FOTOS/JÚNIOR MARINS |
Cinco anos de sucesso absoluto nos palcos argentinos, numa
original incursão dramatúrgica de Victoria Hladilo, a partir de um tema que
está presente no cotidiano de cada um de nós, a vida escolar na meninice e seus
reflexos especulares entre pais e mestres.
A Sala Laranja: No
Jardim de Infância
retoma uma destas reuniões disciplinares sobre o comportamento que foi nosso e é
de nossas crianças no universo estudantil,
com avaliações pedagógicas, no entremeio de inovações, elogios, reprimendas,
queixas ou acerto de contas.
Enquanto espera a diretora que nunca chega, o encontro vai acontecendo
sob o comando da inspetora Inês(Isabel Cavalcanti) que , na sua função
substituta vai passando recados , via celular, da responsável ausente aos
parentais participantes.
Aqui representados, na entrega irrestrita de um elenco aos seus embates psico/físicos, pelo paternalismo detalhista e exigente de Martin(Robson
Torrini),pelas obsessões em sanidades naturalistas/veganas – na
alternativa Gabriela (Priscilla Baer), e pelo casal em contraponto postural -
dos complexos nervosos de Verônica
(Daniela Porfírio) ao absentismo de seu marido Diego( Rafael Sieg).
Além dos instáveis questionamentos impositivos da professora Sandra(Renata Castro Barbosa) que se faz representante oficial de todos. Guiados em extraordinária espontaneidade, bem-humorada espiritualidade e envolvente acionamento dramático, nas artesanais “decupagens” do olhar armado/diretorial
de Victor Garcia Peralta.
Numa informal assembleia
, entre didatismos radicais e risíveis atitudes, em cenário realista(Dina Salem
Levy), reprodutor fiel de uma sala de creche abarrotada de referenciais infantis.
Brinquedos, desenhos, livros e até cadeirinhas, aqui ocupadas ludicamente pelos
pais.
Em clímax de unicidade palco/plateia, via luzes claras/vazadas(Daniel Gálvan) e figurinos dia-a-dia( Luiza Fardin),no favorecimento da proximidade
cenográfica. Identificando-se na progressão narrativa, ora no discurso de
comicidade, ora impactando-se pela
agressividade verbal e na adrenalina dos descontroles gestuais dos personagens.
Com sua abordagem de estereótipos dos estágios da
escolaridade paralelos ao sistema familiar, A Sala Laranja aos poucos, vai transmutando as
personificações individualizadas dos pais
pelo substitutivo nominal de cada filho/criança. Escondendo, sob um aparente superficialismo
de diversão fugaz, uma sátira visceral de um microcosmos da sociedade contemporânea.
Com suas tipificações sociais , com seu retrato ironizado dos anseios da
classe média nas idealizações filiais, na perda progressiva do controle
doméstico sobre o futuro de seus continuadores consanguíneos e na crise de poder
familiar e de autoridade escolar, é uma peça que ,enfim, faz reflexionar rindo de nossas misérias.
Wagner Corrêa de Araújo
A SALA LARANJA:NO JARDIM DE INFÂNCIA está em cartaz no Teatro Cândido Mendes/Ipanema, sexta e sábado, às 20h30m; domingo, às 20h. 70 minutos . Até 29 de outubro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário