FOTOS/DALTON VALÉRIO |
Afinal, as rondas do discurso amoroso não se guiam apenas pelo apego sensitivo mas arquitetam-se nas manipulações do desejo possessivo , entre a paixão e os desafetos, nos embates obsessivos do dimensionamento psicológico e das pulsões de violenta fisicalidade.
Quantos relatos integram o dia-a-dia das páginas policiais onde, em nome dos enganos de agressivo ciúme amoroso, enteados perdem suas vidas , adolescentes enamoradas assassinam seus pais e genros tornam-se consortes de irmãs na consanguinidade de suas vítimas.
Assumindo seu referencial na literatura norte-americana (Carver,Bukowski,Sheppard,Kerouac)de relatos de solidão, entremeados pelos surtos de melancolia, pânico e agressividade, Cárdenas , com mordaz ironismo, narra , aqui, conflituosas situações amorosas de pessoas comuns e personagens anônimos.
Identificando-as com maior ênfase , ao quebrar os limites palco/plateia, numa troca de papéis em que os próprios personagens se tornam espectadores de si mesmos.
E dividindo-se na unicidade orgânica de quatro atores(Elisa Pinheiro, Gustavo Falcão, Leonardo Netto e Marina Vianna) e um músico (Ricco Vianna) dublê de ator, com conceitual parecer intervencionista na progressão dramática, além do ser guitarrista country.
E dividindo-se na unicidade orgânica de quatro atores(Elisa Pinheiro, Gustavo Falcão, Leonardo Netto e Marina Vianna) e um músico (Ricco Vianna) dublê de ator, com conceitual parecer intervencionista na progressão dramática, além do ser guitarrista country.
Retomando a cenografia original ( Alicia Leloutre), dois colchões superpostos e descobertos sob luzes brancas vazadas ( Matías Sendon) sugestionam uma câmera cirúrgica. Onde os alterativos pacientes “clínicos”, na recriação indumentária de Marcelo Olinto, seriam individualizados em dois casais cotidianamente vestidos e um cowboy com sua guitarra elétrica, na tipicidade masculinizante de seus trajes.
Numa gramática cênica propositalmente fragmentária, a preciosa direção autoral de Martín Flores Cárdenas prioriza , em crítica e sarcástica perceptividade , o desenrolar-se espontâneo e informal das narrativas. Ora em solilóquios introspectivos ora em dialetações dialogais, na eficácia de uma teatralização confessional de retorno direto e seco .
Em enérgica gestualidade (Manuel Atwell) a performance cativa o público especialmente pelas variações de nuances psicossomáticas , desde o mais corriqueiro estereótipo dos cruzamentos afetivos aos delírios da sexualidade, dos desaforos e desbocamentos aos abusos da corporeidade.
Em que o despojamento cênico concorre pela maior concentração na sintonia textual, musical e coreográfica destes atores/cowboys urbanos. Conduzidos por envolvências tonais blueseiras e countries , num território afetivo de obliquidades e mal entendidos onde o risível e a a violentação não tem fronteiras definidas.
Wagner Corrêa de Araújo
ENTONCES BAILEMOS , em nova temporada, no Teatro Poeira/Botafogo, segunda e terça, às 21h. 60 minutos. Até 21 de fevereiro. Com a entrada do ator Alex Nader, substituindo Gustavo Falcão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário