16º PRÊMIO NACIONAL APTR (2021) : LISTA DE INDICADOS PELO JÚRI

Cuidado com as Velhinhas Carentes e Solitárias. De Matei Visniéc. Direção Fernando Philbert. Com 6 indicações.

 

Por intermédio da APTR (Associação dos Produtores de Teatro do RJ) e através de seu júri, integrado por significativos nomes ligados à cena teatral e à cultura carioca tais como Beatriz Radunsky, Carmen Luz, Daniel Schenker, Lionel Fischer, Macksen Luiz, Maria Siman, Tânia Brandão e Wagner Corrêa de Araújo, além da reconhecida competência da Comissão Organizadora do Prêmio.

Sempre com o incentivo do produtor cultural Eduardo Barata, à frente da iniciativa desde o seu ideário e sequencial realização há mais de uma década e meia.


AUTOR:

Consuelo De Castro - Medeia Por Consuelo De Castro

Guilherme Gonzalez - Rainha

Júlia Spadaccini e Marcia Brasil - Angustia-Me

Luiz Marfuz - A Filha Da Monga

Pedro Bertoldi - A Última Negra


DIREÇÃO:

Fernando Philbert - Cuidado Com As Velhinhas Carentes E Solitárias

Gabriel Fernandes e Bete Coelho - Medeia Por Consuelo De Castro

Marcos Damaceno - Árvores Abatidas Ou Para Luis Melo

Miwa Yanagizawa - Em Nome Da Mãe

Vinicius Arneiro - Aquilo De Que Não Se Pode Falar


CENOGRAFIA:

Analu Prestes - Sonhos Para Vestir

Desirée Bastos - Em Nome Da Mãe

Luciano Wieser - A Última Invenção

Natalia Lana - Cuidado Com As Velhinhas Carentes E Solitárias

Sara Antunes - Dora


FIGURINO:

Desirée Bastos - Em Nome Da Mãe

Kabila Aruanda - Sonhos Para Vestir

Marieta Spada - Cuidado Com As Velhinhas Carentes E Solitárias

Simone Mina E Carol Bertier - Gaivota

Quitéria Kelly - A Frasqueira De Jacy


ILUMINAÇÃO:

Elisa Mendes - Em Nome Da Mãe

Valdo León - Árvores Abatidas Ou Para Luis Melo

Renato Machado - Vozes Do Silêncio

Vilmar Olos - Cuidado Com As Velhinhas Carentes E Solitárias

Wagner Antônio - Dora


MÚSICA:

Barulhista - Ficções Sônicas 02

Federico Puppi - Em Nome Da Mãe

Felipe Storino - Aquilo De Que Não Se Pode Falar

Luciano Salvador Bahia - A Filha Da Monga

Marcelo Alonso Neves - Cuidado Com As Velhinhas Carentes E Solitárias


Dora. Concepção dramatúrgica /direcional - Sara Antunes. Com 4 indicações.


ATOR EM PAPEL COADJUVANTE:

Alexandre Mitre - Conectados

Eduardo Ramos - Psicose 4h48

Joelson Medeiros - Cuidado Com As Velhinhas Carentes E Solitárias

Osvaldo Mil - Pão E Circo

Thadeu Matos - Conectados


ATRIZ EM PAPEL COADJUVANTE:

Luiza Curvo - Gaivota

Márcia Do Vale - Luiza Mahin-Eu Ainda Continuo Aqui

Maria Esmeralda Forte - Meu Filho Só Anda Um Pouco Mais Lento


ATOR EM PAPEL PROTAGONISTA:

Claudio Mendes - Lições Dramáticas Por João Caetano

Felipe Codeço - Aquilo De Que Não Se Pode Falar

Henrique Fontes - A Frasqueira De Jacy

Luis Lobianco - Macbeth 2020

Sérgio Rufino - Rainha


ATRIZ EM PAPEL PROTAGONISTA:

