O CASAMENTO SUSPEITOSO: EM HABILIDOSA TEATRALIDADE


FOTOS/CHICO LIMA 


A maestria de Ariano Suassuna na manipulação dos elementos da tradição popular nordestina atravessou tanto sua obra dramatúrgica como suas incursões poéticas e ficcionais.

Assim, ele alcança , com seu cuidado linguístico e estético na abordagem das tradições nativas, um status criador entre o regional e o universal.

Onde sua escrita revela traços do teatro português pré-colonial à Commedia dell’arte , do romanceiro trovadoresco à literatura de cordel, da representação dos mistérios medievais aos folguedos circenses.

Conectando as raízes da ancestralidade dramatúrgica com os maneirismos e modismos comportamentais do homem nordestino, na sua transmutação atemporal dos valores permanentes do teatro.

No espirituoso aporte do cômico, de  matreira espontaneidade e prevalente dinâmica, e na surpresa do emaranhado de  intrigas , entre o simplório e a inteligente ironia, que marcam a trajetória de seus personagens.

Na comemoração de seus 25 anos, a Cia Limite 151, com seu serial e qualitativo repertório de clássicos do  teatro de todas as épocas, retoma a obra de Suassuna, depois de O Santo e a Porca e Auto da Compadecida. Desta vez, com uma peça – O Casamento Suspeitoso, original de 1957,e  de menor complexidade inventora diante de outras incursões do dramaturgo.

Seu enredo, num cenário matriarcal – a casa de Dona Guida (Maria Adélia) ,mãe de Geraldo( Igor Cosso) – desenvolve a esperta tramoia da jovem de reputação suspeita –Lúcia Renata(Isabella Dionísio) para convencê-lo, aproveitando-se de sua ingenuidade, a se casar com ela.

Estas pretensas núpcias com olhar voltado apenas para a herança do consorte, alertam os seus amigos próximos – Cancão( Gláucia Rodrigues ) e Gaspar( André Arteche) a armarem , então, uma burlesca estratégia  de defesa . Acrescentando-se, ainda, outros personagens, pelos  atores Flávia Faviães, Henrique Juliano,Edmundo Lippi e Hélio Zachi.

Usando e abusando do estilo da farsa, com o os habituais disfarces e trocas de personagens para criar uma sucessão de risíveis equívocos, O Casamento Suspeitoso é conduzido, com a habitual competência artesanal de elenco e direção da Cia Limite 151.

Revelando o seguro senso critico de Gláucia Rodrigues e Wagner Campos num empenho construtor para evitar o risco de inferiorizado alcance interativo - palco/plateia -  na previsibilidade da repetição de fórmulas burlescas deste específico contextual de comicidade. E no seu possível confronto frente ao dimensionamento  psicológico, de mágico e mais factível retorno em outras incursões do autor no gênero .

Com ressalva no menor impacto comunicativo da re/identificação feminina (Gláucia Rodrigues)no personagem Cancão(ao contrário do João Grilo do Auto da Compadecida),a performance consistente e o apuro dos despretensiosos  elementos técnico/artísticos(cenografia/Colmar Diniz, luz/Rogério Wiltgen, música/Wagner Campos) garantem a sinceridade da proposta e o frescor da representação.



O CASAMENTO SUSPEITOSO está em cartaz no Teatro Eva Herz, Cinelândia/RJ, de terça a sábado, às 19 h. 90 minutos. Até 17 de dezembro.


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