Desde 1975, por aqui, pôde se conferir a expansiva
criatividade de companhias holandesas
como o Het National Ballet e o Nederlands
Dans Theater . Seguindo-se também as turnês da NDT 2 que já passou, mais de uma
vez, por nossos palcos e volta agora em
breve temporada, em ano de escassas opções internacionais.
Enquanto a original NDT
é de 1959, a partir dos anos 80, atua paralelamente a ala juvenil da NDT 2 comandada, em longo percurso, por Jiri Kylian , sucedido por Paul Lightfoot e Sol Leon.
Seus integrantes/bailarinos tem idade variável entre 17 e 23 anos e , certamente,
farão parte um dia da companhia mor.
Eles não atuam como meros iniciantes, pois apesar da pouca idade impressionam,
sobretudo, pela maturidade técnica,
graças a um exigente treinamento. E pela enérgica graciosidade virtuosística em criações idealizadas para a maior e melhor
revelação destes talentos jovens.
Em suas inúmeras turnês, o repertório mostra uma perceptível
conexão alterativa entre obras narrativas ou simplesmente abstratas , mas
sempre na prevalência de abordagens contemporâneas com espiritualidade juvenil. Desde o gestual espontâneo, instintivo e extremamente comunicativo para as plateias de
quaisquer idades, como na sua entrega à
representação (coreo)dramática.
Em obras curtas e, com raríssimo ultrapasse da média 20>30
minutos, projetando-se, assim, cada programa
entre três a quatro obras. Exceção é Cacti,
de Alexander Eckman , de proposição estética mais ousada com sua densidade
conceitual de dança/teatro e substituída, infelizmente, apenas na dúplice
performance no Municipal do Rio.
I New Then,de Johan Inger, é inspirada nas sensações
psico/físicas provocadas por acordes
pop/blues/rock do cantor/ compositor irlandês Van Morrison, num ironizado contraponto às buscas de afeto e companhia.
Um casal sugestionado em minimalista cenário claro /escuro, em
sutis incidências eróticas, confronta a divertida reação masculina de ciúme, em
solilóquio vocal com um tom histérico acima. E em humorados sequenciais de desnudamento literal de cada
intérprete, em duos, solos e trios, numa fluída fisicalidade em cinco segmentos.
O que se torna
presencial ainda nas impulsivas mutações e na instantaneidade de movimentos de Mutual Comfort, de Edward Clug, numa
linguagem estilística com traços de William Forsythe.
O tom caricatural aparece ainda na coreografia Sad Case (Sol Léon/Paul Lightfoot) incursão em ritmos latinos sob
atmosfera burlesca, com críticos referenciais de sensualidade melancolizada,
mas que soou com exagero e não impediu certa frieza numa frustrada
expectativa.
Já em Midnight Raga,
de Marco Goecke, a partir de sonoridades orientais de Ravi Shankar, há uma perceptível nuance gótica na transmutação corpórea
da imaginária sacra da Índia milenar.
Com expressivo dramatismo facial e rica gestualidade no seu
contorcionismo escultórico. Em duo
coreográfico de imediata adesão da plateia para a mais visceral e compensadora performance
da noite carioca do NDT 2.
Wagner Corrêa de Araújo
O NEDERLANDS DANS THEATER apresenta-se em turnê nacional, desde o dia 29 de setembro em São Paulo, seguindo para o Rio de Janeiro ( 03 e 04 de outubro) e Belo Horizonte (7 de outubro).
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