FOTOS BY RICARDO BRAJTERMAN |
Entre os anos 60/70, existiam dois Brasis. Um sombrio, outro sob
refletores. Um de fardas e coturnos, outro de jaquetas de couro e saltinhos elegantes; um
de tanques, outro de lambretas. Um de hinos oficiais, outro de rockinhos nacionais.
E é para ali que os
sonhos dos personagens de hoje convergem, num mix de épocas marcado pela
alegria de viver, na peça/musical de Flávio Marinho – Estúpido Cupido.
Expert numa dramaturgia de memórias antigas para um tempo presente,
o autor se inspirou na novela homônima da
tevê ,para recriar um universo cujo único elo está na Tetê (Françoise Forton), protagonizando lá e cá , e no nostálgico score sonoro.
Num cenário simplificado, mas capaz de atender às ambiências
básicas do enredo ( a casa de Tetê e a discoteca que por sua vez se transforma
em passarela de misses), a criação de Clara e Clívia Cohen é dividida com os figurinos.
De belo apelo visual, entre a lembrança de ontem e o registro do hoje, sob as variadas matizes da iluminação( Paulo Cesar Medeiros) .
E , ainda, a singeleza quase ingênua de um enredo em que Aninha(Clarisse
Derziê Luz) e Wanda( Sheila Matos) são as amigas convencendo Tetê a comparecer num baile de reencontro da antiga turma,
incluindo Frankie( Aloísio de Abreu) e Teddy ( Carlos Bonow).
Em meio aos ritmos dançantes ,do rock
ao twist, encontram ali Danieli( Carla Diaz), funkeira e única personagem fora
do álbum de lembranças. Paralelamente, quase em forma de coro, um elenco funcional
e envolvente( Luisa Viotti,Julia Guerra,Ryene
Chermont,Matheus Penna e Ricardo Knupp) dá voz e corpo ao passado dos protagonistas.
Esta é grande jogada cênica do texto,
como se fora um espelho refletindo dois momentos existenciais , a adolescência
e as idades seguintes, numa alquimia teatral brilhantemente captada pela
direção de Gilberto Gawronski.
Françoise Forton, em grande forma,
avança para dentro do personagem em sua intensa e emocional performance. Mas
esta segurança e vibração alcançam também Clarisse Derziê Luz. E se expande na
sintonia das atuações de Sheila Matos e Carla Diaz , na elaborada ironia de
Aloisio Abreu e no desenho caricato do playboy Carlos Bonow.
Capaz, também , de revelar a marca colorida e bem humorada da gestualidade coreográfica (
Mabel Tude) e a vivaz verbalização , na arquitetura canto/representação , da meticulosa direção musical ( Liliane Secco), apoiada,ainda, na competência dos músicos ( Felipe Aranha, Guilherme Viotti,Jean
Campelo).
Tudo visando transcender os
limites palco/plateia e reflexionando-se, enfim, numa festa de arromba ,de prazer atemporal, com direito a banho de lua , bolinhas de sabão e muita saudade.
( ESTÚPIDO CUPIDO está em cartaz na Sala Baden Powell, Copacabana, sexta, às 21h;sábado, às 19h e 21h; domingo, às 19h. Até 29 de novembro).
Nenhum comentário:
Postar um comentário