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Os Mambembes. Arthur Azevedo/Dramaturgia. Emílio de Mello e Gustavo Guenzburger/Direção. Maio/2025. Annelize Tozetto/Fotos. |
Original de 1904, numa diferencial concepção do dramaturgo e escritor Arthur de Azevedo, junto a outro maranhense José Piza, esta peça tornou-se um clássico do chamado teatro itinerante, idealizado inicialmente para ser representado, na genuinidade de seus ingredientes, em praças ou quaisquer espaços públicos ao ar livre.
Mas acabou ficando praticamente esquecida até que se tornar
um marco histórico do teatro brasileiro meio século depois, na sua marcante performance para um palco
italiano, daquela vez no Theatro Municipal do RJ, como um tributo ao seu
cinquentenário e ao responsável pelo seu projeto, o próprio Arthur de Azevedo.
Numa noite memorável de 1959, em que o espetáculo Os Mambembes foi apresentado como ponto de partida do “Teatro dos
Sete”, na concepção de Gianni Ratto, reunindo nomes icônicos em seu elenco, entre
estes, Sérgio Britto, Ítalo Rossi,
Napoleão Muniz Freire e Fernanda Montenegro.
O êxito da peça incentivou outras sequenciais montagens, ora
no formato itinerante em praças do Brasil, ora em variadas e livres releituras,
nos palcos em adaptações próximas à proposta cênica de seu criador ou avançando
em experimentos, entre uma burleta a um teatro especificamente musical.
Depois da turnê em cerca de nove espaços urbanos externos, no entremeio de capitais e no interior, esta presente montagem de Os Mambembes, abrindo em grande estilo o último Festival de Curitiba, repete a dose longe da urbanidade dos ambientes públicos e apresenta-se, agora, preenchendo um palco carioca de teatro, pelo ideário tríplice de sua versão dramatúrgica por Daniel Belmonte, Emílo de Mello e Gustavo Guenzburguer.
Os Mambembes. Arthur Azevedo/Dramaturgia. Emílio de Mello e Gustavo Guenzburger/Direção. Maio/2025. Annelize Tozetto/Fotos. |
De certa maneira, numa possível recorrência à lembrança da histórica noite,
em 1959, ao apostar também num elenco de craques atorais da atualidade (Camila
Boher, Claúdia Abreu, Deborah Evelyn, Julia Lemmertz, Leandro Santanna, Orã Figueiredo e Paulo
Betti), sob um acurado e dúplice comando direcional (Emílio de Mello e Gustavo
Guenzburguer), em concepção estética móvel capaz de se adaptar tanto às ruas
como aos palcos italianos.
Mesmo que, para quem tenha tido a chance de assistir aos dois
formatos, possa causar um estranhamento e talvez uma menor aproximação ator/espectador esta última se comparada à primeira proposta, mantendo em parte os mesmos elementos cenográficos minimalistas,
ainda que, aqui, prevaleça todo o empenho do cast
artístico e técnico.
Fazendo esta outra opção cênica não perder seu encantamento plástico com a
manutenção de seus escassos recursos cenográficos (Marcelo Escañuela) pensados
para um teatro popular simbolizado pelo teor itinerante e para inusitado público de
rua que, certamente, há de se surpreender ao tomar contato com os mágicos
artifícios de uma criação teatral.
Claro que a infraestrutura de um palco de teatro possibilita
tornar mais expressivos os efeitos luminares (Nadja Naira), mas não deixando de brincar
com lanternas na escuridão ou com a
simbiose de figurinos cotidianos sinalizados
por caracteres de sotaque burlesco (Marcelo Olinto).
Sempre nesta assumida proposição do improviso, tornando espontânea a corporeidade gestual (Cristina Moura), na pulsão de uma trilha sonora autoral à base de temas e ritmos nordestinos, interpretada ao vivo pelo instrumentista e diretor musical Caio Padilha.
Sete atores e um músico imersos em cativante trama farsesca,
dando uma lição teatral de improvisação paralela à fidelidade quanto a narrativa
dramatúrgica, numa linguagem fluente e irônica em seu sotaque folhetinesco e
melodramático. E por uma gramática cênica com preciso domínio de sua direção, num correspondente e coeso desempenho coletivo de intérpretes mais que especiais.
Irradiando humor e ironia, ao avançar em temas sociais caros
aos nossos dias, enquanto retrata e reflete bem os desafios e as adversidades
do teatro de ontem e de hoje, em moldes brasileiros a partir de um pertinente conceitual
“mambembe”, atemporal ao sintonizar a
tradição e a modernidade, resultando, afinal, em espetáculo que deve ser
obrigatoriamente conferido...
Wagner Corrêa de Araújo
Os Mambembes está em cartaz no Teatro Casa Grande/Leblon, de quinta a sábado, às 20h; domingo, às 18h, até 22 de Junho.
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