LA TRAVIATA/ FOTO BY FERNANDO PASTORELLI |
O ano operístico brasileiro começou apostando em Verdi na abertura da temporada oficial de ópera em teatros oficiais como o Palácio das Artes (BH) e o Theatro Municipal de São Paulo, com uma mesma e bem sucedida montagem tradicional de La Traviata.
Mas, por outro lado uma equivocada proposta estética de substrato
futurista de Um Baile de Máscaras no
Municipal do Rio, acabou precipitando uma crise que vinha se arrastando ali e impediu de vez a continuidade de bem intencionada mas pretensiosa
temporada lírica anunciada.
Visualizada em arrojada
cenografia 3D com efeitos computadorizados
no ideário de Pier Francesco Maestrini, o que ela poderia seduzir pelo inusitado decepcionou pelo resultado pretendido, para uma partitura verdiana controvertida em sua
transmutação temporal / galática.
Aliada à má escolha de seus intérpretes titulares, um arremedo
de ascensionais vozes italianas como a do tenor Leonardo
Caimi (Gustavo) e da soprano Susanna Branchini (Amelia).
Mas de superiorizada performance nacional do barítono Rodolfo Guilliani (Renato) e da mezzo-soprano Denise de Freitas (Ulrica).
A resposta oponente foi exemplificada numa La Traviata, convencional mas coesiva no
apuro estilístico de mais uma das encenações sob o experimentado comando mor de
Jorge Takla. Onde técnica e talento, salvo algumas ressalvas, não faltaram às
interpretações vocais/teatrais do elenco, entregando-se com níveis de
credibilidade às demandas da linha cênica proposta por seu regisseur.
Na Violetta de procedência
russa via Nadine Koutcher, sensível e provocante no personagem, como nas suas variações
sequenciais de soprano coloratura, spinto
e dramática. Mas com certo desequilíbrio no dimensionamento dramático e no
pouco alcance vocal do tenor russo Georgy
Vasiliev como Alfredo.
O CAVALEIRO DA ROSA/FOTO BY FABIANA STIG |
A transposição cênica (Pablo Maritano) de O Cavaleiro da Rosa
esteve à altura do rico substrato musical em ambiência vienense belle époque. Num espetáculo multifacetado
com seus quase vinte personagens, ora alterativos ora na prevalência do quarteto principal.
Da encorpada tessitura lírico dramática da soprano argentina Carla Filipcic (Marechala) às modulações performáticas de Luisa Francesconi (Octavian), no acerto de um timbre admirável de mezzo soprano.
Qualificações extensíveis ao soprano bielorrusso Elena Gorshunova (Sophie), em preciosa sustentação nos contornos de sua personificação,
mas sem qualquer correspondência dramático / vocal na inconsistência do baixo Dirk Aleschus (Barão Ochs).
Quanto a esta Turandot, na
visão de teatro dentro do teatro por André Heller-Lopes, foi estruturada em três
planos temporais para visualizar uma China milenar, entre o fabular e o histórico,
mas de olhar armado em nuances de contemporâneidade. O que, plasticamente, é mais
perceptível na indumentária anos 60 do coro contrastando com a tradição de
figurinos referenciais da Ópera de Pequim.
A Orquestra Sinfônica
Municipal, sob a regência de Roberto Minczuk, como de hábito nas três óperas
anteriores (Verdi, Strauss e Debussy), teve um desempenho sempre acertado e elogiável
na sua exposição, agora, de uma partitura de Puccini mais sintonizada com
novas harmonizações.
No confronto com a representação dos papéis protagonistas,
mais uma vez alguns solistas brasileiros mostraram folego maior e convicção
apurada na competição do habitual ringue das vozes estrangeiras convidadas.
Como a irradiante atuação da soprano Gabriella Pace (Liú) e seu consistente timbre capaz,
sempre, de preencher as exigências de sua personagem. Sem deixar de destacar a força
dos graves na tessitura do baixo Luiz Ottavio Faria (Timur) ainda que em episódicas entradas.
Com forte presencial tanto da soprano norte americana
Elizabeth Blancke-Biggs (Turandot)
como do tenor canadense David Pomeroy (Calaf ), embora este não tenha alcançado a sempre esperada culminância / cúmplice com o público
em Nessun Dorma...
Wagner Corrêa de Araújo
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