Bete Coelho - Medeia Por Consuelo De Castro

Carolina Virgüez - Vozes Do Silêncio

Rosana Stavis - Psicose 4h48 / Árvores Abatidas Ou Para Luis Melo

Sara Antunes - Dora / Sonhos Para Vestir

Suzana Nascimento - Em Nome Da Mãe

Vilma Melo - Mãe De Santo


ESPETÁCULO:

Aquilo De Que Não Se Pode Falar

Dora

Em Nome Da Mãe

Ficções Sônicas 02

Medeia Por Consuelo De Castro

Vozes Do Silêncio


JOVEM TALENTO  – Troféu Manoela Pinto Guimarães:

Elenco - Invencíveis

Elenco - Revolução Na América Do Sul

Filipe Frazão - Meu Filho Só Anda Um Pouco Mais Lento

Lucas Andrade - Ficções Sônicas 02

Yumo Apurinã - Por Detrás De O Balcão


ESPETÁCULO INFANTO-JUVENIL :

A Menina Akili e Seu Tambor Falante, O Musical

Ah, Se La Fontaine estivesse por aqui…

Cabelos Arrepiados

Na Borda do Mundo

Papelê – Uma Aventura de Papel 

Quase de Verdade


CATEGORIA ESPECIAL:

Ana Beatriz Nogueira – Pelo Projeto Teatro Sem Bolso


Medeia Por Consuelo de Castro. Concepção direcional Bete Coelho e Gabriel Fernandes. Com 4 indicações.

BALÉ DO TM/RJ-O LAGO DOS CISNES : NO DESAFIO DA DIFÍCIL JORNADA DE VOLTA À TRADIÇÃO CLÁSSICA

O Lago dos Cisnes/Balé do TMRJ. David Motta Soares e Cláudia Mota. Maio/2022. Fotos/Jorge Luis Castro-Revista Dança Brasil.


Há mais de um século, desde o sucesso da versão de 1895, pós a fracassada estreia russa em 1877, O Lago dos Cisnes se tornou um protótipo do balé romântico e da dança clássica. Neste sentido, a composição de Tchaikovsky ficou marcada por seu fator simbológico não apenas no plano musical (com a utilização do leitmotiv) e coreográfico (o rigor da técnica acadêmica a serviço do potencial sinfônico). 

Estendendo seus significados aos questionamentos psico/filosóficos da duplicidade personal, contextualizada no romance “O Duplo” (1846), de Dostoievsky, inclusive inspirando, na década anterior, a trama dramatúrgica do filme Cisne Negro. No balé, o desdobramento sensorial do personagem Odete><Odile, em seu processo de encantamento, vai de um idílico romantizar a um exponencial sensualizar, na personificação da brancura ou do negrume de um cisne.

E é esta transmutação do eu no outro que permitiu a mutabilidade de suas identificações, da madrasta inicial ao feiticeiro Von Rothbart, como na passagem do feminino ao masculino, nos cisnes da polemizada versão de Matthew Bournes. Ou no complexo edipiano do Príncipe Siegfried pela Rainha Mãe, segundo a transcrição de Mats Ek’s.

Também o seu itinerário cênico/brasileiro é significativo e singularizado pela pioneira versão integral nas Américas, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, há mais de meio século,1959, através da remontagem de Eugenia Feodorova. Sendo a última versão completa, apresentada neste histórico palco, a de 2016, em concepção comandada por Yelena Pankova e originalmente criada por ela, a partir de ligeiras variações, em 2006.



E, agora, depois de seis anos, o Balé do Theatro Municipal faz sua primeira tentativa de retomada de um dos mais emblemáticos clássicos de seu repertório, já quase próximo do centenário da Cia., o que acontecerá quase ao final da década seguinte. Após enfrentar diversas crises, das financeiras aos dois anos de interdição por motivos sanitários, pela eclosão da Covid. Precipitada pela partida de diversos integrantes/solistas do Corpo de Baile que optaram por companhias do exterior, especialmente europeias.

