FRIDA , A DEUSA TEJUANA : KAHLO PARA SEMPRE FRIDA


FOTOS/RENATO MANGOLIN

A trágica trajetória existencial da pintora mexicana Frida Kahlo teve seu contraponto na carismática obra, mix da tradição popular indigenista com o impulso de uma linguagem de plena modernidade.

Retrato sem retoques de uma era artística e histórica de força contundente, nela estão refletidas marcas decisivas de atitudes políticas revolucionárias ao lado de seu consorte, o muralista Diego De Rivera, além das posições desafiadoras de liberdade moral, comportamental e emancipadora do vir a ser feminino.

Seus males físicos, causados por uma sequência de doenças e acidentes que a deixaram viver presa a espartilhos, cadeira de rodas e a maior parte de seu tempo relegada a um leito quase hospitalar, levaram- na a um permanente e sofrido grito parado no ar: “Meu corpo carrega em si todas as dores do mundo”.






No minimalismo da concepção cênica de “Frida, a Deusa Tehuana”, o diretor Luiz Antônio Rocha, inspirado nos escritos e diários da pintora, faz parceria autoral com a atriz/protagonista Rose Germano, armando os olhos da plateia para um mágico mergulho nos plásticos espaços mentais de uma artista-mor e livre pensadora.

Com entrega absoluta da intérprete, em intimista nuance expressiva e apurado gestual (Norberto Presta), destacam-se, ainda, a singularidade da ambientação cênica (Eduardo Albini) com a adequada iluminação (Aurélio de Simoni) e o climático score musical ao vivo, com os solos do violonista Eduardo Torres.

Neste emotivo duelo em torno de uma arena existencial, conjugal e artística, ocorrem passagens e recortes propiciados pelo próprio enredo dramatúrgico, de maior domínio ora de um ora de outro momento do personagem.

A força incisiva do enfoque psicológico/introspectivo desta “Frida” (“Sou o assunto que conheço melhor”), tem uma abrangente exteriorização narrativa em seu universo biográfico (“Não pinto sonhos, pinto a minha realidade”).

Para os que aceitarem o convite para esta viagem teatral, fica o aprendizado da dor física e moral transmutada em amor e arte e a lírica saída poética de Frida em sua ilimitada beira do abismo: “Pés para que os quero, se tenho asas para voar”.

                                           Wagner Corrêa de Araújo



FRIDA KAHLO, A DEUSA TEJUANA em nova temporada no Centro Cultural Parque das Ruínas/Santa Tereza/RJ, sábados às 19h30m;domingos , às 19h. 60 minutos. Até 28 de maio.

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