FOTOS/BRUNO VEIGA |
Se existe algum referencial na titulação da última criação da
Renato Vieira Cia de Dança com o filme Bonjour
Tristesse(Otto Preminger/1958) é exatamente na melancolia de sua personagem protagonista(na inesquecível performance de Jean Seberg).
Outra inspiração, esta mais incisiva e direta , para sua
tematização coreográfica parte do conhecido
poema “Cem Pessoas” de Wislawa
Szymborska, prêmio Nobel de Literatura 1996, emblemática e irônica reflexão filosófica/estatística
sobre o vazio afetivo nos relacionamentos humanos .
Tudo se completando numa seguida nominação - Blue,Bonjour Tristesse - com o melancólico acento musical deste gênero
jazzístico. Aqui reinventado numa das mais precisas trilhas de Felipe Storino, de acento autoral ímpar na
prevalência dos seus acordes
percussivos, com citação de duas
interferências vocais de Nina Simone (Sinner Man e Strange Fruit).
Onde a minimalista concepção cenográfica, entre a constância
de um belo desenho entre sombras e luzes de Binho Schaeafer, é perceptível
ainda nos tons escuros dos figurinos (
Bruno Cezário) convivendo com episódicas entradas de corpos desnudos.
A composição formal da Cia. é potencializada, também, na inclusiva
participação de bailarinos de outros grupos dando–lhes abertura para um
processo dinamizador de improvisação
técnica/emotiva sob as linhas condutoras da sempre funcional parceria coreográfica Bruno Cezario / Renato Vieira.
Numa conjugação estilística de identificação das notórias
experiências de Renato Vieira com o teatro musical e as atuações frequentes de
Bruno Cezario em diversas tessituras da contemporaneidade.
Desta vez priorizando o elemento masculino num trabalho de sustentação
estética colaborativa de oito
integrantes ( Dinis Zanotto, Elton Sacramento,Felipe Padilha, Flávio
Arco-Verde, Jeferson Lengruber, Marlon Ailton, Tiago Oliveira, Wallace
Guimarães), em solos, duos, trios e conjuntos,evitando sempre o virtuosismo
meramente competitivo.
Mesmo que, às vezes se percebam pequenas quedas na progressão
rítmica da encenação, causadas talvez pelo confronto de posturas
individualizadas em atuações externas anteriores e não bem amarradas ainda para
tão recente conjunção.
Entre o seu livre funcionamento criador e as exigentes pulsões
de fisicalidade e de emoção, para uma montagem de necessária especificidade na gramática
cênica: visualizando o apelo reflexivo ao fazer dançar a escuta sonoro/musical
da palavra poética.
Ao permitir esta vertente como obra aberta o comando
diretorial ( Renato Vieira) e artístico(na dúplice realização, com Bruno
Cezario), desafia os possíveis riscos com senso crítico e energia artesanal.
Neste seu outro investimento artístico no conceitual literário/coreográfico,
contraponto estético sempre relevado com a Renato
Vieira Cia de Dança, pelo descortino de novas linguagens para a dança
contemporânea brasileira .
Wagner Corrêa de Araújo
BLUE - BONJOUR TRISTESSE, com a Renato Vieira Cia de Dança, está em cartaz no Teatro Ginástico/Centro do Rio, de quinta a sábado, às 19h;domingo às 18 . 60 minutos.Seguindo-se em temporada pelo Circuito Sesc de Teatros/RJ, até o dia 10 de junho.
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