Naturalmente, isto representou uma grande perda na preservação da qualidade de sua trajetória técnica, mantida primordialmente pelo preparo, rigoroso e cotidiano como deve ser, para suas temporadas anuais. E a questão se agravou mais com a falta de concursos para renovação de suas vagas e substituição daqueles que estão já fora da faixa etária ideal e não apresentam mais o mesmo rendimento físico/artístico em suas atuações.

Com esta interrupção de dois anos pelo surto pandêmico e o engessado preenchimento por falta de novos concursos, o Balé do TM/RJ continuou arriscando-se a não fazer mais jus à sua tradição qualitativa de única companhia clássica oficial do país. O que, claramente, foi demonstrado pela melancólica e equivocada performance de As  Bodas de Aurora, onde o brilho dos poucos solistas entrava em flagrante conflito com um improvisado elenco, complementado fragilmente à base de alunos da Escola Estadual Maria Olenewa, ao lado de um decadentista suporte cenográfico e imprecisões técnicas.

Através dos recursos de um bem-vindo patrocínio, os atuais diretores (Hélio Bejani/Jorge Teixeira) do Corpo de Baile conseguiram, finalmente, realizar este O Lago dos Cisnes, um pouco mais próximo da qualidade de percurso das remontagens deste clássico, bastante funcional mas ainda carente do alcance absoluto de um esteticismo ideal.

Desde o prólogo, mesmo assim, fica instaurado um clima quase de magia da representação, tanto por uma maior segurança do Corpo de Baile, complementado com bailarinos contratados para a apresentação e ainda com suporte da EEDMO, como pela energia, consistência e desenvoltura dos solistas. Ampliado em acertado contraponto na sustentação da OSTM, conduzida com mãos firmes pelo maestro Tobias Volkman, com apenas um pequeno descompasso na gradação do volume sonoro do naipe de sopros, no inicio do primeiro ato, em noite de estreia.

O Príncipe Siegfried de David Motta Soares, como já era o esperado por seu apuro profissional na passagem pelo Bolshoi Ballet, exorbitou sua primorosa técnica e sua elegante gestualidade em porte esguio, dando potencial leveza à sua entrega passional ao personagem. Com uma ressonância de brilho privilegiado também na performance de Claudia Mota, em sua imposição equilibrada e aprimorada do arquétipo dialogal Odete/Odile. Sem deixar de falar na espontaneidade criativa e do sempre energizado domínio cênico/corporal do Bobo da Corte de Cícero Gomes.

Mantido, ainda, neste O Lago dos Cisnes, o senso plástico da cenografia e dos figurinos voltados à tradição, em sintonia com o processo coreográfico a partir da criação original (Petipa/Ivanov). Dentro de uma certa releitura técnica e com pequenas alterações no enredo, não tanto significativas ou prejudiciais ao andamento da pulsão estética de uma obra carismática da história da dança.


                                        Wagner Corrêa de Araújo


O Lago dos Cisnes, com o Balé e a OSTM, está em cartaz no Theatro Municipal/RJ, Cinelândia, de sábado 14/05 até a próxima quinta feira, 26 de maio, às 19h.

INTIMIDADE INDECENTE: RISO MORDAZ E IRONIA CRÍTICA NO ENTORNO DA LONGEVIDADE CONJUGAL

Intimidade Indecente, de Leilah Assumpção. Guilherme Leme Garcia/Direção. Maio 2022. Fotos Luciana Mesquita.


No despontar de seus aproximados sessenta anos, após a vivência de um relacionamento matrimonial de duas décadas, casal experimenta o desgaste e surgem os primeiros abalos e rupturas. E que vão se sucedendo, entre partidas e reencontros, até alcançar a decrepitude da velhice terminal.

Entre os dezesseis textos dramatúrgicos de Leilah Assumpção, a maioria deles afirmativos da condição feminina sob o signo libertário de um grito de protesto em desafio à opressão de uma sociedade machista, Intimidade Indecente, de 2002, é o mais recente entre os que chegaram aos palcos.

