FOTOS/RENATO MANGOLIN |
O risco desaparece quando não existe o medo. E é assim que os
integrantes da Intrépida Trupe vem desafiando, há três décadas, com suas
trajetórias cênicas de irreverente coragem, o ato da criação sobre uma corda no
abismo.
Desde as primeiras incursões, nas ruas e sob a lona do Circo Voador, até o reconhecimento público e crítico, como companhia de linguagens circenses , em
apresentações na Copa do Mundo 1986, no
México.
Como intrépidos intérpretes numa trupe de atores/ acrobatas /bailarinos
que vem enriquecendo a cena cultural brasileira, não só com uma singularizada
comunhão de artes, mas em alentados
ofícios pelo bem social.
Capazes, já nas primeiras criações, de demonstrar uma liberdade
inventiva tão grande confundindo até mesmo a nominação de grupo , sem limitações
entre o acrobático, o teatral, o coreográfico, além ainda da performance
plástico/visual.
O que, abrindo exponenciais perspectivas criadoras, enunciou
um infinito propósito conceitual através
de realizações de rica diversificação na abordagem temática , do científico ao
literário, do esportivo ao comportamento social.
Dando continuidade a este projeto desbravador que já teve os nomes, entre outros, de Graciela Figueroa e Deborah Colker, Gringo
Cardia e Thierry Tremouroux e, agora, do coreógrafo Mário Nascimento, convidado
para abrir as comemorações de aniversario (1986/2016).
Com sua original e arrojada marca investigativa na
contemporaneidade , ele se atirou à experimentação visceral da fisicalidade
humana ,numa obra aberta ao fazer coletivo com os intrépidos/integrantes – sob o título de À Deriva.
Sem usar equipamentos aéreos sofisticados, preso apenas a acrobacias
em tecidos e arcos suspensos, apropriou-se da identidade atlética e
personalista dos intérpretes, incorporando-lhes um significativo traço coreográfico
.
Sem jamais interferir
no potencial de corpos acostumados a um absoluto tônus de torsão e
flexibilidade. Mas destacando a particular expressividade gestual , o sotaque
de lírica sensualidade e o envolvente
feeling de cada um deles (Ana Lu Rehder,Beth Martins,Camilla Oliveira,Ciro
Ítalo,Diogo Monteiro, Júlio Monteiro,Maria Celeste Mendozzi,Phelipe Young e
Vanda Jacques).
O score musical ( Camilla Oliveira/Phelipe Young/Mario
Nascimento/Steven Harper), entre o eletrônico, um sotaque break e passagens jazzísticas, alterna síncope e
inspirada ambientação sob luzes(Dodo Giovanetti/M.Nascimento),numa cenografia
minimalista e figurinos cotidianos, tudo
de artesanal concepção conjunta (Mário
Nascimento/ Intrépida Trupe).
Como uma nave ao léu , batendo contra tudo, À Deriva
reflexiona , em seu simbológico desiquilíbrio e tensão de corpos /pêndulos , diante da incerteza do que está por vir, a amarga
certeza de serem espelhos de nós mesmos.
À DERIVA , com a INTRÉPIDA TRUPE, está em cartaz na Fundição Progresso, Lapa/RJ, de sexta a domingo, 20h. 60 minutos. Até 24 de abril.
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