O acesso à edição digital é pelo endereço www.revistabarroco.com.br |
Reencontrar, ainda que numa versão digital, o singular legado
da única publicação brasileira dedicada exclusivamente à estética barroca promove,
sobremaneira, uma viagem às raízes da mineiridade e, particularmente, a meio
século de afetivas lembranças familiares.
Tive o privilégio, em período juvenil, de acompanhar de perto
o nascimento da publicação quando compartilhei meus anos do Curso Clássico, na
Faculdade de Filosofia e Letras da UFMG, simultâneo ao convívio residencial com minha tia Laís Corrêa de Araújo e seu consorte Affonso Ávila.
Em plenos e tristes anos 60, já no período de ditadura militar, e que marcaram
incisivamente a minha formação intelectual não só no desfrute cotidiano com este casal de ilustres poetas (que tanto me ensinou
sobre vocação às letras e o apreço pelas coisas do universo artístico cultural) e, mais ainda, pelo testemunho vivo dos habituais encontros literários no celebrado
endereço da Rua Cristina, 1300, em Belo Horizonte.
Foi a partir deste inestimável contato que me arrisquei a escrever
meus primeiros textos, pequenos contos, poemas e resenhas críticas que vi serem
publicados no prestigiado Suplemento
Literário do Minas Gerais, cuja comissão editorial inicial trazia os nomes, entre
outros, de Murilo Rubião e também da própria Laís Correa de Araújo.
Numa temporada de descobertas artístico/existenciais e de convívio de perto com
nomes fundamentais da intelectualidade das Gerais, da velha e da mais nova
geração. Quantos felizes alumbramentos memoriais (na saga da lição roseana do querer decifrar as coisas que são importantes), por intermédio de contatos, face a face, com
personalidades culturais inesquecíveis, estendendo pontes
entre gerações naquela mágica casa do bairro Santo Antônio.
Reunindo, sempre, gente do porte de Murilo Rubião, Lúcia Machado de Almeida,
Henriqueta Lisboa, Fabio Lucas, Rui Mourão, Murilo Mendes e por aí vai, para chegar nos então ascendentes na ficção Luís Vilela e Sérgio Sant’Anna, ou Adão Ventura e Henri Correa de Araújo, os dois últimos
através de Veredas, movimento de poesia de vanguarda.
Em meio aos inúmeros livros das bibliotecas da Laís e do Affonso, e sob os acordes beethovianos de Pour Elise (ora pelas mãos de Laís, ora por sua irmã escritora Maria Lysia) no piano da antessala. “Era uma casa muito democrática, com mesa posta de manhã, de tarde e de noite, como se fosse na fazenda”, nas palavras da historiadora e pesquisadora artística Cristina Ávila, uma das filhas do casal.
Pois é, para bem de todos e felicidade geral da cultura
mineira e brasileira, a Revista Barroco
está de volta com os temas que perenizaram a publicação, em mais de meio século
de resistência, como poesia, romance e arte barroca, de ancestrais retábulos
coloniais à evangelização mineira no Século XVIII, mas abrindo também espaço a um olhar armado numa releitura sob o signo da contemporaneidade.
Em artigos selecionados por uma comissão de craques, de
reconhecida representatividade por teses e doutorados entre o Brasil e universidades
como a de Lisboa, Paris e Kassel, mestres em Filosofia, Artes, História, Linguística, Poesia
e Literatura Comparada.
Presidida pelo saber artístico e o refinado critério editorial
de Cristina Ávila, em acurado projeto gráfico do designer e artista plástico
Sérgio Luz, marido e pai do jovem Pedro Ávila, com revelador talento na continuidade da
trajetória de tradição literária da família Ávila, em artigo ali publicado.
Por outro lado, tive a honra de ter incluída nesta primeira edição, uma análise crítica da trans-historicidade estética do universo coreográfico de Vaslav Nijinsky, a partir de coreografia recente do alemão Marco Goecke, antenada com o múltiplo processo investigativo de formas corporais e do movimento, num aproximativo enfoque inventivo, de dimensionamento especular, com os criadores barrocos.
Em momento de tantas absurdidades da atual desgovernança
politica, é mais que necessária e salutar uma publicação digital como esta Revista Barroco com livre acesso ao
público leitor. Que, em contraponto ao retrocesso vivido, agora, pelo progressivo descaso à criação
cultural brasileira, promove antes de tudo a valoração de nossos mais caros
valores artísticos transmutados na tradição, na permanência e na reavaliação de um imortal acervo cultural
barroco.
Wagner Corrêa de Araújo
Cristina Ávila e seu pai, o poeta Affonso Ávila, o idealizador e fundador da Revista Barroco. |
(Acesso à edição digital da revista através do link www.revistabarroco.com.br)
2 comentários:
Excelente texto!
Estou conhecendo a revista no site porque me convidaram pra divulgar o meu livro apresentado no Amigos da Escola de Arquitetura da UFMG mas não há o contato@ revistabarroco.com.br. Como faço?
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