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Esther Weitzman Companhia de Dança / Matéria. Esther Weitzman /Direção Coreográfica/Concepcional. Outubro/2025. Renato Mangolin/Fotos. |
A partir de seu natural fascínio pelas leis da física que imprimem a conexão do permanente ritmo do universo cósmico ao reflexo especular do movimento humano, a coreógrafa nominal e diretora titular da Esther Weitzman Companhia de Dança apresenta a sua mais recente criação - Matéria.
Junto à participação criativa de seus coreógrafos/bailarinos, remetendo
aos princípios enunciadores da física ao trazer a referência de um dos mais
respeitados físicos da atualidade – o brasileiro Marcelo Gleiser, através de
seu livro A Dança do Universo. Descrevendo,
sob o ir e vir das partículas atmosféricas, o eterno frenesi das mutações da Matéria
em compasso de uma dança dos corpos celestes entre a sua criação e sua
destruição, num irrestrito ciclo de renovação e de substituição.
O que, além de registrar neste propósito, os 25 anos de
atuação da Cia de Esther Weitzman no panorama
da dança contemporânea carioca e brasileira, promove o encontro em cena de seu cast de bailarinos
criadores - Bia Peixoto, Edney D’Conti, Fagner Santos, Milena Codeço, Rodrigo
Gondim e Pedro Quaresma, este último em atuação alternativa, contando, também, com a
valiosa colaboração artística de Alexandre Bhering.
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Esther Weitzman Companhia de Dança / Matéria. Esther Weitzman /Direção Coreográfica/Concepcional. Outubro/2025. Renato Mangolin/Fotos. |
Prenchendo a caixa cênica, em proposta minimalista, sem quaisquer elementos materiais, os bailarinos usam indumentárias (Manuela Weitzman) à base de malhas, collants, saias, em tons neutros ressaltados sob precisas variações luminares (Sara Fagundes). Ora vazadas ora focais, com prevalência de sombras entre cores, propiciando uma bela plasticidade espectral à corporeidade dançante.
Extensiva à correspondência do alcance de funcionalidade absoluta
na sua dúplice releitura musical (Gabriel Salsi e João Mello) sobre um tema
original da compositora norte-irlandesa da nova geração Hannah Peel – Neon 1:Shinjuku.
Obra sinalizada por seu compasso energizado em percussiva fusão de acordes tecno/acústicos, teclados, cordas, sintetizadores, num andamento em moto perpétuo,
repercutindo ali um eco sensorial ininterrupto que parece vir dos espaços
siderais.
Transmitindo-se como ondas à expressiva dramaturgia corporal dos cinco bailarinos, na fluidez dos movimentos apresentados sob pulsante coesão
gestual, alternada entre deslocamentos grupais ou em instantâneos solos. Numa
gramática da dança que une o ideário coreográfico de Esther Weitzman à contribuição
personalista dos bailarinos-criadores.
Expandindo-se a representação desta obra, titulada bem a
propósito como Matéria, na proporção
de um desenvolvimento contínuo, capaz de revelar sempre uma espontaneidade
contagiante. Tornando imediata, através desta potencial gestualidade física,
uma subliminar identificação emocional bailarinos/espectadores.
Esta sua busca investigativa no processo de criação acaba por
conduzir a um encerramento, com traços de sotaque apoteótico, provocado pela iluminação ao sugestionar projeções estelares, como se seus intérpretes
estivem imersos numa performance temporal-espacial, integrando a condição humana a uma dança cósmica.
Cada vez mais abordada por celebradas cias contemporâneas de
dança, incluídas recentes experimentações estético-coreográficas pelos
bailarinos da Nederlands Dance Theater
no Observatório de Leiden, Países Baixos. E, agora, numa iniciativa oportuna e inédita pela Esther
Weitzman Companhia de Dança.
E que merece, sobretudo, ser identificada com uma reflexiva
definição sobre o que isto significa em
relação à acertada escolha do titulo Matéria para esta performance, ao estabelecer
um liame entre a ciência da Física e a arte da dança.
No questionamento comparativo da matéria constitutiva do
movimento humano, direcionado pelas leis da natureza, com o deslocamento cósmico
dos corpos celestes, sob os princípios da Física, cabendo certamente, aqui, neste confronto crítico, uma simbólica conceituação do bailarino e coreógrafo americano Ted Shawn : “A dança é a única arte da qual nós mesmos
somos a matéria-prima da qual é feita”...
Wagner Corrêa de Araújo
Matéria/Esther Weitzman Companhia de Dança, depois da temporada no Mezanino/Sesc/Copacabana, entra em cartaz no Teatro Cacilda Becker/Catete, a partir do dia 24/10; na sexta às 19h30; sábado e domingo, às 18h, até o dia 02/11.
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