FOTOS/GUILHERME GAZZINELLI |
A propósito da temática veio a referência a uma obra musical,
curta mas emblemática, do compositor americano Aaron Copland –“Fanfarra Para o
Homem Comum “ onde , apenas com metais e percussão, ele faz um expressivo
tributo a um cidadão qualquer, ao mais comum dos homens, àqueles aos quais o
destino não diferenciou de qualquer dos mortais.
Os personagens desta comédia dramática são estes homens
comuns, seres impotentes diante dos reveses do cotidiano vivendo este dia a dia
sem ambições,combatentes mais preocupados em alcançar a vitória na batalha pela sobrevivência material .
Aqui ,o que importa é fazer marchar a máquina da vida
compensando com as alegrias do convívio familiar, a difícil luta existencial,
sem casa própria, com contas a pagar, entre as dores , defeitos e desafetos.E
onde os pais transformam em prêmio a partida dos filhos, ainda que em troca de
solidão e abandono.
Enquanto isto ,este casal idoso(Rogério Freitas/Vera Novello)
vai sendo aniquilado pela carência de recursos que o obriga a trocar o acolhedor
ambiente original do lar por um recanto na casa dos descendentes , primeiro
passo para o isolamento final num asilo de velhos.
A nuance melodramática que o tema faz converger no roteiro
dramatúrgico , tem na versão atual um proposital distanciamento brechtiano ,
simbolizado aqui , ora por um cenário minimalista que evita a prevalência do
realismo ,ora pela presença permanente em cena de todos os atores e,
especialmente, pelo acréscimo de um palhaço( Kadu Garcia) .
Este último com suas instantâneas entradas em cena interfere
na ação,como se interrompesse a trama remetendo à frase operística de I
Pagliacci -"La commedia é finita", provocando assim a reflexão da
plateia. A impotência dos familiares diante do destino reservado ao casal idoso
é acentuada, ainda ,pelo emotivo score musical de Tato Taborda.
E o equilibrado e acertado domínio cênico do elenco
(incluindo -se aí , Isio Ghelman,Paulo Giardini,Ana Velloso,Beth Lamas) torna
visível a inventiva proposta estética da direção de um espetáculo em construção,
onde a cena fatalmente remete ao ato de heroísmo do homem comum arquitetando a
sua própria trajetória existencial.
Wagner Corrêa de Araújo
Wagner Corrêa de Araújo
VIANNINHA CONTA O ÚLTIMO COMBATE DO HOMEM COMUM está em cartaz no Teatro Glauce Rocha, Centro, de quarta a domingo, 19h. 120 minutos. Até 24 de julho.Entrada franca, mediante senhas.
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