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O que pode estar por trás da mais corriqueira das situações
domésticas de um casal discutindo banalidades cotidianas na sua decadente
pensão de um só hóspede até que cheguem dois estranhos turistas para um
pernoite? E que razões – filosóficas!!! , políticas!!!- podem decifrar a enigmática
comemoração, em compasso de pânico e pesadelo, do aniversário simulado daquele inquilino
solitário?
Pois é a partir de um discurso verbal de aparente naturalismo
narrativo, entre amenidades, lugares comuns e estereótipos caseiros do
dia-a-dia de um ser humano qualquer, que se constrói a textura dramatúrgica do universo realista de perversa metafisica,
exposto por Harold Pinter em The Birthday
Party ( A Festa de Aniversário).
Esta contextualização do absurdo teatral em Pinter alcança um
patamar de visceral extremismo pela ambiguidade com que confronta o dito pelo não verbalizado, o real pelo imaginário, o físico pelo abstrato.
Classificadas como “comédias de ameaça” as peças da primeira
fase do autor britânico exigem, por isto mesmo, um incisivo delineamento dos
caracteres de corporeidade e de dimensionamento psicológico na escolha de seus
intérpretes.
O que Gustavo Paso, em sua dúplice concepção diretorial/cenográfica,
soube bem conceitualizar de um hermético
território textual. Com autoridade
cênica e veemência necessária para torná-lo
acessível , tanto na sua conotação metafórica como na sua percepção realística.
Materializada numa detalhista figuração ambiental desde os
figurinos(Luciana Fávero) domésticos aos fantasiosos, como no favorecimento de
simbólica obscuridade no desenho de luz (Bernardo Lorga) . E ainda na fluência
de uma cativante trilha pianística ao
vivo (André Poyart).
Na adequação da fisicalidade dos personagens e no acerto de seus componentes
de verdade interior , destaca-se um elenco sintonizado na representação de um
processo claustrofóbico e de submissão à irracionalidade .
Desde o retrato comportamental do casal anfitrião, na
irrestrita caracterização da ingenuidade em Andrea Dantas (Meg),como no
convincente alheamento de Petey, por Marcos Ácher. Na patética mas
ironizada aniquilação do sentido
existencial, em convicta entrega de Alexandre Galindo(Stanley) ao mais
enigmático papel da peça .
E, ainda, no protótipo da
vilania e da paranoica dominação em Rogério Freitas(Goldberg) com a
permissiva assistência de MacCann( Guilherme Melca). Contando ,também, com a
interferência episódica mas significativa de Raiza Puget(Lulu).
E são exatamente estes confrontos entre o ficcional e o
verismo, o afirmativo e o no sense,
que tem o impacto provocativo de um soco no estomago de cada espectador.
Que por mais que se questione jamais encontrará uma resposta lógica e estará sempre no risco de sair, ao final, portador dos mesmos mistérios e identificando-se no estranhamento, encurralado, enfim, como cada uma destas personagens.
Que por mais que se questione jamais encontrará uma resposta lógica e estará sempre no risco de sair, ao final, portador dos mesmos mistérios e identificando-se no estranhamento, encurralado, enfim, como cada uma destas personagens.
Wagner Corrêa de Araújo
A FESTA DE ANIVERSÁRIO, de Harold Pinter, está em cartaz, no Teatro Poeira, terças e quartas, às 20h30m.80 minutos. Até 25 de outubro.
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