FOTOS/ANDREA CAPELLA |
Quando estreou, em 2011, a peça Sex With Strangers, inicialização dramatúrgica da escritora e roteirista de séries televisivas Laura Eason , havia, ainda, um temor iminente sobre o que as publicações digitais poderiam representar como ameaça ao suporte tradicionalista do livro.
Um risco não apenas como novidade tecnológica mas , potencialmente, pela rápida popularidade da escrita virtual capaz, assim, de criar fenômenos de mídia pela facilitação revolucionária das redes da web.
Estabelecendo este texto teatral um parâmetro entre o oficio convencional de uma professora de literatura (Deborah Evelyn) beirando os 40 anos, autora de um ignorado romance publicado no formato papel/brochura ,e um jovem internauta(Johnny Massaro) tornado um fenômeno literário, a partir das escrituras de um blog .
Onde o verismo confessional de seus relatos de aventuras sexuais cotidianas com estranhos, mas direcionadas exclusivamente às mulheres descobertas nas conversas virtuais, fez com que entrasse na lista de best-sellers e fosse adaptado às telas.
Ao contrário dela cujo estilístico romance , de assumidos contornos nouveau roman, teve uma trajetória obscura, fazendo-a desistir da carreira ficcional. E a passar seus dias do nada, numa pousada de lugar nenhum, em tempo indefinido.
O sequencial dramático/narrativo de Estranhos.com (assim titulada na cuidadosa tradução de Sérgio Flaksman) se desenvolve a partir da casual chegada do jovial escritor/blogueiro a este hostel ,em dia chuvoso. Num encontro ora espontâneo, ora enérgico, ora ousado,ora de assédio, mas sem nenhuma dialetação professoral, com a academicista autora.
Aqui representado,cenicamente, pela construção de uma alentada estruturação em madeira(Marcelo Escuñuela) , sugestionando, com o aporte dos efeitos luminares (Tomás Ribas), uma tríplice ambientação – sala>quarto>biblioteca. Com figurinos funcionais( Carla Garan) e complementado com episódicos elementos referenciais do universo computadorizado.
Em breve e agitado convívio, entre posturas antagônicas de talento e conceitual literário, de épocas geracionais diversas. E do convencionalismo,da frustração autoral, da inibição e das preferências estéticas dela frente ao exibicionismo sedutor, quase arrogante, de um jovem e bem sucedido escritor internauta.
Num crescendo de dramatismo, de convicta entrega à performance, desde a transmutação, da inicial desconfiança feminina de Olívia ( papel de Deborah Evelyn)pela extrovertida invasão físico/intelectual de um passageiro visitante William ( personagem de Johnny Massaro), em atratividade afetiva com sutis traços erotizados.
Embora a trama original, quase monocórdia , não consiga preencher, com ênfase, o aprofundamento psicológico/temático, há um perceptível investimento da direção (Emílio de Mello)para intensificar o equilíbrio de uma teatralidade, entre a tensão e a leveza, entre o melancólico e o risível.
Evitando, sempre, os riscos de queda nos superficialismos e nas facilitações de uma comédia romântica. Contando com o amadurecido apuro de técnica, emoção e fisicalidade dos dois atores e alcançando, assim, na segurança de seu comando artesanal , o necessário contraponto cênico/crítico.
Wagner Corrêa de Araújo
Wagner Corrêa de Araújo
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