FOTOS / RENATO MANGOLIN |
A trajetória lendária de um personagem popular ficcional do morro da Mangueira começa , em 1935, com um soneto de Noel Rosa- Triste Cuíca , imortalizado em estórias de samba ( Hervê Cordovil).
Malandro , pracinha, galanteador e sambista , Laurindo
(Alexandre Rosa Moreno) foi, assim, identificado nominalmente nos versos
musicais de Herivelto Martins, Haroldo Lobo, Wilson Baptista,Heitor dos
Prazeres ,entre outros muitos mestres cantadores de suas aventuras.
A Cuíca do Laurindo faz ,assim, uma radiografia sonoro / poética de tempos históricos de boemia carioca, no descompromisso
e na levada das batucadas. Da pobreza de subúrbios e morros às noitadas mais
caras, mas sem preconceito , do Café
Nice.
Neste cordão encantado, sem limites de gênero , com
sotaque de teatro de revista, de cabaré , em clima de gafieira , nas ondas do rádio
e no recorte da chanchada cinematográfica, conduzido com visibilidade e adesão sincera pelo diretor Sidnei Cruz.
Onde há generosas retomadas musicais nos arranjos de Luís Barcelos para dinâmicos
experimentos instrumentais (violão, cavaquinho, sopros e percussões).
Completada no sensorial gestual
coreográfico imprimido por Ana Paula Bouzas, sob a adequação dos figurinos (
Flávio Souza) e luzes (Aurélio de Simoni) a uma
recatada concepção cenográfica(José Dias).
Que, arquitetada em
dois planos, exibe os músicos sob rampas
laterais rústicas por onde sobem e descem os atores, numa singular favelização
do luxo das revistas musicais. Onde as coristas, as plumas e paetês e os efeitos luminosos dão lugar a
improvisados e simplificados disfarces .
Em ajustado senso interpretativo são realçadas vozes e
movimentações individuais e coletivas de
um elenco (Alexandre Moreno, Cláudia
Ventura, Hugo Germano, Marcos Sacramento,Nina Wirtti,Rodrigo Alzuguir,Vilma
Melo)que prende o espectador por sua intuitiva espontaneidade.
Se, por um lado, sobram calor e fluem bem humoradas marcações,
há quebra no ritmo quando a narrativa ,por vezes, se perde em confusas
elucubrações de trama policialesca e de mistério.
Mas se a teatralidade carece de ser mais concisa, há uma
convicta e sensível procura por novas soluções e saídas. Para que o espetáculo atinja o tom exato e
revele, enfim, outros possíveis caminhos para um musical à brasileira.
Wagner Corrêa de Araújo
Wagner Corrêa de Araújo
A CUÍCA DO LAURINDO, em nova temporada,no Teatro Carlos Gomes/Centro/RJ,de quinta a sábado, às 19h;domingo, às 17h. 105 minutos. Até 30 de julho.
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