Enquanto Mariano, o marido (Marcos Caruso) confessa estar tendo um caso com a jovem de 17 anos, amiga de sua filha, provocativamente sua mulher Roberta (Eliane Giardini) vai mais longe e acaba por  revelar sua assumida paixão homossexual por outra mulher, no caso a sua analista.

Em sua linguagem despudorada carregada, vez por outra, de agressividade e de palavrões, a autora desnuda, sem quaisquer atenuantes, os frágeis prazeres e os podres poderes da sexualidade na terceira idade.

Mantendo, assim, o mesmo vigor de insolência que lhe trouxe a pecha da fama pela polêmica, por sua postura de permanente enfrentamento, desde os anos da insensata censura e do ridículo conservadorismo da ditadura militar.

Esta peça, a partir de sua estreia, nunca encontrou uma parceria tão ideal quanto a da performance de Marcos Caruso, ora ao lado de Irene Ravache, ora de Vera Holtz e, nesta atual temporada, de Eliane Giardini. Com estas duas últimas atrizes, sob a sempre acurada direção de Guilherme Leme Garcia.

Intimidade Indecente Com Eliane Giardini e Marcos Caruso. Maio/2022 .Fotos/Luciana Mesquita.

Desta vez, contando com minimalista cenografia  (Aurora dos Campos) absolutamente funcional no seu significado metafórico, sediando plasticamente duas vidas em décadas, à base de um único sofá em posição frontal num palco despojado. Sob efeitos de iluminação (Tomás Ribas) alterativos, entre uma prevalência luminar vazada ou climatizando, em emotiva ambiência psicológica, a cena final.

O casal sempre portando a mesma indumentária, sem qualquer mudança aparente, com ligeira variação visual apenas no formato do cabelo preso ou solto de Eliane Giardini ou nas mudanças nas expressões faciais de ambos. E com entradas musicais incidentais, ora em citações gravadas ora a capella através de popular canção infantil que acaba tendo o compartilhamento vocal da plateia.

Onde a performance naturalista imprime sempre um comportamental dia a dia, tanto  no dimensionamento gestual como  na dialetação verbal, ora calma ora tensa, entre os dois atores, nesta abordagem dos conflitos conjugais e domiciliares próprios à maioria dos casais na travessia progressiva do tempo e das idades.

O que acaba levando, automaticamente aos clichês e estereótipos capazes de propiciar, em contextualizados lugares comuns, certa previsibilidade narrativa mas também uma mais fácil identificação com espectadores, geralmente aqueles na faixa da meia idade em diante.

Provocando-lhes um sensorial riso lúdico à beira de ilusória alegria ao se depararem, por exemplo, com o questionamento de um dos atores sobre o que é a solidão. Em subliminar e irônico amargor convergindo ao mesmo tempo, sob um sotaque de melodrama, para o humor e para a melancolia.

Numa artesanal gramática cênica conduzida com perceptível empenho e habitual maestria por Guilherme Leme Garcia. Em energizada sintonia com a potencialidade carismática de dois atores (Marcos Caruso e Eliane Giardini) esbanjando maturidade nesta pulsão, sob o mecanismo de um signo verista de liberdade instintiva, direcionada à abordagem performática de um conflito de vontades.

Em inventário dramático que se sustenta num teatro sólido como espetáculo, consistente por sua verdade interior. E que revela na sua contextualização crítica da solidão humana, quem sabe, uma parte da história de cada um de nós...


                                             Wagner Corrêa de Araújo



Intimidade Indecente está em cartaz no Teatro dos 4/ Shopping da Gávea, quinta a sábado às 21h; domingo às 19h. Até 29 de maio.

MISERY : UMA TEMPORADA NO INFERNO EM COMPASSO DE THRILLER TEATRAL

Misery. Direção Eric Lenate. Mel Lisboa e Marcello Airoldi. Abril 2022. Foto/Leekyung Kim.

