FOTOS/ROBERTO IKEDA |
“No amor não existe
“tu” nem “eu”. Poder-se-ia , a partir deste pensar filosófico de Krishnamurti, encontrar um mote
reflexivo para o original conceitual mix das relações afetivas, no roteiro
dramatúrgico/musical de 4 Faces do Amor.
Em sua narrativa de nuances confessionais, inspirada no cancioneiro de Ivan Lins, a
proposta autoral de Eduardo Bakr , com o comando artesanal de Tadeu Aguiar e um
elenco de craques do musical brasileiro, um casal de enamorados se desdobra em
outros 3, numa metafórica fusão hetero/ homossexual.
E é assim que os personagens se caracterizam ora pelos
apelidos de Duda que se estende, simultaneamente, a Eduardo e Eduarda, ora
Cacau, servindo ainda, metonimicamente ,
a Cláudia e Cláudio.
O que possibilita com lírica sutileza a passagem , sem muros e preconceitos, dos encontros
apaixonados às inseguranças e conflitos,
dos adeuses aos epílogos, não importando
a prevalência ou especificidade de quaisquer
sexualidades opostas ou homônimas.
Com todas as pulsões
do desejo comunizadas em seus singulares direcionamentos sentimentais
, num reflexo especular, entre a unicidade e a diversidade, da
universalização do romantizado, mas sábio,
enunciado lítero /filosófico de
Stendhal : “o amor
nada pode recusar ao amor”.
Numa minimalista ambientação cenográfica (Edward Monteiro)
, figurinos cotidianos(Ney Madeira/Dani Vidal) e recatadas luzes(Rogério
Wiltgen) ambientais, 4 Faces do Amor
tem seu dimensionamento psicológico na
teatralização sensibilizada das
canções de amores partidos( estilístico signo da obra de Ivan Lins), ponteando
organicamente os versos musicais e os
diálogos dramatúrgicos.
Destilando sua habitual autoridade cênica, Tadeu Aguiar
estabelece seguras marcas sensoriais e estéticas na simbiose e no contraponto de afetos em percursos sexuais
diferenciais. Embora, mesmo explorando a fundo estas mudanças de contornos dos
personagens, não consiga evitar um quase fastio na constância, em idas e voltas
sequenciais, da troca de identidades, climas e situações amorosas.
Contando, ainda, com a sólida estrutura interpretativa de experientes
nomes do teatro musical (Amanda Acosta/Sabrina Korgut, alternando-se o naipe
masculino - Carlos Arruza, Cristiano Galda e Raul Veiga) e de um elegante suporte
instrumental de nuances camerísticas (violino-Anderson Pequeno,violoncelo-Fábio
Almeida e no piano, acumulando com seus sofisticados arranjos, Liliane Secco).
Nos sortilégios do palco uma fórmula mágica em quarteto – dos
Pontos Cardeais da canção de Ivan Lins
aos quatro atores no quadrilátero de situações amorosas- a montagem 4 Faces do Amor se distingue pela
teatralidade espontânea, pelo relevo de sua trilha musical e da maturidade de
seu elenco, que vem lhe garantindo, enfim, sua longa trajetória em cartaz.
Wagner Corrêa de Araújo
4 FACES DO AMOR está em cartaz no Teatro Gláucio Gil, de sexta a segunda, às 20h. 90 minutos. Até 3 de abril.
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