O LIVRO DOS MONSTROS GUARDADOS: NOSSAS LOUCURAS COTIDIANAS

FOTOS BY LEO VIANA
 

"Quando eu era criança eu achava que os monstros se escondiam nos armários e embaixo da cama. Mais tarde eu descobri que eles moravam dentro das pessoas”, prólogo elucidativo de Rafael Primot  para as histórias ficcionais no seu  “O Livro dos Monstros Guardados”.


Através de sete  monólogos, a narrativa literária é transmutada na cena teatral , mantendo a titularidade original da obra, numa versão dramatúrgica, sob um dúplice comando - Rafael Primot/ João Fonseca.

Com sete personagens/atores  nominados pelo M maiúsculo : Madá (Laila Zaid),Magali( Carolina Pismel),Milton( Jefferson Schroeder),Maurício (Guilherme Gonzalez), Max ( Rafael Primot) ,Mestre M(Leandro Daniel Colombo) e Mojo (Erom Cordeiro).

Todos identificados por plaquetas em espaços inicialmente rígidos que, vez por outra, são invadidos . Em rara interatividade , na isolada prevalência frontal dos intérpretes e nas equivalentes posturas conceituais de  protagonizações.

Na minimalista concepção de Nello Marrese (cenário/figurinos) de restritos elementos cenográficos, sob um discricionário desenho de  luzes (Adriana Ortiz), ora vazadas em plano geral,  ora em focos individualizados.

Quase sempre  numa  linha sequencial do formato de monólogos confessionais, passíveis de se cruzarem . Entre o caráter auto documental de cada personificação e o livre imaginário do leitor/espectador , de difícil escape numa transposição livro>palco.

A grande mágica da proposta  está na assimilação transacional, do autor  Primot (dublê de ator) com o diretor João Fonseca numa convergência criativa,  de um teatro literário  transformado em  “teatro teatral”(repetindo Meierhold). Sem perder o referencial da  subjetividade literária na verbalização pelos códigos de cena.

No clima   delirante e caricato de tipos psicanalíticos como o neurótico por assepsia, o atropelador de cachorros, o louco por opção domiciliar, o exacerbado sexualista, a adolescente falsa ingênua, o disfuncional da uretra, a manipuladora de carências físico/afetivas.

Universo caótico, cético, opressivo, pelo  humor negro a partir  das manifestações instintivas da condição humana. Alcançando meticulosas composições no desempenho coeso do elenco  e na imposição provocadora de seus personagens.

Estas imagens fragmentárias de desvarios,   em  intencional envolvência no mundo do grotesco,simultaneamente  provocam o riso ironizado, fazendo-nos t(r)emer a libertação de nossos monstros interiores.

Pois, afinal, no reflexivo lastro do absurdo teatral de Samuel Beckett:

Todos nós nascemos loucos. Alguns permanecem .”



 O LIVRO DOS MONSTROS GUARDADOS está em cartaz no Centro Cultural Justiça Federal,Centro, quarta e quinta, às 19 h. 70 minutos .  Até 4 de fevereiro.

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