O desafio de escrever um romance em clima claustrofóbico de terror psicológico, tendo como emblemático referencial o processo de criação da escrita literária numa temporada no inferno.

Estas são as linhas básicas do livro de Stephen KingMisery, de 1987, e que já rendeu uma versão cinematográfica, um espetáculo da Broadway e montagens teatrais como esta, a mais recente, na concepção diretora de Eric Lenate.

A partir de um acidente automobilístico sofrido por um escritor numa região sob duros rigores invernais, este volta a si na casa de uma enfermeira das vizinhanças - Annie Wilkes por Mel Lisboa - em personificação dúplice como uma fã alucinada pelas narrativas ficcionais sequenciadas em torno de uma personagem feminina denominada Misery.

E que a torna revoltada pela última edição da série, sendo esta incapaz de admitir a sua exclusão definitiva de seguir no protagonismo na trama, por previsível morte. Gerando um clima misto de admiração e repulsa, além do  terrorismo psicofísico que ela passa a exercer sobre o responsável por isto - o escritor enfermo Paul Sheldon (Marcello Airoldi).

Imobilizado por fraturas no ombro e nas pernas, dependente de analgésicos e, ainda, mergulhado nas transições emotivas da enfermeira, que de admiradora passional chega a estágios de obsessão psicótica. Capaz inclusive de influir, coercitivamente, no desenvolvimento de um novo manuscrito de Paul Sheldon para resgatar, com a volta à vida, a personagem feminina excluída em tempo  terminal.

Onde os dois  atores - o escritor acamado e a enfermeira, se digladiam nos três ambientes de um cenário circular, mobilizado por quatro ágeis contrarregras visíveis em cena. Com um subliminar referencial da produção da Broadway, idealizado com extrema funcionalidade, incluídos os elementos naturalistas que compõe um decorativo quadro paisagístico por Eric Lenate, ao lado de figurinos caracteristicamente cotidianos (Carol Badra/Leopoldo Pacheco).

Extensivo no uso de interferências sonoras/visuais (relâmpagos e trovões) e na trilha sonora (L. P. Daniel) com capacidade de ampliar, nos acordes e temas musicais em andamento de leitmotiv, a sensação de suspense provocada pelas bruscas mutações sensoriais do enredo. O que aproxima muito a proposta de um teatro cinético, presencial substancialmente nos efeitos luminares (Aline Santini), numa quase peça/filme de suspense mas sem jamais abstrair a prevalência dos recursos dramatúrgicos.

Surgindo inesperadamente um terceiro personagem – o xerife Buster (por Alexandre Galindo), mergulhado nas investigações sobre o desaparecimento do escritor. Sutil, misterioso, intrigante em suas poucas palavras e gestos contidos quando se depara¸ no lado externo da casa, diante de uma janela e de uma porta, com a enfermeira Annie.

Mel Lisboa em Misery. Direção Eric Lenate. Abril 2022. Foto/Leekyung Kim.

Em convicta e diferencial representação, despertando interrogativa curiosidade e inusitada expectativa na plateia. Em acionamento interpretativo, mais voltado para a calma e o silêncio, contraditório ao permanente clima de tensão, quase pânico, estabelecido entre a enfermeira e o escritor.

Marcado sempre pelas súbitas variações emocionais, sustentadas no enfrentamento do embate de extremados climas psicóticos. Ora através da aparente dedicação afetiva da enfermeira que, em verdade, estabelece um conflito à beira da violência diante de sombrias e diabólicas atitudes para impor sua vontade até no próprio oficio do escritor.

Este por sua vez, dissimula seu medo e seu pânico diante dos surtos psíquicos dela, aceitando as ideias de mudança no entrecho ficcional de Misery sugestionando finais diferentes, como nas narrativas de Scheherazade, para ganhar tempo e escapar da morte.

