FOTOS/RENATO MANGOLIN |
A dança contemporânea estabeleceu uma relação intimista e
transformadora com as artes plásticas, no multiuso dos significados de imagem, espaço
e movimento.
De Merce Cunninghan a Trisha Brown e Lucinda Childs, foram se
estreitando as experimentações aproximativas do corpo dançante com o universo visual,
através das criações artísticas de Rauschemberg, Jaspers Johns, Robert Morris e
Jackson Pollock.
Pela transmutação do
cavalete para a superfície do solo, no ato
criador de suas telas, Pollock direcionou suas técnicas para um expressionismo
abstrato de corpo/ação (action painting).
Onde o pintar se torna, então, uma performance em que “o corpo apenas persegue o gesto e o pintor se coloca literalmente dentro do quadro”.
E são corpos sobre a tela metafórica, do chão pisado pelos
bailarinos, que acionam uma singularizada concepção coreográfica de Esther
Weitzman em Dançar(não) é Preciso,
com seu sutil referencial alternativo do
verso de Fernando Pessoa.
Impulsionando uma ritualística obra coletiva com seus bailarinos/criadores(Dandara
Patroclo,Fagner Santos, João Mandarino, Julia Gil e Pedro Quaresma), inspirada no
experimentalismo da linguagem das posturas cotidianas.
Puro movimento, pura emotividade, apostando no improviso, na
energia , na impetuosidade sensitiva da
fisicalidade de corpos dialogando, com natural euforia, com as relações de tempo e de espaço.
Desmistificando a dança de mera virtuosidade na determinação
de passe livre, no silencio preenchido por batimentos solares de pés descalços ,
entre tensas posturas atléticas,
relaxantes pontuações respiratórias e libertários
sons guturais.
Com incidental referência ao Matisse de “La Danse” nas formas circulares de ciranda e ao Cunninghan da “minimal dance”, com seus caminhares e
corridas do dia a dia.
Ou na inventiva apropriação / adequação de pincéis que dançam no "dripping’’ de Pollock , o gotejamento
gestual de tintas por um corpo sobre a tela.
O percurso cênico, num palco/tela despojado, também faz uma reinvenção
metafísica de Pollock e a gestualidade,
pelas correlações no desenho de luz(José Geraldo Furtado), nos figurinos
domésticos (Miriam/Esther Weitzman) e nas incidências jazzísticas.
Tudo, enfim, numa pesquisa estética, aprofundada e
essencialista, da Cia de Dança Esther Weitzman, numa cumplicidade sensorial e
pictórica de reencontro da dança com a
vida.
Wagner Corrêa de Araújo
Wagner Corrêa de Araújo
DANÇAR ( NÃO ) É PRECISO está em cartaz no Espaço Cultural Sérgio Porto,Humaitá, de sábado a segunda ,20h. 45 minutos. Até 27 de Junho.
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