FOTOS/JANDERSON PIRES |
“Cada um traz dentro de si toda uma vida que
gostaria de pôr para fora. Mas a dificuldade é justamente esta: só deixar ver
aquilo que é possível e necessário e permitir que desse pouco se reconheça o
todo!”
O que uma fala de um dos “Seis Personagens à Procura de
um Autor”pode revelar sobre a pulsão “pirandelliana” que o ator e diretor Alexandre Lino tem estabelecido nas personificações, tanto
autorais como atorais, de suas criações dramatúrgicas. Por mais de uma vez, contando,entre outras, com preciosas parcerias escriturais como
a de Daniel Porto ou a presente e inédita de Paulo Fontenelle.
Ora na caracterização de seu nativo comportamental como
migrante (Nordestinos ), ora na
tipificação de minorias nos embates do processo profissionalizante, como foi o caso de Domésticas e, agora, em O
Porteiro. Ou na concentração em personagens simbióticos da nossa
realidade social como fanáticos pregadores evangélicos (O Pastor) ou assumidos patriarcas transexuais ( Lady Christiny).
Na unicidade de uma formatação dramatúrgica que ele titula de
“teatro de um homem só”, no
desdobramento do seu conceitual estético de cena/documentária, de interativa
identificação entre o ator e o espectador, entre a realidade vivencial e o jogo
cênico.
Agora, em sua mais recente incursão nos palcos, Alexandre
Lino traz de volta um universo que, de uma maneira ou de outra, o aproxima
novamente do memorial da consanguinidade familiar e cidadã do agreste
pernambucano, através da tipicidade do oficio de porteiro predial no fluxo da grande urbanidade.
Esta figura provinciana que povoa o imaginário das metrópoles,
com a visibilidade de seu acolhimento de prevalente afetividade, nem sempre com
equivalência pelos que “destratam a gente
como se não fosse nada”, tem um particularizado tratamento textual
/diretorial de Paulo Fontenelle.
No essencialismo de sua concepção cenográfica, reprodutora do
recinto de exercício deste labor diário (mesa, cadeira, telefone, caderno de
registros, mais água e café),que Karlla de Luca compartilha com a
indumentária/uniforme do personagem.
Onde, numa trama idealizada como uma reunião de condôminos,
luzes vazadas(Renato "Machado) clarificam a plateia que, então, provocada pelo “porteiro/síndico" condutor da assembleia, assume, alterativamente, um papel de contraponto coletivo. Tornando-se, assim, parte
dialetal de uma narrativa em primeira pessoa, numa livre experimentação participativa
de ultrapasse do contextual meramente cênico.
Se a princípio pareça até bem sugestiva esta dicotomia
dramatúrgica /documentária, aos poucos vai se desanuviando a progressão rítmica
pela insistência formular , levada a um certo
fastio sensorial, na certeza de que não haverá maior diferencial na sequência da linha textual/dramática.
E que só não inibe o resultado criativo pela irrestrita incidência
performática de Alexandre Lino dando credibilidade, tanto pelo presencial das modulações da fisicalidade,extensiva à peculiaridade do sotaque vocal, como pela verdade interior que imprime à sua rompante representação entre o palco e a vida.
Wagner Corrêa de Araújo
O PORTEIRO , depois da temporada no Sesc/Tijuca, faz duas
apresentações no Teatro Bangu Shopping, quarta e quinta, 15/16 de novembro, ás
21h. 60 minutos.
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