FOTOS/RICARDO BORGES |
“A Arte Salvará o Mundo". Ao replicar o pensamento de Goethe, na voz de um dos personagens de “Procópio – Um Exercício Sobre
o Futuro, contextualiza-se o ideário
dramatúrgico de Carla Faour a partir de uma crise politica não imune à onda de
obscurantismo avassalador sobre a
criação artística brasileira.
Numa destas trágicas casualidades do
destino a peça, no próprio conceitual de um espaço cênico arruinado do que sobrou de um teatro, estabelece uma
simbólica conexão com as chamas devastadoras do histórico Museu Nacional, à
causa da habitualidade na incúria oficial pelos acervos pátrios.
Em indução simbiótica, não deixando de ser metaforizado, sutilmente, o repulsivo
estigma das falazes promessas de nossos candidatos a funções eletivas onde o
projeto cultural é sequer mencionado. Por considerá-lo causa menor tanto para o
bem coletivo, como para o fator auto
projecionista de governanças à base única da super valoração
partidarista e do eterno tráfico de favores no “toma lá dá cá”.
E, mais ainda, ironizando o
privilegiamento de resistente conservadorismo comportamental, no substrato radicalista
da imposição de moralismo preso às ancestralidades de tempos e costumes já superados.
Entregues, sempre, à luta espúria contra tudo e contra todos de pensar diferente, o que,
em verdade, não anda assim tão longe do status social por nós vivenciado.
Sendo capazes até de fictício decreto
proibitivo do exercício da arte e no expurgo de seus praticantes, como presencial fio condutor da narrativa e da
progressão dramática deste Procópio
de Carla Faour. Assumido com rigorosa inventividade artesanal e provocadora
pulsão no comando diretor de Dani Barros.
Evocativo em sua estética teatral do no sense da censura, da coerção
ideológica e dos desmandos pela violência, visualizados aqui em proposital
decadentismo. Tanto no detonado plasticismo de sua cenografia (Fernando Mello da
Costa) e indumentária (Bruno Perlatto), como nos efeitos de sombreamento
melancolizado, ora da ambiência luminar (Renato Machado), ora dos episódicos
efeitos sonoros (Rodrigo Marçal).
Completada por convicta representação na dúplice performance de Kadu Garcia e Paulo Gianni em intrépido
jogo cênico, entre o lúdico e o reflexivo, pela afirmação da dignidade humana no embate contra os “muros invisíveis”. Preenchendo, ambos, todos os contornos de dosagem ambígua de seus
personagens no encaminhar-se ao fogo ardente de um epílogo/tributo que comove e torna cúmplice cada espectador.
Mesmo que nos caracteres de
individuação destas personificações haja um prevalente duelo de oponentes, ao dimensionar a
psicofisicalidade destes dois miseráveis habitantes de um submundo na desconstrução
de princípios e valores civilizatórios.
Diante de impasses aproximativos dos referenciais beckettianos da espera sem possibilidades e das inalcançáveis buscas,
entre perguntas sem resposta sob o compasso da dúvida.
Na solidez, enfim, de uma
teatralidade substanciada, exemplarmente, entre a fabulação, com sotaque de
absurdo teatral ancorado no futurismo, e um visceral verismo sintonizando a
atual problemática da nossa identidade nacional.
Wagner Corrêa de Araújo
PROCÓPIO – Um Exercício Sobre o Futuro – está em cartaz no Sesc Copacabana, de quinta a sábado, às 20h30m; domingo, às 19h. 80 minutos. Até 23 de setembro.
PROCÓPIO – Um Exercício Sobre o Futuro – está em cartaz no Sesc Copacabana, de quinta a sábado, às 20h30m; domingo, às 19h. 80 minutos. Até 23 de setembro.
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