JUSTA: ENTRE O SENADO E O BORDEL, NUM CERTO PAÍS...


FOTOS /ELISA MENDES

Newton Moreno foi uma das boas surpresas da nova dramaturgia brasileira, especialmente com seu lastro nordestino que se refletiu inventivamente na textualidade linguística/teatral de Agreste, As Centenárias e Maria do CaritóE que, nos últimos anos, vem buscando um novo formato e uma nova tematização em suas incursões para o palco, para fugir do peso nativista de suas primeiras obras.

Ora por um conceitual poético/social na abordagem do feminino pelo viés da maternidade no ritualismo cenográfico de Berço de Pedra. Vista, aqui, em bela concepção  de nuances operísticas com direção de William Pereira.

Ora com o olhar armado no frustrante status de uma nação mergulhada no caos político, na crise econômica e na perda de seus valores morais, idealizando uma trama policialesca para Justa, apresentada, agora, na concepção de Carlos Gradim, para a Odeon Cia Teatral.

Classificada pelo autor como “peça-manifesto”, nela um investigador (Rodolfo Vaz) aceita um já popular desafio profissionalizante de referencial oportuno pelos seus meandros de corrupção , lugar comum nas redes virtuais e nas páginas impressas. Aqui metaforizado nas  relações espúrias de senadores e deputados com morte suspeita, a partir de sua habitualidade clientelista do bordel brasiliense “O Colégio”, comandado pela prostituta Justa ( Yara de Novaes).

Com um incisivo aporte cenográfico ( André Cortez) que remete à lembrança de uma bancada jornalística de estúdio, com seus monitores conectados, simultaneamente, em desveladas imagens de conotação erótico/sexual (de órgãos a atos).  Protesto à vergonha de um recessivo quadro social vivenciado em ondas de conservadorismo. Sob efeitos luminares (Telma Fernandes),episódicas intervenções sonoras jazzísticas(Dr.Morris) e figurinos cotidianos(Fabio Namatame).

Onde o contraponto cênico, da personificação masculina(Rodolfo Vaz) com os desdobramentos femininos(Yara de Novaes), acontece em tom explicitamente narrativo de depoimentos policialescos, entre o oficio investigativo e o exercício prostituto. Com uma progressão direta e seca que se expande em cena e envolve o público, especialmente pelo favorecimento e entrega de dois potencializados interpretes.

Mas que malgrado, aos poucos, vai esgotando o sequencial dramático, ora pela insistente linearidade dada aos contornos do personagem investigador, ora pela súbita alteração da intenção crítica e de seu conceitual “manifesto", quando a inflexão textual se atém à relação , quase folhetinesca e melodramática, dele com a prostituta Justa.

Onde, mesmo com o esforço desanuviador e  a autoridade cênica do comando diretorial(Carlos Gradim), não é resolvido o extensivo deslocamento da ação e do desvio no seu dimensionamento psicológico. E que, outrossim, revelam um perceptível desacerto de seu original dramatúrgico.

Capaz de prejudicar o ritmo e diminuir o impacto reflexivo do que é realmente o grande recado do texto e do espetáculo: a denúncia deste mal crônico do vir a ser político,  ético e moral de um país que, cada vez mais, ficando  difícil de amar,  vai tornando fácil a vontade de deixá-lo...

                                              Wagner Corrêa de Araújo


JUSTA está em cartaz no Teatro III do CCBB/Centro/RJ, de quarta a domingo, às 19h. 90 minutos. Até 19 de novembro.

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