FOTOS / FILIPE RAMOS |
Foi a partir dos surrealistas, dos dadaístas e dos futuristas
que os objetos passaram a ter a autenticidade simbológica de
almas próprias. Sacralizados além de sua mera funcionalidade, tanto nas
artes plásticas e cinéticas quanto na criação teatral.
Transcendendo, em seu conceitual estético, os limites ancestrais do teatro de marionetes, fantoches ou de bonecos, em novos signos cênicos através
do teatro de animação ou, simplesmente, de objetos.
Tendência que cresceu especialmente a partir da segunda
metade do século XX, com os progressivos avanços técnicos e artísticos da linguagem cênica . Nas suas perceptíveis afinidades com a
performance e as instalações de um lado, paralelo aos arrojados experimentos
áudio - visuais.
Modelo brasileiro, sobremaneira singular nesta trajetória
estilística, é o Grupo Sobrevento de São Paulo. Que comemora,
agora, suas três décadas, através do espetáculo
Só. Numa consistente dramaturgia dos seus
integrantes e na inventividade e desenvoltura da direção de Luiz André Cherubini e Sandra Vargas.
Tendo como mote propulsor o romance incompleto de Franz Kafka
–Amerika ou o Desaparecido , de um antiherói em confronto com a opressiva
absurdidade de uma grande metrópole.
E, a partir disto, impulsionando
reflexões sobre as agruras da
comunicação humana no cotidiano contemporâneo. Numa obra aberta onde cabe à consciência
apreensiva de cada espectador a decifração dos seus significados abstratos, oníricos
e metafísicos.
Aqui, numa narrativa fragmentária, o protagonismo é dividido,
com enérgica e emotiva conexão sensorial,
entre os atores ( Daniel Viana,Liana Yuri,Maurício Santana,Sandra Vargas,Sueli
Andrade) e a imanente representatividade
que cada objeto alcança em cena.
Com tal força imagética capaz de substituir
transcendentalmente a palavra pelo gesto , amplificado pelo clima de
envolvimento mágico da trilha sonora de Arrigo Barnabé.
E onde a originalidade
na execução dos figurinos ( João
Pimenta) e os efeitos sutis das luzes ( Renato Machado) dimensionam paisagens
poéticas e trágicas de solidão e melancolia na minimalista arquitetura cenográfica de Luiz André Cherubini.
É uma projeção
imaginativa para dentro de si mesmo que esta dramaturgia coloca, com raro brilho
estético/filosófico diante da
problemática do Só.
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