NAS SELVAS DO bRAZYL : A RETOMADA DE UM TEMA OPORTUNO SOB UMA METAFÓRICA CONEXÃO FABULAR ENTRE A HISTÓRIA E O TEATRO

NAS SELVAS DO bRAZYL. Pedro Kosovski/Dramaturgia. Daniel Herz/Direção Concepcional. Novembro/2025. Nil Caniné /Fotos.


Há cento e doze anos acontecia uma viagem do ex-presidente norte-americano Theodore Roosevelt Jr (1858/1919) e do sertanista brasileiro Cândido Mariano da Silva Rondon (1865-1958) às, até então, ainda indevassáveis ambiências ecológicas brasileiras, dimensionados especialmente pela floresta amazônica.

A trajetória reunindo ainda alguns naturalistas e até sacerdotes num quase reflexo especular dos conhecidos como primeiros viajantes do Primeiro Reinado,  estendendo-se a outras explorações no século XIX para descobertas e revelações sobre a flora e a fauna até o início do período republicano e o despontar do novo século.

Entre outras publicações, resultando em um livro denominado Nas Selvas do Brasil do naturalista inglês Alfred Russel Wallace e que, agora, serve como inspiração titular para a peça escrita pelo dramaturgo Pedro Kosovski, a partir de um ideário original do ator Gustavo Gasparani desde que conheceu o Museu Rondon em Porto Velho  (Rondônia).

E que, ao lado do ator Isio Ghelman, são os dois protagonistas da peça NAS SELVAS DO bRAZYL, nome do país simbolicamente grafado com Z e Y, com um subliminar referencial à expedição direcionada por Theodore Roosevelt (Isio Ghelman) tendo como seu principal parceiro o Marechal Cândido Rondon (Gustavo Gasparani), no épico percurso do chamado Rio da Dúvida, na Amazônia, em tempos da Velha República, tudo convergindo na apurada fluência da direção de Daniel Herz.


NAS SELVAS DO bRAZYL.  Daniel Herz/Direção Concepcional. Isio Ghelman e Gustavo Gasparani/Performance. Novembro/2025. Nil Caniné /Fotos.


Retratando como nos pioneiros relatos a paisagem fluvial e costeira, com os descendentes dos povos originários, além de povoados ocupados pelos colonizadores portugueses, desde as primeiras décadas do pós-Descobrimento, incluídas as peculiaridades zoológicas  e vegetais da região percorrida.

O enredo dramatúrgico, em mais uma das reveladoras marcas autorais de Pedro Kosovski, não se limitando  a descrever o status quo do processo exploratório à época, mas transcendendo sua temporalidade numa abordagem de temas como uma sequencial tendência subalterna do Brasil aos Estados Unidos identificada até a atualidade.

Ou, sob um conceitual estético, com base político-científica, procurando imprimir aos dois personagens  uma dialetação imaginária entre tempos idos e futuros,  sobre os riscos além fronteiras da devastação ambiental repercutindo sobre a cada vez mais ascendente crise climática do planeta Terra, com trágica antevisão de um cataclismo terminal.

Onde a caixa cênica (Dina Salem Levy) é preenchida por uma abstrata plasticidade pictórica constituída por um emaranhado de fios, trançados e cruzamentos para sugestionar o que se via durante a travessia desde a densidade da paisagem florestal à passagem por postes de redes telegráficas.

Completada na sugestiva indumentária (Wanderley Gomes) fugindo do previsível sotaque militar através de esportivos macacões aquarelados, transmutados no exercício da função exploratória. Cenografia e figurinos ressaltados pela prevalência de efeitos luminares (Aurélio de Simoni) e pelas ocasionais intervenções sonoras (Marcello H).

Daniel Herz privilegiando um arrojado avanço no tratamento direcional, ainda que isto incida num certo hermetismo para o espectador mais acomodado, quando o tema é explorado a partir do dúplice dimensionamento de representação da proposta dramatúrgica, sob um  sutil sotaque pirandelliano.

Ao conectar, em contraponto crítico, o exercício presencial do oficio de dois convictos atores - Gustavo Gasparani e Isio Ghelman - em paralelo ao alcance de consistente “busca” personalista da caracterização histórico-documental de seus personagens com um olhar armado na contemporaneidade.

Além da abordagem de temática tão necessária como a preservação ecológica, a partir de sua fundamental base amazônica, para assegurar o futuro da própria humanidade, NAS SELVAS DO bRAZYL com seu inventário dramático materializa, sobretudo, o empenho por novos caminhos para o teatro brasileiro...

 

                                          Wagner Corrêa de Araújo

 

NAS SELVAS DO bRAZYL está em cartaz no Teatro II/CCBB/RJ, de quinta a sábado, às 19h; domingo às 18h; até o dia 30 de novembro.

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