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Uma nova proposta de musical em que há uma preocupação em priorizar
o conceitual filosófico/poético das letras que , muitas vezes, são eclipsadas
pela força imanente dos acordes melódicos.
E tratando-se de um compositor como Gilberto Gil, em seu
repertório de transubstancial fluxo idealístico ,a partir de suas incursões
numa brasilidade de sincretismo religioso, artístico, comportamental e
político, a escolha é mais que acertada.
E foi , assim, que Gustavo Gasparani selecionou mais de
cinquenta canções do meio século de trajetória de Gil, entre outras tantas apenas
recitadas, para compor, em onze blocos temáticos, o retrato, com dimensionamento
estético/psicológico, de um personagem /arquétipo da nossa música popular.
Valendo-se , para o alcance pictórico/cênico do ofício e do universo inventivo deste mistificador do
pensamento musical, de uma proposta ancorada no mote –“o poeta, a canção e o tempo”, sob a titulação generalizada de “Gilberto Gil, Aquele Abraço – O Musical”.
Contando, é claro, com um mais que experiente naipe masculino de
atores/cantores/instrumentistas ( Alan Rocha, Cristiano Gualda, Daniel
Carneiro, Jonas Hammar, Luiz Nicolau, Pedro Lima, Rodrigo Lima e Gabriel Manita).
Onde a dramaturgia autoral é dividida entre o diretor (Gustavo
Gasparani) e seus oito intérpretes , num jogo lúdico em que cada um deles revela um ponto focal, de
personalismo singularizado, na identificação com a obra e o mundo de Gil.
Sem nenhuma preocupação de traçar um roteiro biográfico mas sim de avançar nas profundezas de um rico arsenal de ideário reflexivo, ressoando
na emotiva interatividade -palco/plateia- deste musical/poesia.
Se ,às vezes, falta uma maior dramaturgia no rendimento
narrativo, com sua prevalente aproximação de um show musical de teor antológico,
a energia sensorial das vozes, das interpretações instrumentais e da gestualidade do elenco assegura a magia da
representação.
Para isto concorrem a plasticidade da cenografia (Hélio
Eichbauer) com suas projeções em tela/totem e objetos referenciais do artista
Rubem Valentim. Incluída a bela execução
dos figurinos(Marcelo Olinto) e o apuro das luzes( Paulo Cesar Medeiros).
Ressaltada ,também, na coesiva envolvência da fisicalidade "in perpetual motion" ( Renato Vieira) com a desenvoltura
da concepção musical( Nando Duarte) .
Como, ainda, na habitual consistência da pesquisa e do comando mor de Gasparani que, nesta sua mais
nova aventura de teatro musical , por seu gosto/gozo de arte/ vida merece, outra vez, “aquele
abraço”...
GILBERTO GIL , AQUELE ABRAÇO - O MUSICAL está em cartaz no Teatro Clara Nunes, Shopping da Gávea, de quinta a sábado, às 21h.; domingo,às 20h. 90 minutos. Até 14 de agosto.
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