FOTOS/CELSO TAVARES |
A lista das fatalidades musicais em viagens aéreas foi inaugurada por Carlos
Gardel, seguida por significativos representantes do jazz e do blues(Glenn
Miller,Stevie Ray Vaughan, Ottis Redding) e pelo rock/pop ,com Rick Nelson, Buddy
Holly e Ritchie Valens.
E é o final trágico
deste último que tem a maior identidade com o acidente de voo que dizimou a banda paulista
Mamonas Assassinas , em 02 de março de 1996.
Enquanto o sucesso de La Bamba tinha acabado de impulsionar a carreira juvenil de Ritchie
Valens, o disco de estreia do Mamonas Assassinas foi o boom
absoluto. Mas primeiro, único e último grande
alento da banda.
E enfim, vinte anos após aquele susto nacional funesto e de
corte laminar da legião de fãs, sobe aos palcos, “O Musical Mamonas”, com roteiro
dramatúrgico de Walter Daguerre e concepção diretorial de José Possi Neto.
Mais com intuito de reviver uma passagem, impulsiva e delirante,do
instantâneo coletivo da juventude musical
popular brasileira, entre os anos 1995/1996.
Numa despretensiosa proposta de teatro musical pelo entretenimento através do
resgate fracionado de uma época.
E que mesmo não tendo força
estética maior , com seu cancioneiro
irreverente , sua ideologia do deboche, sua desbocada linguística, sem censura e pudores, foi capaz,
nesta superficialidade assumida, de abalar os cânones sociais , entre a adesão e o êxtase das
multidões.
Tentando fugir do fato cronológico sequencial, o texto de
Walter Daguerre imprime uma tessitura ironizada e sem meios tons a esta
trajetória artística. Onde explora, com sensível competência, a busca de
caracteres díspares e singulares de um fenômeno da mídia, em anos quase crepusculares
e equivocados da criação musical brasileira.
Mas é o comando mor de José Possi Neto que impulsiona, com
sua habitual competência artesanal, uma incisiva integração cênica de personagens com intencional mix de cafajestismo e ingenuidade, entre o
riso e a tragédia.
Contando com uma bem dosada arquitetura cenográfica(Nello Marrese),
figurinos de vibrante tropicalidade( Fábio Namatame),o colorido das
luzes(Wagner Freire)uma eficiente conduta musical(Miguel Briamonte) ,além da enérgica gestualidade(Vanessa Guillen).
Que , ao lado da desenvoltura da performance, consegue,
assim, superar a quebra da espontaneidade em partes narrativas alongadas e desnecessárias
por sua fragilização do andamento rítmico.
A presença dos cinco personagens /integrantes da banda
Mamonas(Ruy Brissac/Adriano Tunes/Yudi Tamashiro/ Élcio Bonazzi/Artur Ienzura)
e do numeroso elenco coadjuvante tem densidade e coesão ,humor e simpatia,
suficientes para o domínio e cumplicidade da plateia.
Com a prevalência de Ruy Brissac como Dinho. Calibrado,
audacioso, transgressivo em sua irrepreensível entrega , na fisicalidade e no
emocional, a um personagem irradiador da alegre malícia cotidiana e do triste
desalento da fatalidade.
O MUSICAL MAMONAS está em cartaz no Teatro Net Rio/Copacabana, quinta e sexta ,às 21h;sábado, às 17h e às 21h;domingo,às 19h. 150 minutos. Até 28 de agosto.
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