DREAMGIRLS : UM EXEMPLAR MUSICAL SOBRE A COMPETITIVA INTEGRAÇÃO DA BLACK MUSIC NA INDÚSTRIA DO ENTRETENIMENTO



Dreamgirls - Em Busca de um Sonho. Gustavo Barchilon/Direção Concepcional. Novembro/2025. 
Tawan Santos/Fotos.


Em plenos anos 60 quando a prevalência dos hits internacionais no gosto popular se dividia entre o legado do rock’n’roll, a explosão dos Beatles e a ascensão da pop music, um trio de cantoras negras de Chicago, inicialmente conhecido como as Dreamettes, se tornaria um fenômeno no universo do showbiz já então nominado como The Supremes.

E é este grupo que inspirou um dos musicais mais emblemáticos da Broadway, anos 80, titulado Dreamgirls, pelo ideário de seu criador Michael Bennett, numa temporada ininterrupta que durou até 1985, retornando numa releitura cênica dois anos depois. Em 2006, tendo recebido Oscars por sua versão cinematográfica, com elenco estelar - Beyoncé, Jennifer Hudson, Jamie Foxx e Eddie Murphy.

Agora, o musical Dreamgirls - Em Busca de Um Sonho - finalmente chega aos palcos brasileiros, a partir de São Paulo, em outra das significativas direções concepcionais de Gustavo Barchilon reunindo, aqui, as cantoras-atrizes Letícia Soares, Samantha Schmütz e Laura Castro nas personificações titulares do trio vocal. Valendo também destacar a volta de Toni Garrido, no papel de Curtis Taylor Jr, o empresário responsável pelo lançamento do trio.


Dreamgirls - Em Busca de um Sonho. Gustavo Barchilon/Direção Concepcional. Novembro/2025. 
Tawan Santos/Fotos.


Ambientado num espaço cênico (Natália Lana) com sotaque mais realista, ora mostrando a entrada do Harlem Apollo Theater, o palco e bastidores, onde tudo se inicializa com a chegada das cantoras e candidatas a um lugar ao sol no mercado fonográfico extensivo à mídia musical americana.

Tendo, ainda, passado pelo crivo exigente de Curtis Taylor Jr., que, contra todas as expectativas, decide substituir Effie White (Letícia Soares), por uma aspirante considerada mais apropriada para compor o trio, estabelecendo um clima de controvérsias entre elas. Com ágeis e bem humoradas intervenções de Jimmy Thunder Early (Reynaldo Machado), em potencial representação física, voz e corpo especialmente imprimida numa tessitura referencial a James Brown.

Com afinada equipe tecno-artística, indo desde uma funcional adaptação textual por Bianca Tadini e Luciano Andrey, à envolvência do comando musical por Gui Leal, correspondido pela energizada concepção coreográfica de Rafa L. A partir de inúmeros hits em discos, rádios e discotecas, numa previsível antecipação do que seria a era da disco music, sob contagiantes ritmos, provocando intensiva corporeidade dançante nas pistas de bares e night clubs.

Mas por trás de tudo, o enredo dramatúrgico-musical de Dreamgirls, revelando dissabores, invejas, preconceitos raciais, no entremeio de um instantâneo alcance do anonimato à fama, para aquelas até então ingênuas cantoras. Que, pela força da fé em seu sonho, acabaram se impondo por seu talento de artistas representativas da criatividade negra através de um conceitual afirmativo de  núcleo social identitário, no enfrentamento do  excludente conservadorismo branco.

Para culminar nas cenas definitivas do show, sob efeitos luminares (Tulio Pezzoni) incidindo, num referencial a la Broadway. Num desfilar de figurinos (Fabio Namatame) ora de sotaque cotidiano às indumentárias reluzentes, tendo ao fundo um painel frontal ecoando ressonâncias nas projeções de cores psicodélicas sobre a afinada atuação performática dos cantores-atores-bailarinos.

A cintilante interpretação de Leticia Soares, como de hábito, conferindo à sua personagem uma estatura carismática. Sem deixar por isto de ressaltar o sempre qualitativo presencial das outras protagonistas em seus respectivos papéis.

Gustavo Barchilon em proposta estética, sintonizada nos avanços da contemporaneidade teatral, exercendo seu  ofício de busca inventiva com irrepreensível empenho direcionado ao completo domínio do espetáculo.  

Tudo, afinal, concorrendo para uma das surpresas da  temporada 2025, sob o signo de um irradiante contraponto critico voltado para um teatro musical dimensionado e solidificado em moldes  brasileiros...

 

                                                Wagner Corrêa de Araújo

                                        

Dreamgirls - Em busca de um Sonho está em cartaz no Teatro Santander/SP, de quinta a domingo, em horários diversos, até o dia 30 de novembro.

Nenhum comentário:

Recente

DREAMGIRLS : UM EXEMPLAR MUSICAL SOBRE A COMPETITIVA INTEGRAÇÃO DA BLACK MUSIC NA INDÚSTRIA DO ENTRETENIMENTO

Dreamgirls - Em Busca de um Sonho. Gustavo Barchilon/Direção Concepcional. Novembro/2025.  Tawan Santos/Fotos. Em plenos anos 60 quando a ...