FOTOS/MAX PUCCIARIELLO |
Há trinta e cinco anos o americano Moses Pendleton , entre não poucas polêmicas,
tem se apresentado com sua cia Momix sem se preocupar se a rotulam ou não como autêntica criação coreográfica ou de dança
contemporânea. Afinal, ela se tornou conhecida exatamente pela espontaneidade
na sua junção de elementos
coreográficos, acrobáticos e, especialmente, ilusionistas: Mo(de Moses) e mix(mistura de linguagens).
Com seu caráter lúdico e bem humorado as obras de seu já
vasto repertório são apresentadas por um tipo de profissional multimídia que é, ao mesmo tempo, atleta e bailarino ,
como também mentor técnico/artístico de fantasias visuais, num oficio cênico
tridimensional sem restrição de gênero, para todos os gostos e idades.
Na sua turnê comemorativa, iniciada em 2016, são apresentados
quinze trabalhos de épocas e fases diversas, sendo quatro deles inéditos e pensados especialmente com uma proposta de
aniversário.
Com a exacerbação de seus efeitos visuais, sua iluminação psicodélica,
suas recorrências aos contrastes claro/escuro entre sombras e seus figurinos
aquarelados, parte considerável do
gestual e da fisicalidade dos bailarinos/atletas é eclipsada por estes
elementos. E, depois de habituais apresentações nos palcos brasileiros, este
repertório tradicional tem uma prevalente nuance de dejá vu e até de um certo fastio.
Para quem vem acompanhando esta trajetória poucas são as criações que ainda são capazes de surpreender , inclusive pelo teor opcional por um programa de episódicas coreografias que
acabam funcionando sequencialmente mais num clima de um grande vídeo clip.
Onde prevalecem as abordagens tematizadas pela natureza que o
próprio Moses sempre considerou sua inspiração favorita. Como é o caso de
extratos dos espetáculos Opus Cactus
e Botanica mas que ainda impressionam por seu aporte
artístico de atualidade em torno da
questão ecológica.
O primeiro número que realmente chega a entusiasmar o público
é a coreografia inédita Daddy Long Leg
com as sonoridades latinas do Gotan Project , sua indumentária meio
cowboy e o confronto de uma perna mais longa que a outra, numa enérgica e bem
humorada performance masculina a três.
Entre as outras novidades, Light Reigns que apresenta um onírico desenho em luzes led de dançarinos/árvores
natalinas mas com uma muita restrita movimentação
coreográfica. Ou Paper Trails sugestionando placas de papel na sua fusão de projeções de imagens de exuberante grafismo, tanto sobre a corporeidade dos bailarinos como na ambientação cênica, resultando numa
extasiante instalação plástica.
Entre criações antigas , o destaque fica com o devaneio
poético de um habilidoso solo feminino com seu referencial mitológico de
reflexo especular dos Echoes of Narcisus e a mais enérgica e acrobática
performance masculina da noite no Table
Talk .
E, finalmente, com If You Need Somebody, a obra que melhor aproxima o Momix da pura sinergia do estilo contemporâneo coreográfico . Transubstanciando,
enfim, palco/plateia, via pulsão
bachiana (Concerto de Brandeburgo n.2), em cumplicidade gestual e contagiante
alegria.
Wagner Corrêa de Araújo
MOMIX FOREVER em cartaz no Teatro Municipal/RJ, de terça a sexta,às 20h30m; sábado,às 21h; domingo, às 16h.90 minutos. Até 03 de setembro.