A Criação, de  J. Haydn, por Sir Neville Marriner, 1981. Foto/Divulgação.

   

O que, em sua detalhista busca documental, levou Yves Goulart ao encontro das  origens ouvindo o núcleo de familiares e amigos, continuada nos parceiros da então ascendente trajetória artística. E qual não foi a sua mais absoluta surpresa ao descobrir que, pouco antes de sua súbita morte, por uma síncope cardíaca, Aldo Baldin havia gravado um longo autodepoimento, com a idéia de transformá-lo num livro.

Se por uma adversidade fatalista isto não pôde acontecer, este registro sonoro, acompanhado de vasto material iconográfico (fotos e imagens em video), acrescido de esclarecedoras entrevistas com nomes fundamentais à carreira do tenor, no Brasil e no exterior, serviria, então, como base para um diferencial doc filme.

No seu dimensionamento como um relato autobiográfico, recorrendo ao uso da própria voz do protagonista titular, direcionando o roteiro narrativo do cineasta para envolvente formato documental. “Ele começou a gravar um audio como premonição de nossa finitude”, afirmou na época um convicto Yves Goulart, diante do projeto que demorou cerca de uma quase década e meia.

Onde a sequencialidade do enredo é sugestionada com funcional suporte estético, em sensitiva intermediação imagética e pictórica, potencializada na trilha artesanalmente captada pela viúva de Aldo Baldin, a musicista Irene Flesch Baldin, através das citações de antológicos trechos de obras interpretadas pelo tenor mundo afora.

E se a opinião de tantas personalidades do meio musical brasileiro (de Isaac Karabtchevsky a Edino Krieger) e além fronteiras, contextualiza bem a importância de Aldo Baldin, o documentário tem seu aspecto didático nas inúmeras falas do tenor, sobre o alcance das diversas facetas interpretativas de uma tessitura de voz que se destacava tanto no Evangelista das Paixões de Bach, como em personagens operísticos.

Lembrando que tivemos o privilégio de vê-lo numa marcante montagem cênica de A Flauta Mágica, por Gianni Ratto em 1982, no TMRJ, com uma psicofisicalidade performática luminosa, como cantor/ator, no papel de Tamino.  Ele que, nos primórdios nos palcos de ópera, tinha sido relegado a papéis bufos, por não ter um physique du rôle ideal para mais galantes personificações. E ali atuando junto com Maria Lúcia Godoy, como Pamina, par amoroso de Tamino, e que esta explica, no filme, ressaltando o fascínio pelas  nuances da técnica vocal de Aldo Baldin. 

E foi, há exatos trinta anos, em janeiro de 1994, literalmente reiterando uma perceptível realidade, enfatizada num Brasil de tão frágil valoração quanto ao seu legado artístico, que aconteceu a melancólica, embora,  ao mesmo tempo subliminarmente irônica, declaração do tenor que inspiraria Yves Goulart. Numa pulsão de resgate memorial, com emblemático carisma, inserida, pelo texto verbalizado na voz do cantor, no prólogo deste tão belo e reflexivo filme nominado Aldo Baldin - Uma Vida Pela Música :

Hoje é dia 3 de janeiro de 1994. Eu estou fazendo esta fita para poder escrever um pequeno livro sobre Aldo Baldin, tenor brasileiro. Porque daqui duas gerações, seguramente, ninguém vai saber quem foi Aldo Baldin e para o Brasil seria uma pena”...     No dia seguinte foi encontrado morto debruçado ao piano sobre a partitura de um Lied de Schubert - An Die Musik (Uma ode à Música) - o que significa simbolicamente que até seus últimos suspiros foram sinalizados pela entrega total a uma vida pela música... 


                                          Wagner Corrêa de Araújo


Aldo Baldin - Uma Vida Pela Música, direção de Yves Goulart, recebeu diversos prêmios em mostras internacionais e está sendo apresentado em centros culturais  (no RJ, foi no CCBB ), enquanto aguarda seu lançamento no circuito cinematográfico.

RETROSPECTIVA COREOGRÁFICA 2024 : ENTRE O CLÁSSICO E O CONTEMPORÂNEO, A DANÇA VOLTA MAIS ENERGIZADA AOS PALCOS CARIOCAS


Cia de Dança Deborah Colker / Sagração. Deborah Colker/Direção Coreográfica/Concepcional. Março/2024. Flavio Colker/Fotos.


Numa inédita concepção cênica/coreográfica, a temporada foi aberta com a Sagração da Cia de Dança Deborah Colker, plena de uma brasilidade rítmica/dançante, na diferencial transmutação do primitivo universo dos aldeões russos segundo Stravinsky, em saga indigenista pelo olhar dos povos originários da terra brasileira.

Após completar dez anos de ausência, o Grupo de Dança DC voltou com uma obra inédita – AmazôniA, na funcional parceria estética e coreográfica de João Wlamir, Jaime Bernardes e Mônica Barbosa, com o propósito de resignificar, cênica e gestualmente, a ambiência mágica deste signo pulmonar do mundo sujeito, mesmo assim, aos maiores reveses.

