FOTOS/ JOSÉ LIMONGI |
Um dos mais originais
e incisivos textos teatrais sobre o intimismo e a agressividade de uma
sexualidade que não se aceita ou que, impulsionada pelo medo, é impedida de exteriorizar
o seu real desejo.
E que aparece, com uma pesada carga de sofrido conflito, ao ocorrer o encontro casual de um gay, livremente assumido, com a postulação, radicalizada pela violência
e rebeldia, de um homofóbico.
É este o complicado confronto que conduz a trama dramatúrgica , em laminar denúncia ao preconceito, na peça Tom na Fazenda, de Michel
Marc Bouchard, consagrado autor teatral canadense ,em sua primeira
incursão pelos palcos cariocas e numa potencial montagem comandada
por Rodrigo Portella.
Quando o jovem publicitário Tom ( Armando Babaioff) chega à
fazenda onde será velado seu namorado é surpreendido, em dúplice pulsão: pela carolice
da mãe (Kelzy Ecard) do morto , com suas
insistentes citações evangélicas;e pelo “bullying”do
outro filho (Gustavo Vaz), impactado, sempre, por qualquer referência à
homossexualidade do irmão diante da
figura materna.
É assim, no decurso de quase duas horas, que se estabelece
um jogo visceral , entre uma brutal fisicalidade e um soturno desnudamento psicológico
de identidades e rivalidades eróticas
entre dois homens. Entremeada por feminina presença no cego engano do falseamento, em grotesco substitutivo, do
homo/amante Tom em nada mais que um fiel amigo do filho
pranteado.
Episodicamente interrompido pela montagem da ilusória namorada(Camila
Nahary)em outro ato de obscurecimento, via um hipócrita discurso , da escandalosa vergonha do sexo entre iguais. Capaz, temerariamente, de estremecer,
ali, a prevalência cotidiana do
convencionalismo moral/religioso.
A árida rusticidade da ambientação cenográfica (Aurora dos
Campos), na insalubridade de poeira e lama, contamina a elegância dos figurinos( Bruno
Perlatto), enrijece torsos nus, suja faces e cabelos. Alcançando este barro,
pelos efeitos da luz (Tomás Ribas), uma ceramista corporificação plástico/visual.
Num quase referencial estético de thriller psicótico (presente na versão fílmica,2015, de Xavier
Dolan) , os embates de domínio e submissão,de aproximação sado/masoquista,
revelam uma arrojada, densa e enérgica performance da dupla de atores(Armando
Babaioff / Gustavo Vaz).
Com arrasadora culminância
no desaforo metafórico, entre força hostil e abuso sensual, do duo coreográfico
(Toni Rodrigues),na passionalidade latina de acordes sonoros(Marcello H).
O clima de tensão dos solilóquios confessionais é estigmatizado
, ora nos questionamentos afetivos do personagem titular ,ora na alternância de citações evangélicas e reflexões domiciliares,
em artesanal performance de Kelzy Ecard.
Completando-se o sincretismo cênico na convicção , na consistência e na sinceridade com que a
direção de Rodrigo Portella imprime ao emblemático relacionamento físico/afetivo
de dois homens que se odeiam e se amam mutuamente.
Wagner Corrêa de Araújo
TOM NA FAZENDA está em cartaz no Oi Futuro, Flamengo,quinta a domingo, às 20h. 110 minutos. Até 14 de maio.
TOM NA FAZENDA em nova temporada, no Teatro Poeirinha, quinta a sábado, às 21h; domingo,às 19h. 110 minutos. Até 30 de novembro.
TOM NA FAZENDA em nova temporada, no Teatro Poeirinha, quinta a sábado, às 21h; domingo,às 19h. 110 minutos. Até 30 de novembro.
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