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Olga e Luís Carlos - Uma História de Amor. Silvio Tendler/ Direção Geral/Dramaturgia. Junho/2023. Fotos/Claudia Ribeiro. |
Dentro do ideário para um projeto cênico que será
transmutado em cinema-documentário, Olga
e Luís Carlos - Uma História de Amor representa a primeira incursão do
premiado cineasta Sílvio Tendler nos palcos, em dúplice oficio - direção geral
e roteiro dramatúrgico.
Contando, simultaneamente, com a preciosa parceria direcional
de Isabel Cavalcanti e de Vera Novello, na criação textual. Esta última integrando-se
ao elenco em oportunas intervenções cênicas, entre a narração e a atuação, junto
aos protagonistas titulares Mariana Mac Niven (Olga)
e Julio Adrião (Luís Carlos).
E inspirado na instantânea paixão amorosa surgida nos primeiros
contatos entre os dois revolucionários marxistas e militantes comunistas, ambos asilados em Moscou, quando
a judia alemã Olga Benário parte, em 1934, de seu refúgio soviético onde integrava uma unidade do Exército Vermelho, em direção ao Brasil.
Na oficial missão de acompanhar os direcionamentos ideológicos e políticos de Luis Carlos Prestes, na viagem de volta ao seu País natal, com a finalidade de promover uma intentona comunista no Brasil.
Que acaba fracassando, em 1935, sendo ambos presos em território brasileiro, ficando Prestes aqui recluso nas prisões de Vargas, enquanto Olga Benário, já grávida de seu companheiro, é entregue à Gestapo. Em repulsivo ato de covardia ditatorial por Getúlio, demonstrando sua simpatia e seu subliminar apoio ao regime nazifascista.
A trama se inicia a partir da sensitiva correspondência trocada nos seis anos seguintes aos
encarceramentos do casal, do afastamento da filha, mal completado um ano de nascimento na prisão, até a brutal terminalidade de Olga nos campos de
concentração de Ravensbrück e Bernburg. Através das cartas reais ou nunca
enviadas, guardadas por sua filha a historiadora Ana Leocádia.
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Olga e Luís Carlos-Uma História de Amor. Mariana Mac Niven e Julio Adrião. Junho/2023. Fotos/Claudia Ribeiro. |
Em reconstituição que se atém à verdade histórica imprimindo
a esta um sutil sotaque poético nas descobertas expressivas de uma linguagem
gestual (Marina Salomon) híbrida, capaz
de evocar dor e esperança em meio às
trevas. E que se completa numa performance atoral de poesia e pânico, no entremeio
da solidão
de dois cárceres em dois continentes. Resultado de um oficio artesanal e do amadurecido
empenho da diretora Isabel Cavalcanti na manipulação do fato teatral, no comando dos atores e na direção de um espetáculo.
Tanto Mariana Mac Niven (Olga) quanto Julio Adrião (Luis
Carlos) imbuídos convictamente do trágico desalento de seus personagens. Com
uma espontânea interiorização que se
irradia em cada palavra, em cada gesto e extravasa na sofrida expressão facial de
Olga e no dimensionamento psicofísico
da ansiosa ausência em Luís Carlos por um
reencontro que nunca virá.
Sem deixar de destacar o acurado tom narrativo da atriz e co-dramaturga Vera Novello esclarecendo os avanços dramáticos, paralelamente aos registros documentais por intermédio de depoimentos, frases e imagens de época em processo projecional (pela dupla Rico/Renato Vilarouca).
Com a caixa circular de um espaço de arena sendo preenchida e
manipulada pelos próprios atores na mobilização de estacas e fios para sugestionar cercas de
arames eletrificados de um campo de concentração, delimitando o espaço exíguo de
duas celas em emotiva plasticidade cenográfica (Lidia Kosovski).
Incluída uma indumentária discricionária (Ney Madeira/Dani
Vidal), remissiva a um visagismo e a trajes prisionais, sob ocasionais variações
de luzes vazadas (Paulo Denizot), amplificada por cantos revolucionários a capela e acordes sonoros incidentais no entremeio de pausas de silêncio
(por Marcelo Alonso Neves).
Se a frase “viver é tomar
partido” (inspirada no poeta alemão Friderich Hebbel) tornou-se um lema
revolucionário para o pensador e ideólogo marxista Antonio Gramsci, ela pode ser um referencial ao bravo legado
documental do cineasta Silvio Tendler para decifrar a história política do Brasil
contemporâneo.
Depois de filmar Jango, JK, Brizola e Marighella ele incursiona, agora em inédita aventura, numa peça>filme a partir do amor de Olga e Luis Carlos. Com o olhar armado
na reflexão ideológica, sabendo sintonizar-se,
em compasso criador, como um múltiplo cineasta e diretor teatral. Que esta
reveladora surpresa dramatúrgica, afinal, se transmute logo em mais um de seus
luminosos doc filmes...
Wagner Corrêa de Araújo
Olga e Luís Carlos - Uma História de Amor está em cartaz no Arena/Sesc Copacabana, de quinta a domingo, às 20h. Até 9 de julho.
💞💞💞💞💞💞💞
ResponderExcluirTriste e linda a história de amor de duas pessoas que doaram suas vidas pela causa revolucionária em favor dos povos.
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