FUERZA BRUTA : POR UM CÓSMICO TEATRO COREOGRÁFICO



Teatro, dança, circo, show, performance, cinema 360 graus. Um pouco de tudo isto cabe na proposta estética do grupo argentino Fuerza Bruta inspirada, pelo coreógrafo/diretor Diqui James, na nuance experimental  de sua precedente companhia De La Guarda.

Na trilha performática do pop/dance/rock do Blue Man Group , dos efeitos percussivos/coreográficos do  Stomp , do mix de linguagens circenses/teatrais do Cirque du Soleil e nas ousadias cênicas do La Fura dels Baus, Fuerza Bruta era o único deles  ainda sem o gosto do público carioca.

Mas se já tinham empolgado a pauliceia em 2015, com o espetáculo Wayra, prometem talvez ajudar,outra vez, a esquentar os tamborins e os ânimos na próxima comissão de frente da Grande Rio. E para isto já estão se nutrindo, potencialmente, das energias rítmicas do AfroReggae em sua atual temporada.

Aliás , são  literalmente explosivas as marcações do AfroReggae para o cadenciar inicial da sequência imagética da tensa acrobacia de corpos soltos no ar. Com suas imersões em provocadoras viagens pelos espaços siderais da "mens sana in corpore sano" de cada observador/participante.

Ainda no uso do palco italiano, uma espécie de maratonista corre numa esteira/estrada, sem princípio e sem fim,  guiado por refletores/faróis que não impedem que ele espatife muros de papelão à sua frente ,derrube bailarinos/marionetes até ser detonado por um tiro sanguinário  no peito.  Um referencial quase intuitivo da violência e  do pânico cotidiano de cada morador desta perigosa cidade maravilhosa.

Em pequenos tablados/palcos laterais, acontecem solos e conjuntos próximos a um perfil popping ao insuflarem ondas corporais , entre a espontânea síncope de braços e pernas e robóticos comandos, com cabos de aços,  que os atiram, acrobaticamente, no espaço como homens/anjos caídos do céu.

Mas o grande delírio  sensorial começa, mesmo, é com um enorme piscina translúcida espacial que, literalmente, vai descendo sobre o público  com as bailarinas/surfistas na água, como se incorporassem, mágica e ludicamente, o memorialismo fílmico  de Esther Williams.

Precedida por uma instantânea citação do glamour das visões  coreográficas, em tempo do cinema musical, de Busby Berkeley,em clima futurista de um showboating de dança aérea sobre uma cortina plástica , sob pulsantes variações luminares estroboscópicas(Edi Pampn).

Para Fuerza Bruta completar sua sofisticação técnica, é essencial a fisicalidade interativa de cada espectador. Num mergulho abissal de cara , coragem e entrega total, neste passeio cinestésico de emoções físico/visuais ao lado dos músicos/atores/bailarinos e de seus mentores artísticos(Diqui James /Gaby Kerpel).

Dançando seus acordes pop/techno/latinos ( Gaby Kerpel) , pulando em meio às ventanias de papel picado, molhando-se  nos chuviscos líquidos, compartilhando a energia gestual e sorrindo com cada um de seus artífices. Pois  se não for assim, pode estar certo que foi parar no lugar errado...

                                            Wagner Corrêa de Araujo



FUERZA BRUTA está em cartaz, no Metropolitan/Barra, quinta às 21h30m;sexta,às 22h30m;sábado, às 19h; domingo às 17h e às 20h. 70 minutos. Até 19 de fevereiro.

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