LADY CHRISTINY: A APRENDIZAGEM DO SER NÃO SENDO


FOTOS/JANDERSON PIRES

Promíscuos, irreverentes, vagabundos, desajustados , desavergonhados, doentes, são termos comuns  classificatórios dos transexuais nos parâmetros do convencionalismo social.

E quando recorrem a procedimentos cirúrgicos pelo alcance da fisicalidade  sexual a que aspiram, esta  aversão amplia o constrangimento e a intimidação contra o sonho de ser feliz fora de seu determinador genético nascituro.

Fugindo ao estereótipo do travesti como um ser marginalizado na sua natural inclinação a um  comportamento , assaz vulgar e agressivo, quando confrontado em sua opção vocacional por outra genitália, há aqueles que se afirmam por uma postura mais  intelectualizada.

E é assim que , através do deboche verbalizado e de um irônico e mordaz ato do “desmunhecar ” fazem valer sua transgressividade psicológica,   de vivência afirmativa de sua verdade e de seu desejo homossexual.

No enfrentamento das ameaças, através da valoração de seu presencial público como expoentes de aptidões  artísticas, em moldes singularizados, nas personificações   de seu próprio vir a ser em palcos e casas noturnas.

Em outro plano,  no seu cotidiano, trajam-se à moda feminina, muitas vezes numa domesticidade matrimonial quando encontram, para o seu convívio,  o “homem certo”. 

Mas a Lady Christiny ,da concepção dramatúrgica de Daniel Porto, é um personagem transexualizado a partir de sua viva inspiração existencial, com uma trajetória diferenciada por seu pensar e por atos ancorados no conservadorismo moral e religioso.

E é ao “perceber os limites de um personagem e o pertencimento de quem o conta”, que  Alexandre Lino , com fluente e cativante performance, faz da representação de narrativo solilóquio, um dialetal jogo lúdico com a plateia.

Pleno de inesperados e  bem humorados achados onde os “desaforos” comportamentais do personagem tem um tratamento de instintiva  e  simpática malícia capaz, assim, de atenuar as suas exacerbadas e quase incomodas  nuances tradicionalistas.

Com  pausas  gestuais de eficaz mimetização e  entremeado por cenas do curta metragem documental(também da lavra de A. Lino), de teor verista e  com similar titularidade da peça Lady Christiny.

Nessa proposição (Daniel Porto/Alexandre Lino)da  teatralidade de “pertencimento” entre o ser e o não ser , também o  desenho alterativo de luz ( Renato Machado) e figurinos recatados, integralizam uma gramática cênica comandada convictamente   por Maria Maya e que vale ser conferida. 

                                                         Wagner Corrêa de Araújo



LADY CHRISTINY está em cartaz no Teatro Café Pequeno,Leblon, de sexta a domingo, 20h. 60 minutos. Até 30 de outubro.
Em  nova temporada, no Teatro Sesi/Centro/RJ, segundas e terças,às 19h30m. Até 18 de abril.

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