FOTOS/MARCELO FAUSTINI |
“Nós estamos na
sarjeta, mas alguns de nós olham as estrelas”, diz um
dos amargurados personagens de Tennessee Williams .
Esta fala de uma peça(Anjo
de Pedra) da primeira fase de grande sucesso do dramaturgo, apesar
de anteceder, em mais de uma década, seu Doce
Pássaro da Juventude (1959), traz um referencial reflexivo , na sua
abordagem de uma atriz diante da decadência artística e do envelhecimento.
Mas que julga crer na sua remissão como mulher desejada e de atriz que ainda pode ser estelar. Mesmo que para ela, Alexandra Del Lago ( Vera Fischer), os desafios sejam os mais
torpes e escusos, ao aceitar o amor interesseiro e financista do jovem aspirante à carreira de ator Chance Wayne(Pierre Baitelli).
Ou que tenha que se sujeitar a todas as tramoias das safadezas de um político da Flórida
interiorana (como tantos que conhecemos pelas bandas de cá) Boss Finley (Mário Borges). Capaz, assim, de qualquer ato coercitivo ou até com gosto de
sangue, para que sua filha Celeste Finley(Juliana Boller) nunca volte aos
braços de Chance Wayne.
Com intervenções quase episódicas de outros tipos
provincianos, na adequada coadjuvância de Ivone Hoffmann( Tia Nonnie),Pedro Garcia Netto(Tom
Junior) , Clara Garcia(Miss Lucy)
e Bruno Dubeux(George Scudder),escudados
ainda pelos papéis mínimos de Renato
Krueger e Dennis Pinheiro.
Na versão de alguns cortes, por Marcos Daud, Doce Pássaro da Juventude se impõe pelo presencial de dez atores, sob
uma indumentária discricionária (Marcelo Marques), com um certo excesso dimensional e aquarelar no figurino(Vera Fischer) de época da cena final.
Na relevância da mutabilidade de sua concepção cenográfica (Mina Quental), entre
belas duplicações especulares e efeitos
projecionais, ressaltados em cuidadosa ambientação luminar (Paulo Cesar
Medeiros). Acrescido de recatado, embora evocativo, score sonoro (Alexandre
Elias).
Preservando o conceitual temático tão caro à obra dramatúrgica
de T. Williams , com prevalência dos medos, das inseguranças, da
solidão e das frustrações trazidas no escurecer da vida, através da marginalização
à beira da desconstrução estético/erótica do feminino,por outro lado não há , aqui, a transcendência psicanalítica da criação anterior.
A exacerbada potencialização da decadência e da vilania a
distancia das sutilezas no seu tratamento textual,sem entremeios da opressão à fuga pelo sonho. Ou na crudeza como são comandados ,entre a falácia e
as drogas, os embates da passagem temporal. No desapreço à atriz/objeto e na ambição de comportamental gigolotagem, sem perspectivas da ambição pretendida pelo, nem assim tão
jovem, amante/carreirista.
Embora convençam pela correspondência de fisicalidade para
representação destes papeis, tanto Vera Fischer como Pierre Baitelli. Ela por
sua própria história de vida, entre ascensões e declínios, ele por certa
similitude na personificação de idade corpórea, com seu torso nu e abdominal/tanque, como o
Paul Newman na versão fílmica ( Richard Brooks, 1962).
Mas que não logram atingir maior dimensionamento no
contraponto psicológico do mau caratismo do lado masculino ( o que tem maior ênfase
e é melhor sublinhado na performance de Mário Borges) e do apodrecimento do desejo
no epígono de uma mulher e na humilhação do anonimato de uma atriz.
Com uma representação que carece, às vezes, de maior
desnudamento dos personagens, ampliada por uma vocalização com desajustes de
alcances graves e agudos nos confrontos dialogais do dúplice protagonismo.
Onde mesmo o esforço de uma
direção convicta (Gilberto
Gawronski) não consegue impor mais visceralidade e envolvência na reiterativa progressão dramática de uma narrativa sem
grandes culminâncias.
Wagner Corrêa de Araújo
DOCE PÁSSARO DA JUVENTUDE está em cartaz no Teatro Carlos Gomes/Centro/RJ, quinta a sábado , 19h; domingo , às 18h. 110 minutos. Até 26 de novembro.
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