FOTOS/ JOSÉ LUIZ PEDERNEIRAS |
Nas quatro décadas da vitoriosa trajetória do Grupo Corpo raros foram os anos em que a Cia não revelou uma coreografia
inédita que, por uma tradição cênica, sempre foi apresentada em paralelo a uma
criação antecedente.
Fator que nunca gerou qualquer incomodo tanto para o público
como para a crítica pois, ao contrário, acabou, sim, possibilitando um
entusiástico e singularizado impulso comparativo da evolução de sua proposta
estética.
Por outro aspecto, o Corpo
tem um alcance inventivo ímpar na sua linguagem artística tendo, neste quase meio
século de ininterrupta atuação, se pautado pela valorização do substrato nativo. E dando prevalência a nossos compositores com apuradas recriações musicais
pensadas,coreograficamente, como um corpo único,indivisível, mimético.
Destacando-se, ainda, pela reinvenção das danças populares,
tanto as nacionalistas, como aquelas que integram o inventário das danças de
salão, da valsa ao tango e ao bolero, como na obra Lecuona, de 2004 e que está sendo reapresentada junto à Dança Sinfônica de 2015.
Com sua inspirada partitura de Marco Antônio Guimarães, entre a
solenidade barroquista e as pulsões da contemporaneidade, Dança Sinfônica , nas suas construções gestualistas, entre a
rigidez hierática e a soltura física, alcança ricos contrastes coreográficos.
Paixão e sensualidade, domínio e submissão, amor e abandono,
lembrança e melancolia, guiam este encontro de casais em seus duos de boleros,
tangos e valsas, numa coreografia/tributo - Lecuona,
criada em 2004.
Quebrados ora por cores
aquareladas , num essencialista aporte cenográfico com luzes brancas(na dupla
concepção de Paulo Pederneiras), de acentuação plástica do entrelaçar-se da
fisicalidade dos bailarinos.
Nestes doze pas-de-deux,
com sua carga de melodramáticos impulsos amorosos, a criação de Rodrigo
Pederneiras traduz , com elegância técnica e carisma interpretativo, este
contraponto afetivo.
Que culmina na engenhosidade, de forte carga estética/emotiva,da
envolvência de todo elenco como se fosse um só corpo e um só casal , ecoando ,
nesta valsa final, com seu poético reflexo de extensão especular, outra vez, o pensar
lamentoso de Lecuona:
“...No vivo desde aquel
dia em que te vi/Porque nunca he dejado de pensar em ti”.
WAGNER CORRÊA DE ARAÚJO
O GRUPO CORPO está se apresentando no Theatro Municipal/RJ, de quinta a sábado e segunda, às 20h; domingo, às 17h. Até 19 de setembro.
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