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Glauce. Leonardo Netto/Dramaturgia. Débora Dubois/Direção. Debora Duboc/Protagonista. Setembro/2023. Fotos/Priscila Prade. |
“Minha função não é ser estrela, mas ser atriz” ( Glauce Rocha) .
Esta pode ter sido uma predefinição para o ideário da atriz Françoise Forton ao homenagear Glauce Rocha, que fora a força propulsora de sua decisiva opção pela carreira teatral quando a conheceu ainda uma garota, na Brasília anos 60. Incentivando-a à escolha do caminho artístico ao perceber seu talento nato, a partir da imediata aprovação em teste, no Rio, para o elenco jovem do filme Marcelo Zona Sul, de Xavier de Oliveira, estreado em 1970.
Acometida por uma internação hospitalar por doença terminal,
Françoise Forton chegou a ler e reler, ali, o texto dramatúrgico Glauce,
mais uma das inspiradas criações do ator, dramaturgo e diretor Leonardo Netto, e
que seria o primeiro passo para dar vazão a um sonho, interrompido pouco depois
por sua definitiva partida.
Mas, por intermédio do empenho do marido e produtor Eduardo
Barata preenchendo, assim, um último desejo de Françoise Forton, a peça Glauce está, finalmente, nos
palcos com a atriz Debora Duboc, que fora também a madrinha de seu casamento, e
sob a direção concepcional de Débora Dubois.
Num justo e significativo tributo a um nome emblemático do
teatro, do cinema e da televisão, além de seu bravo engajamento na defesa da
classe teatral e das causas políticas em amargos tempos de absurdidades
ditatoriais do regime militar.
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O que me fez lembrar a emoção numa feliz oportunidade que tive,
adolescente ainda do interior mineiro, ao conhecer de perto Glauce Rocha em
1966. Vindo de Juiz de Fora ao Rio graças à
insistência de uma tia, a atriz Lysia Araújo, que
integrava o elenco do Grupo Decisão de Antônio Abujamra, na polêmica versão do clássico Tartufo protagonizada por Jardel Filho e Glauce Rocha.
A narrativa dramática da peça Glauce, em formato monologal, mostra
a madrugada derradeira (12/10/1971) da atriz, através de um sensorial e
instigante registro de seus caracteres comportamentais psicofísicos. Numa retomada, em tom confessional, de suas reflexões sobre a arte e a vida, entremeadas pelo assumido e nervoso gestual indagativo de uma dependente
de cigarros e calmantes.
No despojamento de um cenário (Giorgia Masssetani), dividido
bem a propósito pela transparência de
uma cortina branca e escassos elementos materiais, metaforicamente, induzindo um imaginário quarto/câmera mortuária. Ocupado por uma atriz coberta por leve e elegante peignoir (Karen Brusttolin) sob
sombreadas luzes e referenciais inserções sonoras (na tríplice realização da diretora Débora Dubois).
Onde a consistente interiorização e adequação presencial na convicta
entrega ao personagem por Debora Duboc acaba, em processo visionário, sugestionando um clima antecipatório da despedida
final de Glauce naquela madrugada
trágica. Enquanto imprime uma atribuição
conceitual e reflexiva na contemporaneidade do poder feminino ecoando nas palavras de Glauce:
“Eu me identifico na
fixação pela luta, mesmo com tudo adverso ao meu redor. Não desanimo nunca, não
me deixo dominar pelos reveses sofridos ou pelos obstáculos encontrados”.
Pela competência artesanal com que Débora Dubois conduz o desenrolar
dos avanços dramáticos de uma teatralidade favorecida não só pelo encontro das atrizes envolvidas na criação do espetáculo, mas transubstanciada também no legado do inventário memorial e do contraponto afetivo e identitário das outras duas atrizes (Glauce
Rocha e Françoise Forton).
“Gostaria de morrer
jovem. Mas, se Deus me permitir, quero partir para a outra vida com a mocidade
e a glória da minha arte”. (Glauce Rocha).
Wagner Corrêa de Araújo
Aqui é Cristina Avila, me deu uma saudade da nossa Maria Lysia!
ResponderExcluirWagner, que profundo o que você escreveu. Estou relendo algumas coisas, organizando e bateu forte. Glauce é uma peça sobre o tempo no tempo. Veio-me isso.
ResponderExcluirWagner, esse último comentário é meu, Débora Duboc 😘😘
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