Neste livre funcionamento das atitudes inventivas de um categórico diretor e na consistência de uma proposta que se impõe pela coesiva luminosidade de seus interpretes, o simultâneo experimento de linguagens não seria uma reflexão metafórica sobre o processo de criação literária?

Não convergiriam, afinal, as três personificações para uma pulsão identitária com o ofício do escritor na instigação do processo dialético entre seus personagens ou no desvendar de viagens pelos espaços siderais da mente, sob imersão visceral numa temporada no inferno?...


                                               Wagner Corrêa de Araújo


Misery está em cartaz no Teatro Sesi/Firjan, sextas às 19h; sábados e domingos, às 18hs. Até 05 de junho.

TRIBUTO À DANÇA E À MODA NA ÚLTIMA CRIAÇÃO DE ANGELIN PRELJOCAJ

Nuit Romaine, coreografia de Angelin Preljocaj. Estreia mundial em 29 de abril, 2022. Fotos/Noemi Ottilia Szabo.

Concebido como um  tributo ao Dia Internacional da Dança, "Nuit Romaine" estreou exatamente nesta data comemorativa, no último dia 29 de abril. Trata-se de uma provocante obra coreográfica que une tradição e modernidade, através de um espetáculo que percorre os espaços renascentistas do Palazzo Farnese em Roma, num ideário que uniu a Maison Dior e o diretor/coreógrafo Angelin Preljocaj.

Que retoma sua parceria com o universo da moda, já presente em criações anteriores com Jean-Paul Gaultier, em Branca de Neve, além de Azzedine Alaia em três balés, o mais significativo sendo La Fresque, inspirado numa lenda milenar chinesa. E agora na sua mais recente concepção, a partir de uma sugestão da Maison Dior, com Nuit Romaine. 

Em trajetória mágica pelas ambiências artísticas de uma das mais belas obras arquitetônicas da Roma da Renascença fazendo interagir  em processo estético transformador, afrescos, pinturas e móveis numa fusão de duas épocas, por intermédio de bailarinos em figurinos Dior, mais registros plásticos do acervo Farnese, de nobres e clérigos papais que habitaram o Palazzo nos seus anos de glória aristocrática.


Nuit Romaine. Documentário fílmico da ultima criação coreográfica de Angelin Preljocaj. Em 29/04/2021.

Numa corporeidade que conecta uma gestualidade sensorial entre o clássico e o contemporâneo, através de temas musicais barrocos e românticos a acordes modernos de György Ligeti, em figurinos atemporais (Maria Grazia Giuri) incluindo elegantes elementos ancestrais sob túnicas e sedas ao uso de jeans e tênis.

Num narrativa metafórica conduzida por duas deusas mitológicas interpretadas por duas estelares bailarinas - Eleonora Abbagnato e Friedman Vogel, em criação especial do Balé do Teatro da Ópera de Roma, com direção geral e coreográfica de Angelin Preljocaj. Sendo mais uma vez registrada em processo fílmico que o coreógrafo acha fundamental para preservar o legado da dança contemporânea: 

"Para mim, é importante dar memória à dança. Muitas pessoas consideram a dança efêmera, mas a dança não é mais efêmera que a música. É realmente triste saber de todas essas peças que não existem mais porque não foram devidamente documentadas e desaparecem, principalmente quando seus coreógrafos não estão mais aqui". E completa - "Se  você não viu o trabalho e não o conhece, pode alterar o pensamento original e isto muda a percepção da história da dança".

Sensual e poético ao mesmo tempo, Noite Romana é um experimento singular não só pela fusão da moda à dança, como por ser um surpreendente encontro de linguagens artísticas. Assistam correndo enquanto está disponível nas plataformas digitais.

 

                                           Wagner Corrêa de Araújo



          https://www.facebook.com/groups/lesballetomanes/permalink/5527674440598382/

            Ou pelo You Tube - Dior Celebrates International Dance Day with "Nuit Romaine" 
             Link: https://www.youtube.com/watch?v=BxsHOaGkjzc