FOTOS/MARCELO CASTELLO BRANCO |
Há quase uma década de sua morte, a midiática mitificação de
um pop/star continua intacta, não só na lembrança popular como nas retomadas
discográficas/cinéticas, como na
permanência no universo dos shows . E sua vida e arte são, ainda, capazes de
inspirar incursões coreográficas, performático e musicais como é o caso, na cena
carioca, de O Homem no Espelho.
Partindo do mesmo formato que possibilitou , através de “Beatles Num Céu de Diamante”, da dupla
Moeller/Botelho, a mais resistente
carreira de um musical brasileiro. Claro que, no caso deste “thriller”a la Michael Jackson, com menor
pretensão e menor aporte de produção e patrocínio, como um reflexo natural de
tempos de crise.
Sem o perfeccionismo da força temática e musical que estruturou a
trilha cenográfica em torno dos Beatles,
este Homem no Espelho, com a mesma titularidade de uma das faixas do álbum Bad,
teve roteirização e direção musical de Jules Vandystadt, sob o comando diretorial de Kika Freire.
Contando com um pequeno mas apurado naipe de cantores/atores que atuam,
em clima de absoluta entrega, inclusive em incidências instrumentais, na sua formação quase banda pop/rock, no quinteto integrado por Jules
Vandystadt, Evelyn Castro, Gottsha, Ester Freitas e Raphael Rossatto.
A minimalista concepção cenográfica(Teca Fichinski)possibilita uma dúplice funcionalidade, ora no uso da frontalidade de painéis metálicos, de remissão especular/imagética
à nominação do espetáculo, ora em ocasionais manipulações percussivas pelos
performers. Incluído aí o afinado grupo
meramente instrumental (Heberth Souza,
Matias Corrêa, Naife Simões, Thais Ferreira).
A identificação uniforme, tanto na tessitura mais acinzentada da indumentária (outra vez, Teca Fichinski) como no sombreamento da ambientação cênica, é acentuada pelo rigorismo
do desenho de luz(Paulo Cesar Medeiros). Ajudando na materialização do imaginário videográfico de M.
Jackson em momentos clássicos como Thriller e, também, através do meio branqueamento da mascaração(Uirandê de Holanda).
Mas, por vezes, clamando por uma plasticidade mais clarificada em determinadas
citações composicionais de apelo luminoso/humanístico como Real The World. E por um arrojo maior no gestual coreográfico
referencial a um precursor/mistificador de uma estilização hip hop/pop no inventário
das danças urbanas.
A performance de um elenco de qualificação atende às exigências de um teatro musical quanto ao domínio da
representação emotiva unificada , entre a vocalização e a fisicalidade. Onde a
conhecida competência de Gottsha, encontra interpretes à altura nos solos de
Evelyn Castro e Esther Freitas. Sem deixar de mencionar um consistente cantor, ator e instrumentista Raphael Rossatto, muito
à vontade em Billy Jean.
E um convicto artesão
musical -Jules Vanystadt - assumindo,
com a mesma intensidade de cantante teatral, seu inventivo aporte nos arranjos(culminante nas inserções de acordes e citações
nativistas em Don’t Stop Til You Get Enough) e na criteriosa seleção antológica
para concisos setenta minutos de tributo ao extenso legado artístico de um
encantador mor de gente dos oito aos oitenta.
Wagner Corrêa de Araújo
O HOMEM NO ESPELHO está em cartaz no Teatro das Artes/Shopping da Gávea, segunda a quarta, às 21h. 70 minutos. Até 31 de janeiro.
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