ROMEU E JULIETA / BALÉ TEATRO GUAÍRA : TRADIÇÃO CONECTADA A UM INVENTIVO SOTAQUE DE CONTEMPORANEIDADE


Romeu e Julieta/Balé Teatro Guaíra. Luiz Fernando Bongiovanni/Concepção Coreográfica/Direcional. Junho 2025. Fernando Barkidom/Fotos.


Romeu e Julieta a mais evocativa tragédia de William Shakespeare sobre a irrestrita resistência de um amor proibido entre dois jovens tornou-se, desde a primeira versão russa de 1940 a partir da partitura de Serguei Prokofiev, um tema de permanente atração para o universo coreográfico.

Tendo a celebrizada concepção de Kenneth MacMillan para o Royal Ballet, 1965, inspirado outras diferenciais releituras, entre os séculos 20 e 21. Lembrando aqui, também os filmes de Franco Zeffirelli, 1968, e Braz Luhrmann, 1996, sem esquecer também a Broadway, esta partindo da cinematografia musical de West Side Story, Leonard Bernstein / Robert Wise, 1957.

Destacando-se entre as adaptações coreográficas, desde aquelas com um substrato estético mais focado na tradição clássica, como a de John Cranko, a outras mais ousadas como a de Mats Ek ou assumidamente transgressivas como a de Matthew Bourne.

Ressaltando que uma das mais conceituadas cias oficiais de dança do Brasil – o Balé Teatro Guaíra, através do coreógrafo Luiz Fernando Bongiovanni apresentou, inicialmente, seu Romeu e Julieta em 2008 e, agora, está voltando com esta obra. Numa abordagem que contextualiza, metaforicamente, o espetáculo com a problemática social da atualidade, especialmente no que concerne à violência urbana, o preconceito racial e de classes que leva à criminalidade, entre o ódio e o amor.


Romeu e Julieta / Balé Teatro Guaíra. Luiz Fernando Bongiovanni / Concepção Coreográfica/Direcional. Junho 2025. Fernando Barkidom/Fotos.


Tivemos na trajetória crítica, no entorno deste meio século do Balé Teatro Guaíra memoráveis momentos, como a direção autoral de dois documentários - O Grande Circo Místico e Balé Teatro Guaíra 30 Anos - além de escrever sobre estreias de alguns espetáculos através dos anos, incluídas criações de Luiz Fernando Bongiovanni, o atual coreógrafo e diretor geral da Cia.

Nesta sua recente apresentação, no Grande Teatro Cemig do Palácio das Artes, Belo Horizonte, com perspectiva da inclusão em suas turnês brasileiras e internacionais, do Rio de Janeiro, este Romeu e Julieta  (Balé Teatro Guaíra) teve a performance de dois afinados elencos. Sem deixar de contar com a participação da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, sob uma mais compactada regência da composição por Ligia Amadio.

Onde há novo dimensionamento, visando o público de hoje, na concepção cenográfica (Cleverson Cavalheiro) não se atendo a um realismo fidedigno para mostrar a Verona renascentista, mas fazendo um funcional e minimalista design de grandes blocos móveis, sob vários planos capazes de visualizar as diversas ambiências internas e externas da narrativa.

E que alcançam imagéticos efeitos luminares (Carlos Kur) em projeções led que imobilizam mimeticamente os personagens, com sugestionamento frontal de brilhos espaciais nas cenas noturnas de paixão em encontros às ocultas do casal titular, luzes mais vazadas nas cenas coletivas de rua e mais sombrias no epílogo tumular. Destacando ainda os belos figurinos e adereços (Paulinho Maia) longe de um absoluto rigorismo à época da trama.

A execução musical da OSMG revelando a convicta maturidade de Ligia Amadio sabendo equilibrar o impacto emocional na tipicidade sonora dos acordes, ora energizados e quase dissonantes do compositor, com um apelo mais lírico no contraste das cenas amorosas.

O elenco protagonista mostrando fluidez de movimento tanto nas passagens coletivas como nos solos e encontros grupais, não perdendo coesiva correspondência a coadjuvante representação de cidadãos e da Corte. Havendo que se destacar entre tantos personagens a afinidade química dos dois Romeus alternativos (Rodrigo Castelo Branco e Rodrigo Leopoldo) como também das duas Julietas (Deborah Chibiaque e Amanda Soares).

Ficando difícil citar a atuação específica de cada um dos personagens de um dúplice elenco saindo-se bem, tanto no baile de máscaras e nas cenas de lutas ou de atuações mais humorizadas, como as da carismática Ama de Julieta, ou as dramáticas das três Parcas do Destino, introduzidas como reveladora inovação pelo ideário de Bongiovanni.

Este transmutando, com descobertas coreográficas expressivas, uma peculiar linguagem estética psicofísica, desde espontâneas intervenções vocais a instantâneo transitar de bailarinos pela plateia, na dramaturgia corporal de uma potencializada cia de dança - o Balé Teatro Guaíra. Há exatos 57 anos dignificando, sem dúvida alguma, a dança em moldes brasileiros ...  

                             

                                            Wagner Corrêa de Araújo



 

Romeu e Julieta / Balé Teatro Guaíra apresentou-se nos dias 28 e 29 de Junho, no Grande Teatro Cemig/Palácio das Artes/Belo Horizonte, seguindo para temporada em São Paulo.

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