PÁPRICA FOTOGRAFIAS |
Uma bizarra mistura de melodrama e comédia, assim boa parte
da crítica e do público classificou o filme de Almodóvar, de 1988, que na sua transposição cênica como musical da Broadway conserva o título original – Mulheres à Beira de Um Ataque de Nervos.
Pepa ( Mariza Orth) carrega uma gravidez não desejada de Ivan (Juan Alba) ,o amante que a abandonou por
Lúcia (Stella Miranda),além do espanto de saber que sua melhor amiga Candela( Helga
Nemeczyk), se apaixonou por um terrorista.
Integram ainda a trama Carlos (Daniel Torres), o filho
fragilizado de Lúcia e noivo de Marisa( Carla Vasquez), o tresloucado taxista/narrador (Ivan Parente) e a
advogada(Erika Riba).
Reflexo dos novos tempos comportamentais e artísticos com o fim da era Franco , outros
horizontes se abrindo inclusive com a abertura contracultural do movimento “movida
madrileña”, há uma predominância do sotaque kitsch
tanto na linguagem da tela como na do
palco.
Irreverência e
promiscuidade sexual, num enredo farsesco entre o humor e o drama, carregado , em cores
fortes, de um provocante referencial a
prostitutas, drag queens, freiras e
drogados.
Explorado na medida exata, sem cair no mero grotesco e na
vulgaridade, pelo tom folhetinesco
adotado pela versão textual e pela concepção cênica de Miguel Falabella. Com um elenco
ajustado aos papéis , conduzido com ritmo e meticulosa tarimba.
As personagens femininas protagonistas revelando uma unidade
interpretativa que , de forma convincente, passa emoção e riso para a plateia.
Com marcações naturalistas dispensando artifícios desnecessários, tanto no nervosismo extrovertidamente desesperado de Mariza
Orth, como na espontânea exaltação de Stella Miranda.
Ou na garra
comunicativa revelada nos caracteres risíveis de Helga Nemeczyk. E , ainda,
pelo viés masculino, na canalhice sedutora de Juan Alba e nos delírios de Ivan
Parente, funcionando sempre num coesivo timing de todo o elenco.
A montagem tem uma
sensível visibilidade na bem cuidada arquitetura cenográfica (J.C. Serroni), no
clima de fantasia propiciado pelas projeções (Renato Vilarouca) e pela iluminação (Drika Matheus) , no requintado figurino( Fabio Namatame) e na dinamizada
gestualidade coreográfica( Fernanda Chamma).
Mas sua trilha , sem um especial brilho e apelo melódico, não dá o suporte musical necessário à transposição
da trama fílmica, mesmo na sua
latinidade de rumbas, mambos e até bossa nova, nos cuidadosos arranjos e afinada execução do conjunto, sob André Cortada.
Permitindo, ao final ,a frustrante sensação de um nostálgico gosto pelo original cinematográfico, na sua superatividade diante
do musical. Incapaz este, enfim, de uma real autonomia inventiva na transmutação da graça irônica e desenvoltura crítica da obra almodovariana.
MULHERES À BEIRA DE UM ATAQUE DE NERVOS está em cartaz no Teatro Oi Casa Grande, Leblon,sexta às 21h; sábado , às 17h30m e 21h30m;domingo, às 17h30m. 120 minutos. Até 8 de maio.
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