FOTOS/JOÃO CALDAS |
“Nós os convidamos para que venham aos nossos teatros e lhes pedimos que
não se esqueçam de suas ocupações (alegres ocupações), para que nos seja
possível entregar o mundo e a nossa visão do mundo às suas mentes e corações,
para que eles modifiquem o mundo a seu critério”.
Um conhecido pensar teatral de Bertold
Brecht que pode servir de referencial à sua obra Galileu Galilei, na sua definitiva versão de 1955. Aqui, o palco
pode ser um fator inexpugnável da discussão dialética , mas sem eclipsar nunca o essencialista ato da diversão.
Nela, Brecht parte da vida do astrônomo
italiano do século XVII que, ao utilizar-se pioneiramente de um telescópio,
promove uma hecatombe doutrinal, religiosa e científica, ao reafirmar como verdade
a teoria do heliocentrismo de Copérnico . Se é a terra que gira em torno do sol
e não o contrário, o homem não é mais o elemento central da Criação Divina e do
Universo.
Perseguido pela Igreja , Galileu só
escapa do suplício inquisitorial ao abjurar sua “teoria sacrílega”. Mas às
ocultas, insistindo em suas pesquisas, ao mesmo tempo se torna uma espécie de anti-herói fingindo acreditar ser mentira o
que considera ser verdade.
Na concepção de Cibele Forjaz o palco
sugestiona, ora um picadeiro circense ora uma passarela carnavalesca alcançando
a plateia, num mix atemporal que une a ambiência pós renascentista à contemporaneidade brasileira.
No impulso estético de tornar
palpável a sensorial conduta dramatúrgica, sem artifícios ou metáforas, de um
teatro questionador da vida, Cibele Forjaz promove o distanciamento através de uma didática do
riso provocador da reflexão crítica. Ampliada,inclusive,pela iluminação(Wagner
Antônio) direcionada no manter armado o olhar do espectador numa, quase incomoda, durabilidade extensiva do espetáculo.
A consistência de um extenso elenco ( Ary França,Lúcia Romano,Théo
Werneck,Maristela Chelala,Vandereli Bernardino,Jackie Obrigon,Luís Mármora,Silvio
Restiffe,Daniel Warren)dá firme esteio ao domínio absoluto , com sotaque
brechtiano de music hall / cabaré e nacionalismo de verve tropicalista, da carismática performance de Denise Fraga.
Capaz, assim , de transcender ,outra
vez nos corações e mentes, a lição de Brecht, através de Galileu Galilei, ao parecer até ter sido escrita para as
controvérsias e contravenções politicas do caos cotidiano próximo de cada um de nós:
“Quem não sabe a verdade é
simplesmente um cretino. Mas quem sabe e diz que ela é mentira, esse então é
mesmo criminoso”.
Galileu Galilei está em nova temporada no Teatro João Caetano, Centro/RJ, de quinta a sábado, às 19h30m;domingo, às 17h30m. 130 minutos. Até 30 de outubro.
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