FOTO/MAURÍCIO MAIA |
“A dança é a arte, a forma de existir, a forma de ser e de
viver que possibilita , como nenhuma outra, essa entrega”, uma reflexão de
Angel Vianna que caracteriza sua pulsão criativa, de toda uma vida, pelo ato criador coreográfico .
Assim, ela já se
destacava, em seus anos mineiros ao lado do partner
de vida e de arte Klauss Vianna, como uma
das integrantes da Geração Complemento
que reunia gente de dança, teatro, literatura e artes plásticas,num envolvente
fluxo de experiências inventivas.
De Belo Horizonte, onde o casal Vianna deixou sua postura libertária por uma dança de olhar contemporâneo, Klauss e Angel seguem para
Salvador desenvolvendo, ali, arrojados experimentos a caminho de um pensar
coreográfico aberto a outras linguagens artísticas.
Chegando, finalmente , ao Rio em época controvertida dos anos
iniciais da ditadura militar. Aqui , começaria sua trajetória de mais de
meio século, revelando-se , de modo ímpar, num procedimento inédito de
aproximação do teatro com o que se titulou, inicialmente, de preparação corporal do ator.
Este uso do corpo como forma de comunicação, seja na dança,
seja no teatro ou no próprio comportamento cotidiano, fez de Angel uma ilustre
continuadora das teses filosóficas desenvolvidas, então, pelo escritor francês
Roger Garaudy em torno da “dança como um modo de viver”.
E numa visível expertise , na concepção do dançar como um
descortino das verdades interiores pelo uso quase laboratorial e de auto
conhecimento corporal, tornando-se um signo comportamental e estético de seu
trabalho.
E é a partir deste caminhar existencial/artístico de Angel identificando-se , de forma intimista, com a própria história do Rio de Janeiro que
ela, afetivamente, adotou como sua cidade, que se desenvolveu o
espetáculo/performance Amanhã é Outro
Dia.
Com sensorial dramaturgia e direção de Norberto Presta capaz
de inspirar, com ritmo e elegância, uma sólida pesquisa da voz e da
fisicalidade. Em torno de uma protagonista mor e por um teatro de dança indicador de transcendência .
Aliado a uma eficaz aproveitamento do espaço cênico , tanto pela referencialidade das luzes(Aurélio de Simoni), entre projeções
documentais, como da tonalidade propícia do figurino (Renata Lamenza),além de
uma sensível trilha sonora autoral do
Duolhodágua ,com citações, inclusive, de temas do balé clássico.
Especialmente na simbólica troca de uma sapatilha pelos pés nus, como passagem do acadêmico ao moderno e nos movimentos circulares numa cadeira de rodas, é com a emotiva entrega da intérprete/personagem(Angel
Vianna) que a proposta assume , na
despretensão de sua narrativa vocal e gestual, um caráter de exponencial mocidade, vigor e beleza.
Para um memorial
autobiográfico de tão longo e maduro percurso, pela sua intencionalidade de significativa
instauração , enfim, de uma “dança que já está no corpo”.
FOTO/LEO MARTINS |
AMANHÃ É OUTRO DIA está em cartaz no Espaço Sesc, Copacabana, de quinta a sábado, 21h; domingo, Às 20h. 50 minutos. Até 5 de junho.
NOVAS TEMPORADAS: Centro de Artes da Maré, 11 e 12 de junho.
Teatro Angel Vianna /Centro Coreográfico da Cidade do Rio de Janeiro, 24 de junho a 3 de julho.
Teatro Angel Vianna /Centro Coreográfico da Cidade do Rio de Janeiro, 24 de junho a 3 de julho.
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