FOTOS/ GUI MAIA |
Enquanto a mais popular das óperas de Tchaikovsky – Eugene Oneguin – tem cerca de quase
duas dezenas de montagens previstas na temporada europeia de 2020, é ainda rara nos
palcos brasileiros centenários, especificamente dos Municipais carioca e
paulista. Que só viram esta ópera em apenas duas montagens, tanto na capital
paulista, (a última em 2015) e no Rio (1989) e, agora, com um intervalo de três
décadas.
Inspirada numa obra em versos de Alexander Pushkin, e transformada pelo compositor em “Cenas Líricas em 3 Atos e 7 Quadros”, sua estreia
foi em Moscou há 140 anos. Cantada geralmente no original russo, ela teve reconhecidos como seus
maiores interpretes - Dimitri
Hvorostovsky no papel título e Galina
Vishnevskaya como Tatiana.
Embora tendo como tema o mesmo enredo da versão liríca, a
coreografia de John Cranko celebrizada
especialmente por Márcia Haydée no Stuttgart
Ballet, usou temas tanto da ópera como de outras composições de Tchaikovsky.
Ao passar um temporada no campo, o aristocrata Eugene Oneguin conhece, através de seu vizinho
e poeta Vladimir Lenski, as irmãs
Olga e Tatiana, apaixonando-se perdidamente por esta, de espírito romântico ao
contrário do caráter mais frívolo de
Olga, a noiva do amigo. Mas ao cortejá-la num baile, despreza o amor de
Tatiana e incita o ciúme e o ódio em Lenski, levando a um duelo mortal entre os dois.
Numa produção assumidamente minimalista, a paisagem cênica (Manoel
Pucci e André Heller) faz bom uso dos mesmos painéis de espelhos emoldurados
com similares arabescos decorativos das colunas laterais do palco. Ora cobertos
de folhagens na reprodução dos jardins familiares das duas irmãs, ora vazados
em portas no baile do terceiro ato, com pequenas variações no quarto e no gabinete
de Tatiana e na cena do duelo.
Com prático aproveitamento indumentário, sob o habitual bom gosto de Marcelo Marques, na reutilização de acervo, para roupas camponesas e trajes formais de
baile. Sempre com bem dosados efeitos luminares (Paulo Cesar Medeiros), alternando
claros expansivos e sombras focais.
A coreografia (Mônica Barbosa) de valsas, mazurcas e polonaises
se limita ao básico em apenas corretas danças características, sendo vibrantes os
solos néo-clássicos de Cícero Gomes. Havendo potencial musicalidade no comando orquestral de Ira Levin para a OSTM, com equilibrada sonoridade dos fortíssimos
ao intenso lirismo das cordas, combinando com sensíveis solos dos sopros.
Onde o elenco protagonista tem um destaque especial, tanto na representação teatral como na interpretação
vocal. Com valorosa participação do Corpo Coral do TM, regido por Jésus Figueiredo e de mais cinco atores/cantores em papéis coadjuvantes.
No contraste da entrega a um jovial significado especular dos anseios adolescentes,
na Olga de Luisa Francesconi, com sua bela tessitura
de mezzo-soprano, ao lado da pungente expressão dos sentimentos amorosos, presencial
e absoluta na longa e melancólica declaração dramática de paixão, na ária da carta de Tatiana, por uma soberba Marina Considera.
Enquanto o tenor Eric
Herrero, no papel de Lenski, prova
mais uma vez, a sua irrestrita força
vocal ao imprimir tocante pathos na
mais célebre ária da ópera, lembrando as alegrias passadas e reiterando um
pressentimento trágico às vésperas do duelo com Oneguin.
Oneguin, na performance titular do barítono Homero
Velho, tem uma convicta personificação e um desempenho vocal seguro, com
destaque no epílogo do IV Ato, no desespero e dor do dueto que sela a definitiva separação de Tatiana.
Em espetáculo que, enfim, encerra a temporada lírica 2019, com três
óperas encenadas “comme il faut” e
duas outras mais em formato de concerto cênico, com uma simplicidade funcional
e um apuro cênico-musical capazes de fazerem um tributo à partitura de Tchaikovsky e aos versos de Pushkin.
Wagner Corrêa de Araújo
EUGENE ONEGUIN encerrou a temporada lírica 2019 do Theatro
Municipal/ RJ, com récitas entre os dias 26/11 e 1º de dezembro.
Um comentário:
Como e possivel que eu perca uma maravilha dessas ??? Vou providenciar para que isso nao mais aconteça. Parabéns, Wagner!!!
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