Já o Grupo Corpo reapresentou Corpodiferente experimento que atua como um poema concretista, fundindo a sonoridade de palavras vocalizadas em jogo gestual entre pés e mãos. E Parabelo, numa abordagem do sertanismo e da fome nordestina, onde a resistência ao agreste é sinalizada por vigoroso movimento mecânico/robótico dos bailarinos.

A Márcio Cunha Dança Contemporânea retornou com o inédito Boca do Mundo, obra voltada conceitualmente às rodas de capoeira e dos terreiros do Candomblé numa demonstração de seu vigoroso processo criador, potencializado no contínuo fluxo de outras linguagens por seu idealizador, múltiplo artista plástico, performer atoral e bailarino.


Focus Cia de Dança/Entre a Pele
e a Alma. Alex Neoral/Coreografia. Junho/2024. Leo Aversa/Fotos.


Alex Neoral e sua Focus Cia de Dança figurou com Entre a Pele e a Alma, uma releitura cênico -coreográfica do tríptico pictórico de Hieronymus Bosch – Jardim das Delícias, apoiando-se na trilha autoral encomendada a Ney Matogrosso. Procurando questionar a simbologia sublime do painel pré-renascentista com um gestualismo erotizado de sotaque visionário. E quanto à recriação De Bach a Nirvana, sabendo como estabelecer um elo enunciador entre duas épocas, da dança à música, do sugestionamento etéreo do barroco à alegria féerica do rock, com reconhecidos músicos ao vivo, indo da catarse bachiana ao frenesi do grunge rock.

E é também numa trilha presencial roqueira que a Renato Vieira Cia de Dança, em ansiado retorno com  criação inédita, estabelece liames homoeróticos, sonoros e coreográficos, da idade medieval aos nossos dias em Gaveston & Eduardo. Uma criação contundente que, por meio de nossa análise crítica, com imagens em video, que foi postada em Paris, entusiasmou o coreógrafo/editor da revista danse.org - Patrick Kevin O'Hara por ter acompanhado de perto o inglês David Bintley, quando este foi pioneiro ao incursionar pelo mesmo tema, nos anos 90, para o Stuttgart Ballet.

O Balé do Theatro Municipal apresentou, inicialmente, um Lago dos Cisnes em clima ascendente para retomada de sua singular marca de única companhia clássica oficial do país, aqui, alcançando maior brilho com um top convidado - o bailarino Gustavo Carvalho. Encerrando sua temporada, com recordes de público, por intermédio da volta de O Quebra Nozes, sempre através do animador empenho de seu diretor Helio Bejani e do maitre Jorge Teixeira.

Mas foi por intermédio do conceituado coreógrafo uruguaio Ricardo Alfonso, que o BTM atingiu sua mais perfeita montagem de 2024, com La Fille Mal Gardée, que teve seus pontos altos na fidelidade à tradição com espaço para qualitativas atuações de solistas e do Corpo de Baile, sob envolvente teatralidade na performance de personagens ora romantizados, ora marcados por uma bem humorada pantomima. Valendo ainda destacar a retomada de Triple Bill, pelo criador brasileiro além fronteiras Ricardo Amarante, completando o retorno dúplice de Love Fear Loss e do Bolero, com sua personalista versão de Scheherazade, a partir de Fokine.


Balé do Theatro Municipal/La Fille Mal Gardée. Ricardo Alfonso/Concepção Coreográfica. Agosto/2024. Daniel Ebendinger/Fotos. 

Não podendo deixar de serem registrados os quatro espetáculos internacionais da Temporada de Dança Dell'Arte. A saber, a Cia Sankai Juku com seu minimalismo cenográfico ressaltando, por meio do gestualismo butoh, a transubstanciação físico-reflexiva da ancestralidade espiritual japonesa. E o grupo Momix em Alice - com dança, acrobacia e efeitos cinético-visuais, num multi-espetáculo cênico, com sotaque de musical da Broadway, inspirado no popular livro de Lewis Carrol.

Outra concepção multimídia trouxe de volta a David Parsons Dance reapresentando alguns de seus números antológicos, como o exponencial solo Caught, de 1982, ao lado de Nascimento, 1990, carismática homenagem a Milton, via alegórico alcance e música contagiante. Para finalizar com um dos espetáculos coreográficos mais extasiantes do ano Anna Karenina, pelo Eifman Ballet  (São Petersburgo).

De tamanha força emblemática, desde a ruptura dos parametros estéticos de uma típica cia russa, imprimindo-lhe cenas sensoriais que culminam na perfeição absoluta no uso paralelo do gestual clássico com ousada estética da dança contemporânea...

 

                                              Wagner Corrêa de Araújo

Renato Vieira Cia de Dança/Gaveston & Eduardo. Renato Vieira e Bruno Cezario/Direção Concepcional/Coreográfica. Agosto/2024. Robert Schwenk/Fotos.

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