Inspirado por um encontro com o filósofo e antropólogo Bruno Latour, o jornalista especializado em teatro, Luiz Felipe Reis , decidiu inaugurar sua trajetória como dramaturgo através da original proposta cênica de "Estamos Indo Embora...". Ao lado da atriz Julia Lund enveredou por uma seara inédita no universo dos palcos - o homem versus a natureza , numa relação mais próxima do conflito que da complacência.
A partir do encontro de outras linguagens artísticas que,por sua vez, já mais de uma vez, tinham se aventurado ,com exito, pela temática, faz, agora, do teatro o porta vez de uma tragédia anunciada. Mas mantendo o fluxo evocativo que especialmente o cinema, as artes visuais, a dança e a música vem desenvolvendo em torno da questão ambiental, a direção do autor reuniu, num espetáculo quase múltipla instalação / performance , os atores Julia Lund e Márcio Machado.
A montagem é desenvolvida em três momentos, ficando ,para o derradeiro quadro, a abordagem mais convencionalmente dramatúrgica .Quando a concepção despida de seu tom palestrante desvenda , entre pausas e silêncios, o refletir amargo de um casal sobre as incertezas e a insegurança, para um filho que vai nascer, numa humanidade condenada ao caos.
O exponencial prólogo cinético com geleiras se derretendo, enquanto os atores assumem um gestual quase coreográfico, sob um efeito cenográfico de brumas congelantes , propicia o clima estético necessário para os módulos seguintes. Nestes há uma prevalência da palavra didatizada em conluios que conduzem a plateia ora no tom expositivo com nuance de conferencia científica ,ora na contradição opinativa sobre a problemática ambiental , numa inquisitiva interação com a platéia.
Embora haja um acerto na expressiva performance do elenco e na coerência dos efeitos sonoro/musicais(Luiz Felipe Reis/Thiago Vivas), paralela aos figurinos (Antônio Guedes) e a iluminação(Alessandro Boschini),a proposta inventiva não consegue evitar uma certa fragmentação dos diversos segmentos artísticos/ discursivos ali presentes, com prejuízo da arquitetura teatral propriamente dita.
O que, enfim, não inviabiliza o visível refinamento investigativo desta nova revelação autoral nos palcos cariocas. Capaz , com sua palavra, de despertar a consciência reflexiva sobre quanto tempo ainda nos resta para salvarmos o simbológico mundo verde ( lembrando o Drummond de "Fala Amendoeira"), "plantado em frente à porta /companheiro mais chegado de um homem e sua vida/espécie de anjo vegetal proposto ao seu destino".
Fotografia: Leo Aversa
ESTAMOS INDO EMBORA está em cartaz no Teatro Gláucio Gil, de sexta a segunda, às 19h. Até 28 /o9.
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