FOTOS/ROBERT SCHWENCK |
Os anos 70 foram marcados por duas emblemáticas acontecências da década anterior que praticamente contextualizaram a vida politica, cultural e comportamental da nação brasileira.
Enquanto acima da linha equatorial, no último ano dos 60, solidificava-se
a provocação libertária e questionadora dos costumes através da celebração
musical, ritualística e transgressiva, do Festival de Woodstock, nas bandas de cá
acirrava-se a repressão da ditadura militar. O que em pulsão progressiva acionou
todas as formas de resistência politica e de protesto social através dos gritos
de revolta singularizados na música e na criação teatral.
Onde movimentos como a Tropicália e o Cinema Novo, além do
teatro politico e musical, assumiram rigorosamente sua missão de denúncia de um
status quo inaceitável. E foi sob estes signos que se desenvolveu, sequencialmente, uma década musical convergindo estilos e estéticas referenciais, revolucionando o modo de ser e de estar de toda uma geração.
Seja através da
eclosão andrógina do Glam Rock, da identificação
racial black da Soul Music ou da postulação mais agressiva do individualismo Punk, refletindo-se tudo especularmente no
engajamento e na concessão de voz às minorias, em contraponto a todas e quaisquer marginalizações.
70? Década do Divino
Maravilhoso – Doc. Musical, apoiando-se novamente numa
proposta de substrato musical para fazer o retrato de uma época, em dúplice realização
do roteirista Marcos Nauer e do diretor Frederico Reder, dá continuidade a uma
bem planejada tetralogia que, além dos anos 60 e 70, se estenderá pelas décadas
de 80 e 90.
Recorrendo à mesma formatação dramatúrgico-musical, com
pequenas variações na proposta cênica, dois atos retratam cronologicamente, ao
lado do score musical, alguns dos fatos
mais marcantes daqueles anos. Sempre com o intuito de grande produção
musical com episódicas inserções reflexivas, como no espetáculo anterior – 60! Década de Arromba – Doc. Musical.
Desta vez, priorizando a representação musical antológica,
o elemento documental do período, é exibido em telões laterais deixando livre
o palco para a progressão narrativo-musical abstraída de qualquer textualidade. Com riscos, ocasionados pela
projeção diferenciada nos dois lados, obrigando o espectador a não armar seu olhar no ponto focal.
Com um elenco múltiplo de mais de vinte
cantores/atores e bailarinos, uma orquestra com dez integrantes e a participação
tríplice especial das Frenéticas (Dhu
Moraes, Leiloca Neves e Sandra Pera), tem um brilho menos luxuriante que a carismática rentrée de Wanderléa no primeiro espetáculo. Na
prevalência de coesas cenas grupais, tornando-se raros os momentos de atuação
personalista, como a bem humorada performance de Tauã Delmiro e Rodrigo Naice.
A funcional concepção cenográfica de Natália Lana, a partir de
um elemento único - uma espécie de jukebox
retro, possibilita os inserts do
elenco na representação dos medleys
correspondentes a cada ano da década. Com alterativos destaques, de acordo com o gênero
musical e com uma particularizada indumentária (Bruno Perlatto). Sob psicodélicos efeitos luminares (Cesio Lima e Mariana Pitta), ampliados em potencializado
videografismo.
A sempre apurada direção musical de Jules Vandystadt e um energizado aporte coreográfico de Victor
Maia conferem à montagem a fluência dramático/gestual necessária a um
musical de caráter promordialmente retrospectivo. Pecando apenas por um excesso temporal na sua
carga informativa, com abordagens menos precisas compensadas por momentos
irradiantes.
Para um espetáculo ao qual nunca deve faltar o entretenimento, o seguro comando
diretor de Frederico Neder imprime ao roteiro de Marcos Nauer a luminosidade
necessária de um produto bem acabado e ao gosto do grande público.
70? Década do Divino
Maravilhoso – Doc. Musical está em cartaz no Teatro Net Rio/Copacabana,quinta
e sexta, às 20h30m;sábado, às 17h e 21h; domingo, às 18h. 150 minutos. Até 27 de janeiro.
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